Ex-Palmeiras já viu jogadores com faturas de R$ 800 mil no cartão

  • Por Jovem Pan
  • 04/03/2019 10h03 - Atualizado em 04/03/2019 10h04
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Divulgação AAPP Tiago Real ajuda companheiros de profissão

Recentemente os jogadores de futebol passaram a contar com assessores financeiros para administrarem as riquezas que recebem dos clubes. Essas empresas sugerem corte de gastos, compras de imóveis, verificam contratos e planejam o futuro do atleta, quando ele já estiver aposentado – geralmente perto dos 35 anos.

Tiago Real, meia que já defendeu o Palmeiras e hoje está na Ponte Preta, é sócio da Planner, uma assessoria financeira especializada em jogadores de futebol. O grupo atende desde atletas que ganham menos de R$ 10 mil por mês até nomes com vencimentos próximos a R$ 1 milhão. Durante o trabalho, a empresa encontrou casos de jogadores com faturas de cartão de crédito no valor de R$ 800 mil, falta de recursos para pagar as pensões de ex-mulheres, excesso de gasto com carros e desperdício com fretamento de avião para visitas de parentes.

O lateral-esquerdo Mansur, do São Bento, passou a contar com esse serviço no ano passado. Após abrir suas contas, o atleta descobriu que poderia deixar de desperdiçar dinheiro. “Eu tinha cartões de crédito e contas abertas em vários bancos. Tinha em Salvador, Belo Horizonte, Curitiba e Aracaju. Decidi acabar com isso. Coloquei tudo em uma mesma agência e reduzi o gasto”, contou.

Mansur disse ter mudado de opinião após conversar com o consultor sobre investimentos. Em vez da tradicional escolha por imóveis, ele descobriu um novo ramo. “Não adianta só comprar apartamento. A gente se muda muito de cidade e gastaria muito com reformas. Passei a conhecer opções de investimento fora do banco, algo que nunca tinha ouvido falar”, diz.

Para cada um desses casos, a empresa procura propor soluções simples e ensinar o cliente a colocar na ponta do lápis todos os gastos. “A maioria dos atletas precisa de ajuda e tem de ser alarmado. O futebol consome o jogador, e ele esquece de pensar no futuro”, explica Tiago Real. Uma das sócias dele, a gestora de risco Sandra Ganzert, é a responsável por apresentar ao atleta os planos financeiros que combinam com sua condição. Entre os clientes, estão Jailson, do Palmeiras, Hudson, do São Paulo, e Fábio Santos, do Atlético-MG.

Sandra conta que considera a atuação da empresa importante também para os clubes, principalmente quando se trata de ajudar na mudança de cidade do jogador. “A estimativa é que atleta leve 45 dias para se instalar numa cidade com a família. Esse período é devastador para o clube. Por isso, é bom ter ajuda. O jogador só precisa se preocupar com o futebol”, afirma.

O vínculo do jogador com o profissional que vai cuidar de suas finanças vai além de acompanhar o saldo do cartão de crédito e aplicações. Quem contrata o serviço dessas empresas pode pedir para um funcionário preparar sua mudança de cidade, por exemplo, ao procurar o imóvel planejado, assim como criar um mapeamento das comodidades no novo bairro e das melhores escolas para os filhos.

O ramo de assessorias especializadas em ajudar jogadores começou a se fixar no mercado há menos de dez anos. Está crescendo. Segundo pessoas ouvidas pelo Estado, o cliente pode remunerar o consultor de três formas: porcentagem sobre o total do patrimônio administrado, comissão sobre cada um dos serviços realizados e um valor fixo por mês, que costuma ser de até R$ 5 mil.

Uma das primeiras empresas na área foi a Redoma Capital, criada há sete anos, e que teve no início das operações a participação dos jogadores Paulo André e William Machado, que atualmente trabalha em outro projeto semelhante. O diretor executivo da empresa, Henning Sandtfoss, administra hoje as finanças de 40 clientes, dos quais cerca de metade joga no exterior.

Na opinião dele, se por um lado os jogadores ganham bons salários e em moedas estrangeiras, eles são os responsáveis por sustentar várias pessoas da família. Tem mais. Por serem famosos, viram alvo de golpes.

“O atleta quando vai contratar um serviço ou comprar um bem, ele é explorado. A pessoa costuma ver do outro lado um cifrão (na sua testa), e não um cliente comum. Por isso a gente blinda o atleta e faz as negociações. Ele não aparece. Qualquer coisa que um atleta tentar comprar será mais caro só porque ele é atleta”, diz o executivo.

Embora os casos de desperdício sejam numerosos, o empresário considera que há um cenário de mudança, com mais informação para os jogadores procurarem uma educação financeira e evitar repetir histórias ruins de colegas de outras gerações.

Com Estadão Conteúdo

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