Bom Senso FC lança nota para os candidatos a presidência da República

  • Por Jovem Pan
  • 21/10/2014 15h56
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Jogadores do Bom Senso FC ainda se encontraram com o deputado Romário na Câmara

Twitter/Reprodução Bom senso Fc protesta contra Lei de Responsabilidade Fiscal

O Bom Senso publicou, nesta terça-feira, uma carta aberta para Dilma Rousseff e Aécio Neves, os candidatos à Presidência da República. No texto, o grupo formado por atletas, treinadores e executivos do futebol pede que os políticos assumam o compromisso para o desenvolvimento do esporte, no texto está bem claro: “É preciso que o Estado assuma o seu papel no desenvolvimento do esporte”. 

O movimento, que surgiu há um ano da iniciativa de um grupo de jogadores insatisfeitos, defende que o poder público tem de limitar o poder das entidades que comandam o setor. No texto publicado nesta terça, o Bom Senso fala em “problema social”.

O grupo ainda mostra toda a sua insatisfação com o número de 80% de jogadores ficarem desempregados no meio do ano: “Em nenhuma outra categoria profissional aproximadamente 80% de sua força de trabalho fica desempregada ou subempregada sistematicamente por 6 ou 7 meses ao longo do ano, sem que nenhuma atitude das autoridades públicas seja tomada. É inadmissível que isso ocorra em um país que se orgulha de ser a 7ª economia do mundo”, disse a carta aberta.

Confira na íntegra a carta aberta do Bom Senso FC:

CARTA ABERTA AOS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Exma. Sra. Dilma Rousseff e Exmo. Sr. Aécio Neves,

No ano em que o país recebeu a 20ª Copa do Mundo do Futebol, os 7 gols da Alemanha pintaram o retrato das décadas de autoengano que vive o nosso futebol. Na nossa própria casa, o visitante veio nos escancarar a enorme fragilidade daquele que, apesar de tudo, ainda é um dos nossos maiores patrimônios culturais.

Temos um ativo econômico, esportivo e cultural que, mesmo mal aproveitado, é altamente consumido. Aquilo que é sonho para tantas modalidades esportivas, é realidade para o futebol: temos tempo de exposição na TV e no rádio, patrocinadores nacionais e estrangeiros e, sobretudo, milhões de apaixonados que consomem diariamente esse produto. No entanto, paradoxalmente, essa alta demanda não resulta em desenvolvimento para as várias dimensões do futebol brasileiro.

Sabe-se que há muito tempo o futebol virou negócio, mas, no Brasil, um negócio bastante peculiar e cheio de contradições mal resolvidas. Vivemos aqui o amadorismo de carteira assinada. Embora o negócio movimente cerca de R$ 11 bilhões por ano, não se sabe para onde vai boa parte dos recursos. O que se sabe é que a gestão amadora não tem sido capaz de financiar o desenvolvimento desse esporte no país.

As contradições não param por aí. Mesmo em um cenário de aumento significativo de receitas, os principais clubes brasileiros foram capazes de aumentar em quase 100% suas dívidas nos últimos 5 anos, sendo que, apenas ao governo, eles devem cerca de R$ 4 bilhões.

Outro sinal desta situação esdrúxula e inaceitável — mas nem sempre evidente — é o futebol ter se tornado um problema social no país. Isso mesmo!

Em nenhuma outra categoria profissional, aproximadamente 80% de sua força de trabalho fica desempregada ou subempregada sistematicamente por 6 ou 7 meses ao longo do ano, sem que nenhuma atitude das autoridades públicas seja tomada. É inadmissível que isso ocorra em um país que se orgulha de ser a 7ª economia do mundo.

O que se observa hoje é consequência do acúmulo de descasos. Não podemos investir mais de R$ 50 bilhões do dinheiro público em Copa do Mundo e Olimpíadas para, em seguida, não nos comprometermos com um plano de política pública para o esporte. Ativa ou passivamente, o desenvolvimento do futebol passa pelas mãos do Poder Público. E a legislação esportiva tem grande influência sobre o atual estágio desse esporte.

A autonomia conferida às entidades que administram o esporte tem se mostrado contraproducente, criando um panorama engessado, dentro do qual a mera suspeita de renovação soa como desvario. Hoje, o futebol brasileiro é refém de um conjunto de estruturas arcaicas sem qualquer comprometimento com transparência, eficiência e participação democrática. São entidades que trabalham exclusivamente em favor da manutenção de seu poder. Não podemos aceitar estruturas fechadas, autoritárias e sem nenhuma legitimidade à frente do Esporte Brasileiro no século XXI.

A despeito da estranha tranquilidade dos responsáveis, a vergonhosa derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo é sim o resultado de anos de negligência com esse esporte. Deixando aqui registrado que, apesar do grande alvoroço diante da derrota histórica, até o presente momento nenhum responsável se incomodou ao ponto de apresentar uma solução, considerando o episódio uma mera fatalidade.

É preciso que o Estado assuma o seu papel no desenvolvimento do esporte.

Por isso que nós do Bom Senso Futebol Clube, movimento que reúne mais de mil atletas profissionais em luta por um futebol melhor e que já conta com o apoio de inúmeros setores da sociedade, pedimos, através desta carta aberta, o compromisso explícito dos senhores, atuais candidatos à Presidência da República, com as bandeiras de reforma e democratização das entidades que administram o futebol brasileiro.

Ficamos no aguardo de vossos posicionamentos, na convicção de que este apoio ao futebol e ao esporte brasileiro significa também a esperança para a democracia em toda a nossa sociedade.

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