Cuca chega ao Corinthians sob protestos, diz que é inocente, mas se arrepende de 30 anos de silêncio

Em sua primeira no Timão, técnico praticamente só falou sobre o caso de estupro na Suíça, atrapalhou-se ao citar campanha ‘Respeita as Minas’ e questionou se deve algo à sociedade

  • Por Jovem Pan
  • 21/04/2023 19h44 - Atualizado em 21/04/2023 23h38
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Rodrigo Coca/Agência Corinthians Cuca de boné da nike e jaqueta do Corinthians Cuca foi apresentado no Corinthians nesta sexta-feira, 21

Enquanto Cuca ainda se preparava para adentrar a sala de entrevistas do centro de treinamento do Corinthians, no Parque Ecológico, um protesto do lado de fora ressoava palavras nada elogiosas ao novo treinador do Timão, apresentado nesta sexta-feira, 21, em clima tenso. Faixas com fortes dizeres, como “respeitem as minas” e “não estuprem o Corinthians”, foram estendidas entre as dezenas de torcedores (a maioria do sexo feminino) que se manifestaram contra a contratação. A primeira entrevista coletiva do paranaense de 59 anos foi quase toda permeada pelo caso de ato sexual com vulnerável, de 1987, quando Cuca ainda era do Grêmio. Ele e mais três jogadores da equipe gaúcha ficaram presos por quase 30 dias na Suíça sob acusação de terem violentado uma garota de 13 anos. A vítima, no entanto, nunca reconheceu o ex-meio-campista. Condenado dois anos depois, ele afirma que foi julgado à revelia e nega as acusações. “Eu faço questão de falar sobre este caso e vou tentar ser o mais aberto possível. Aconteceu há 30 anos (sic), em 1987. Estava emprestado do Juventude ao Grêmio, fiquei uns 20 dias para tirar o passaporte. Tenho vaga lembrança de tudo o que aconteceu porque foi há muito tempo. Nessa vaga lembrança que tenho, nós iríamos jogar uma partida, subiu uma menina ao quarto em que eu estava junto com outros jogadores. Era um quarto duplo. Essa foi a minha participação nesse caso. Eu sou totalmente inocente, eu não fiz nada”, disse.

Cuca frisou que a Justiça suíça não usou “estupro” na sentença. Ele e seus companheiros Henrique e Eduardo foram condenados a 15 meses de prisão e ao pagamento de multa de US$ 8.000 cada um. Considerado cúmplice, Fernando pegou três meses de prisão e multa de U$ 4.000. O quarteto, que se ausentou do julgamento, foi defendido por Luiz Carlos Pereira Silveira Martins, o Cacalo, que na época era dirigente do Grêmio. Nenhum deles cumpriu a pena. “As pessoas falam que houve um estupro. Houve um ato sexual a vulnerável. Essa foi a pena. A gente vê e ouve um monte de coisas que são inverdades, que chegam a ofender. Eu vou fazer 60 anos daqui a um mês, tenho duas filhas, uma de 32 e outra de 34. Elas nem existiam [quando aconteceu], já era casado com a Regiane e sou casado até hoje. Venho de uma casa onde sou o único homem da casa. Respeitei e respeito todas as mulheres. Nunca encostei o dedo indevidamente em uma mulher. Nunca!”, enfatizou. “Ao longo de todos esses anos que vivo na bola, já trabalhei com vocês da imprensa, já estive em diversos clubes, já estive duas vezes no São Paulo, no Santos, no Palmeiras… Nunca me foi perguntado isso numa coletiva, não é só o Cuca que não falou do tema. Por quê? Porque naquele tempo as leis eram as mesmas.”

Sobre os protestos, o novo treinador do Corinthians não só os considerou justos como deu a Duílio Monteiro Alves, o presidente do clube, uma última chance de rever a contratação. Pelo menos foi o que Cuca disse na entrevista, sem nenhuma constatação do dirigente. “O Duílio me falou que haveria protestos. Perguntei a ele se queria rever a contratação. Eu estava predisposto a vir, mesmo por conta disso. Eu não vou ficar em casa me escondendo, eu não fiz nada. Eu sou inocente, estou com a consciência tranquila. Meu erro foi não ter ido ao julgamento, eu fui saber depois de um ano que teve uma pena. Dizem que eu devo uma desculpa a sociedade. Por quê? Dois anos depois eu estava jogando na Espanha. Por que não aconteceu nada?”, questionou o técnico. Durante a entrevista, ele bateu na tecla de que não deveria ter se mantido em silêncio entre 1987 e 2021 — sua primeira e até então única entrevista sobre o assunto foi há dois anos, para a jornalista Marília Ruiz. “Vocês estão falando que teve condenação e eu fiquei aqui no Brasil. Não é verdade isso, eu tenho o advogado do Grêmio, o Cacalo está lá e pode te falar. Tem 200 mulheres ali? Lá no Galo também tinha e eu não me acovardei. Não tenho orgulho de estar passando por uma situação dessa, não é fácil para mim saber que minhas filhas e minha mãe estão vendo a entrevista. […] A palavra da mulher era de que o Cuca não estava lá. Ela disse que eu não estava, eu estou falando que não estava. Se a vítima disse que eu não estava — e eu juro por Nossa Senhora, que eu amo —, como é que eu posso ser condenado pela internet? Se tivesse acontecido agora, ia me favorecer muito. Você ia ouvir a moça: ‘Não, ele não estava. Não, ele não estava. Não, ele não estava’. Foram três vezes. Pronto. Eu já estou absolvido. Hoje tem 200 mulheres me condenando pelo quê? É difícil, mas não vou desistir […] Hoje, pode ter protesto e eu, sinceramente, vou passar por cima de tudo. Se não tiver, vai ser mais fácil para que eu fique fortalecido.”

Ainda sobre os protestos, Cuca destacou a verve corintiana para se engajar em movimentos sociais, mas tropeçou na hora de citar a campanha “Respeita as Minas”, lançada pelo Corinthians em 2019. “Quero poder cada vez mais ajudar. Por isso estou aqui, um time que tem 53% de torcida feminina. Um time que tem a causa aí, até anotei aqui, como é que é? Respeita as minas.” Pouco tempo depois, o treinador voltou a se esquecer do slogan. Mas assegura: “Essa causa eu quero abraçar, até para a proteção da minha família. Tudo isso machuca muito, mas do fundo do meu coração, pode ter protesto, pode ter o que for, não é maior do que a vontade que eu tenho de estar aqui”.

Confira a cobertura da Jovem Pan sobre a chegada de Cuca ao Corinthians

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