CT do Flamengo tinha ‘gambiarra’ no ar condicionado, diz sobrevivente
Em depoimento à Polícia Civil, um dos sobreviventes do incêndio no CT do Flamengo revelou que havia uma “gambiarra” em um ar condicionado do local. E todos relatos feitos até agora apontam que a tragédia começou exatamente em um aparelho desse tipo, instalado no alojamento (seis contêineres transformados em dormitórios e que ficavam em uma parte que deveria ser um estacionamento). As informações foram divulgadas em uma reportagem da Rede Globo.
De acordo com o sobrevivente da tragédia, o aparelho de ar-condicionado seria menor do que o buraco na parede. O espaço que sobrou teria sido preenchido com pedaços de madeira, plástico bolha e espuma. O programa procurou um especialista em segurança para comentar a reportagem.
Moacyr Duarte afirmou que isso pode ter contribuído para que o ar entrasse por frestas na parede e alimentasse as chamas. “Esse tipo de ar-condicionado tem a parte do condensador fora do ambiente, ele passa exatamente sobre o sanduíche do material isolante. Temos um acabamento padrão de alumínio, que tem característica de resistência de passagem de calor. Se não houvesse isso ou se tiver a possibilidade da chama gerada entrar em contato com o material que está dentro do sanduíche, o que vai acontecer é que vai estabelecer uma queima semelhante a um forno de carvão. Ou seja, uma queima com muito pouco ar”, contou
“À medida que vai tendo a evolução da linha de queima para cima, você vai puxando o ar pelas frestas. Isso vai alimentando aquela combustão lenta até que, quando chegar na extremidade da junção de placa, o próprio calor gerado começa a dilatar as frestas e o ar entra”, prosseguiu o especialista.
Nos contêineres onde os atletas do Flamengo viviam, as paredes eram feitas com duas chapas de metal e o espaço entre elas é preenchido com espuma de poliuretano, que, em tese, deveria funcionar como isolante térmico e cáustico. Em nota oficial enviada, o clube carioca afirma que “os contêineres que incendiaram na sexta-feira no CT do clube não continham material que favorecesse a propagação de chamas”, já que o material usado entre as placas de metal das paredes do dormitório possuiriam “característica auto-extinguível”.
Contudo, ao entrar em contato com o fogo, o poliuretano provoca fumaça e libera gás cianeto, substância extremamente tóxica, que provoca asfixia química e morte em quem o inala. Os sobreviventes afirmaram aos investigadores que tiveram muita dificuldade para acordar e para despertar os outros atletas e sentiam como se eles estivessem desmaiados.
Outro problema apontado pelo programa foi que havia apenas um monitor de plantão para tomar conta dos 24 jovens que dormiam no local. O Conselho Nacional da Criança e do Adolescente prevê que é necessário um tutor para cada dez menores. Além disso, a legislação exige a presença de uma equipe noturna acordada e atenta a eventuais problemas.
Com Estadão Conteúdo
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