‘Cria’ de Guardiola, Torrent deve mudar a forma como o Flamengo ataca; entenda

Se, por um lado, Jorge Jesus gostava de um setor ofensivo móvel, com os jogadores se aproximando e trocando de posição, por outro, o provável novo técnico rubro-negro é adepto ao Jogo de Posição, espécie de “mantra” do Guardiolismo

  • Por Bruno Landi
  • 29/07/2020 14h05 - Atualizado em 29/07/2020 15h04
Divulgação Domènec Torrente chegou a um acordo com o Flamengo e será anunciado como novo técnico rubro-negro nos próximos dias

“Ele é fluente em cinco línguas: espanhol, catalão, inglês, alemão e… Guardiola”. A frase escrita pelo site americano The Portal resume bem o que o Flamengo pode esperar do seu provável novo treinador. Ex-auxiliar de Pep Guardiola, o espanhol Domènec Torrent, de 58 anos, é um entusiasta do estilo de jogo que encantou o mundo sob a batuta do técnico catalão em Barcelona, Bayern de Munique e Manchester City. O escolhido pela diretoria rubro-negra para substituir Jorge Jesus não deve interromper o excelente trabalho do antecessor, é verdade, mas tem, é claro, algumas diferenças com relação ao português no que se refere a questões táticas. A principal delas diz respeito à forma de se atacar. Se, por um lado, Jesus gostava de um setor ofensivo móvel, com os jogadores se aproximando e, muitas vezes, trocando de posição, por outro, Torrent é adepto ao Jogo de Posição, espécie de “mantra” do Guardiolismo que defende que os atletas devem guardar lugar no campo e rodar a bola até que o espaço seja encontrado. O estilo é semelhante ao de Jorge Sampaoli e Marcelo Bielsa, por exemplo.

Quem explica melhor é o comentarista Bruno Prado, do Grupo Jovem Pan. “As referências que temos do Torrent, é claro, estão ligadas ao trabalho do Guardiola. Ele segue as ideias do treinador catalão… Ideias que são diferentes das do Jorge Jesus. E diferentes não no sentido de ofensivo ou defensivo, porque ambos têm ideias ofensivas, mas na forma de se atacar. O Torrent é adepto ao chamado Jogo de Posição, que, basicamente, diz que um jogador deve ficar na sua posição esperando que a bola chegue até ele. Então, os jogadores ficam mais distantes para distanciar a marcação adversária. Por exemplo: se a jogada está saindo pelo lado direito, o ponta esquerda segue bem aberto pelo seu lado e não se aproxima de onde a bola está. Ele segue na posição para abrir a defesa rival, ter um adversário preocupado com ele e não deixar a defesa tão compacta. Ao mesmo tempo, se uma inversão de bola é feita, o ponta esquerda recebe com mais espaço, tendo a oportunidade de jogar no mano a mano e criar uma chance de gol”, afirmou.

“Já o Flamengo do Jorge Jesus atacava de uma maneira diferente. O time tinha um volante mais marcador, que era o Willian Arão, uma linha de três meias e, mais à frente, os dois atacantes. O Gerson ditava o ritmo, e Everton Ribeiro e Arrascaeta vinham para dentro, para articular e se associar a Bruno Henrique e Gabigol. Então, o Flamengo, quando atacava, tinha esses jogadores muito próximos entre si e mais perto da bola. Eles se aproximavam para atacar, e a linha de fundo ficava mais para os laterais. Era um movimento diferente”, acrescentou. “Tem essa pequena diferença, mas nada que não possa ser adaptado. Não acho que o Torrent vai chegar e desfazer tudo que o Jorge Jesus vinha fazendo, até porque o time vinha muito bem. Mas, aos pouquinhos, ele vai colocar as suas ideias em prática. Não existe nenhum técnico exatamente igual a outro”, finalizou.

Quem pensa que o Flamengo vai se tornar um time rígido e com pouca mobilidade, no entanto, está bem enganado. No Jogo de Posição, a única diferença é que o foco da movimentação é a bola, e não os jogadores. “Estar bem posicionado, ocupar bem os espaços, é importante para circular a bola”, explicou o próprio Torrent, em entrevista em maio ao jornal Olé, da Argentina. “Por que o Barcelona podia jogar com dois toques? Porque os jogadores, além de sua qualidade individual, estavam bem posicionados e assim encontravam apoios. Às vezes, diante de defesas retraídas, você tem que mover a bola para encontrar os espaços e atacar. Perguntem aos jogadores se eles têm liberdade ou não com essa forma de jogar. Eu não conheci ninguém que tenha dito que se sentia limitado com o estilo de jogo do Pep”, acrescentou.

Domènec Torrent tem 58 anos e apenas uma experiência como treinador: no New York City, dos Estados Unidos, clube pelo qual trabalhou de junho de 2018 a novembro de 2019. Lá, ele foi líder da Conferência Leste da MLS e eliminado na semifinal para o Toronto, em jogo único, com derrota por 2 a 1. Em 60 partidas na equipe americana, o espanhol acumulou 29 vitórias, 15 empates e 16 derrotas, com 104 gols marcados e 76 sofridos. Antes disso, Torrent foi auxiliar de Pep Guardiola por dez anos e, muitas vezes, era o responsável por aplicar os treinamentos de campo aos jogadores de Barcelona, Bayern de Munique e Manchester City.

 

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