Fora da seleção da França, Benzema diz que Deschamps se curvou à pressão racista

  • Por Estadão Conteúdo
  • 01/06/2016 11h41
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Agência EFE Karim Benzema - Agência EFE

O atacante Karim Benzema acusou o técnico Didier Deschamps de ceder à pressão dos racistas ao decidir não incluí-lo na lista de convocados da seleção francesa para a Eurocopa. Em uma entrevista ao jornal esportivo espanhol Marca, publicada nesta quarta-feira, Benzema disse que não acredita que Deschamps seja racista, mas que ele “se curvou à pressão de uma parte racista da França”. 

Benzema está suspenso da seleção francesa por causa de seu envolvimento em um esquema de extorsão envolvendo a gravação de uma relação sexual de Mathieu Valbuena, que também ficou fora da convocação. 

“Eu gostaria de jogar pelo meu país, mas, infelizmente, isso é impossível”, disse Benzema. “Perder a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul foi um revés, mas a Eurocopa em casa é ainda mais difícil. Esta é uma das maiores decepções que tive, sem dúvida”.

A declaração polêmica não deve ajudar a melhorar a já bastante afetada imagem de Benzema em seu país, tanto que já provocou repercussões. O secretário de Estado para o Esporte da França, Thierry Braillard, disse no Twitter que a declaração de Benzema é “injustificada e inaceitável. Apoio total para a FFF (Federação Francesa de Futebol) e Didier Deschamps”. 

Os comentários de Benzema repetem o tom adotado pelo craque francês Eric Cantona na semana passada, quando ele disse que Deschamps poderia deixar Benzema e Hatem Ben Arfa fora da convocação por questões raciais. Ben Arfa marcou 17 gols em 33 partidas do Campeonato Francês nesta temporada, mas não foi selecionado por Deschamps para o torneio continental, que começará em 10 de junho na França. 

Deschamps tinha muitas opções ofensivas à sua disposição e convocou seis atacantes – Antoine Griezmann, Dimitri Payet, Anthony Martial, Kingsley Coman, Olivier Giroud e André-Pierre Gignac. O advogado do treinador afirmou que Cantona será processado por sua declaração. 

Benzema, que ganhou a Liga dos Campeões da Europa com o Real Madrid no último sábado, disse que o contexto político na França, onde a extrema direita tem ganhado força política ao longo dos últimos anos, joga contra ele.

A Frente Nacional, partido de extrema-direita, anti-imigração e liderado por Marine Le Pen, é cada vez mais popular na França, com a expectativa de que vá ao segundo turno na eleição presidencial do próximo ano. O partido foi o mais votado nas eleições regionais e europeias no ano passado, mas as manobras de partidos tradicionais o impediram de ganhar qualquer governo estadual e também devem deixar Le Pen longe da presidência.

Além disso, o partido ataca o que chama de “islamização” da França e quer que o país deixe de usar o euro como sua moeda e abandone a União Europeia, embora utilize o Parlamento Europeu para divulgar seus discursos, fazendo parte de um bloco mais à direita. “Você tem que saber que, na França, o partido extremista chegou ao segundo turno nas duas últimas eleições”, disse Benzema.

No início deste ano, o presidente da Federação Francesa de Futebol, Noel Le Graet, afirmou estar chocado com o ódio racial expresso em e-mails recebidos em que se dizia que Benzema não deveria ser convocado. 

Benzema, que tem 27 gols marcados em 81 partidas pela seleção francesa, também ficou fora da Copa do Mundo de 2010. Raymond Domenech, então técnico da equipe, não o chamou na esteira de outro escândalo, quando o atacante e Franck Ribery eram alvos de uma ação judicial por terem solicitado os serviços de uma prostituta menor de idade. Ambos foram absolvidos. “A França vai perceber que foi injusta comigo”, disse.

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