O que Dudu vai encontrar no Catar: calor de 50°C, ‘bola quadrada’ e disputa com Xavi
Recém-contratado pelo Al Duhail, atacante terá companheiros de baixo nível técnico no país do Oriente Médio; ex-Barcelona e Diego Aguirre serão técnicos adversários do brasileiro na liga
Dudu vestiu as cores do Palmeiras por cinco anos e meio, participou de títulos importantes e se tornou o maior artilheiro do clube alviverde no século XXI. Agora, o atacante deixa a capital paulista e o futebol brasileiro para viver no Mundo Árabe. Negociado com o Al Duhail, da primeira divisão do Catar, o jogador passará por situações inusitadas, como treinar sob um calor de mais de 50 graus Celsius. Quem garante é o centroavante Kayke, brasileiro que integra o time do Qatar SC desde setembro do ano passado. Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, ele contou que a alta temperatura no país do Oriente Médio será o maior desafio de Dudu no começo da sua trajetória. Devido à pandemia de Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, a liga local será retomada no final de julho, durante o verão no país, quando a sensação términa chega a 60 graus Celsius.
“Nesta época, no Mundo Árabe, não costuma ter campeonato. Na história, é a primeira vez que está existindo campeonato neste período. É quase impossível. É desumano o que estamos passando dia a dia para concluir os treinamentos, para concluir as sessões de treino. Não é fácil! À noite, batendo 45 graus Celsius. Umidade relativa do ar sendo 80%, 90%. É uma sensação que brasileiro não sabe o que é e nem vai saber se não pisar aqui. Não tem como descrever com palavras. É bizarro. Estamos sofrendo bastante nesse sentido!”, comentou Kayke, que possui passagens por Flamengo, Santos, Fluminense, Goiás e outros clubes brasileiros e estrangeiros. “De dia, não tem condição de sair na rua. Você pisa na rua e volta correndo. É impossível, Sensação térmica de 60 graus. Ontem eu fui ao clube para treinar na academia. Quando voltei, estava 52 graus e a sensação térmica de quase 60 graus “, completou.
Kayke, por outro lado, diz que as cinco rodadas restantes do Catar terão partidas disputadas em estádios modernos, com ar condicionado. “As partidas serão feitas em estádios com ar condicionado. Porém, todos os treinamentos preparativos antes dos jogos têm sido feitos fora. E, assim, você jogando não sente (calor). Mas quem está do lado de fora, se estiver no banco ou na arquibancada, aí sente frio. A galera sente frio. Eles colocam para gelar, de verdade. Não é um arzinho ou uma água geladinha. É um ar condicionado, como se você tivesse numa sala fechada. É o estádio aberto, e o ar condicionado sai do chão, do lado do campo e de todos os lados possíveis do estádio. É uma estrutura surreal”, comentou.
BAIXO NÍVEL TÉCNICO
Além do clima, Dudu também terá que se acostumar com a qualidade técnica de seus novos companheiros. Acostumado a receber bons passes de Bruno Henrique, Gustavo Scarpa e companhia, o ex-Palmeiras receberá mais “bolas quadradas” e terá dificuldade em fazer jogadas coletivas. De acordo com Kayke, o nível do futebol praticado do Catar está bem abaixo do jogado no Campeonato Brasileiro.
“A dificuldade de adaptação dentro do campo ela é especificamente em relação ao nível técnico e físico abaixo. Por que estou falando isso? Porque a gente vem de um futebol muito mais forte, muito mais exigente. Não só a gente que veio do Brasil, como o Benatia, por exemplo, que saiu da Juventus e está no Al Duhail. Quem está acostumado a jogar em um lugar de alto nível, quando você chega a um time que está abaixo, você tem que manter o nível alto. E essa é a maior dificuldade. Então o jogador que acha que o Catar é uma teta, o Catar é isso, é aquilo… Vai embora em três meses ou é dispensado em seis meses”, declarou Kayke, que contabiliza 17 jogos e 12 gols desde que chegou ao Qatar SC.
O centroavante cita, inclusive, o caso de Mario Mandzukic, croata que brilhou na Juventus, mas deixou o Al Duhail após marcar apenas um gol. Ao mesmo tempo, ele menciona que o estilo de jogo de Dudu pode ser favorável em sua adaptação.
“O Dudu está vindo para um clube legal. Hoje, é o líder do campeonato, é um dos melhores times, tem os melhores locais, os melhores estrangeiros. Mas o Mandzukic é um exemplo. Chegou, não andou no time dele e foi embora. E a chegada do Dudu é vista de uma maneira diferente porque é um jogador de lado, tem uma característica individual bacana, de drible, de arrastar a bola. Eles gostam disso aqui. Eles adoram esses jogadores que chamam a responsabilidade e que fazem as coisas sozinho. Eles esperam muito isso. Agora o jogador que depende muito do jogo coletivo, esperar seu companheiro para fazer uma jogada… Isso é a maior dificuldade. Jogador tem que se esforçar ainda mais, é dobrado. Eu treino muito mais no Catar do que eu treinava no Brasil. Eu me esforço muito mais nos jogos justamente porque os companheiros não acompanham o meu pensamento, as minhas jogadas. Às vezes eu tenho que tentar fazer algo sozinho, buscar isso. Isso é difícil, realmente. Aquele que consegue é exaltado aqui. Eles dão uma valorização muito legal”, complementou.
DUELOS COM XAVI E AGUIRRE
Restando cinco rodadas para o término da Liga do Catar, o Al Duhail, novo time de Dudu, está na primeira posição com 42 pontos, quatro à frente do Al Rayyan, equipe comandada por Diego Aguirre. Conhecido no Brasil após passagens por Inter, Atlético-MG e São Paulo, o treinador uruguaio está conseguindo manter o seu estilo de jogo, que prioriza fortalecer o sistema defensivo. Na atual temporada, o principal concorrente ao título do Al Duhail possui a melhor defesa do campeonato, com somente 14 gols sofridos. “O time do Aguirre é muito bom. Eles têm uma marcação bem forte, bem intensa, dificilmente toma gols”, elogiou Kayke.
Dudu também terá que encarar um nome mundialmente conhecido, o de Xavi. Ex-jogador do Barcelona, o espanhol é o técnico do Al Sadd, atual terceiro colocado na tabela e dono do melhor ataque da competição. Segundo Kayke, o time comandado pelo ex-meio-campista tenta repetir a forma de jogar do Barça de Pep Guardiola, mas não consegue devido à enorme diferença na qualidade entre os atletas.
“Eles tentam, realmente, fazer um jogo de toque, envolver o adversário. Porém, a qualidade dos jogadores é totalmente diferente. Não dá para comparar o Al Sadd com o Barcelona, com todo o respeito, mas ele tem feito um bom trabalho com as peças que tem. Ao meu ver, o Xavi o trabalho dele tem servido como uma preparação para um futuro próximo. Muita gente fala que ele pode voltar ao Barcelona para ser técnico ou ser o treinador da seleção do Catar na Copa de 2022. Tanto que ele renovou só mais um ano no Al Sadd. É algo que se fala muito aqui internamente. Seria bacana ter um nome como o Xavi na Copa de 2022”, finalizou.
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