“Panteras Negras” dos Jogos de 1968 apoiam protesto racial de Kaepernick na NFL

  • Por Estadão Conteúdo
  • 29/09/2016 16h03
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Colin Kaepernick Reprodução / Twitter Colin Kaepernick protesta durante execução de hino

Na Olimpíada da Cidade do México em 1968, Tommie Smith e John Carlos fizeram o movimento Panteras Negras ser conhecido em todo o mundo com um simples gesto. Medalhistas de ouro e bronze nos 200m no atletismo, respectivamente, durante a cerimônia de premiação vestiram uma luva e ergueram o braço, realizando a saudação Black Power, na luta por igualdade de direitos civis e em protesto contra o preconceito racial nos Estados Unidos.

Passados quase 50 anos, a questão racial volta a ser fortemente discutida nos Estados Unidos por conta da série de injustificável violência policial que tem vitimado muitas pessoas negras nos últimos meses. Diante desta questão, o quarterback do San Francisco 49ers Colin Kaepernick decidiu, assim como Smith e Carlos, utilizar-se da visibilidade do esporte para fazer seu protesto. E, novamente, a execução do hino nacional foi o momento escolhido pelo jogador de futebol americano. 

“Não odeiem este rapaz por ele ter se levantado para provocar uma mudança. Ele levantou-se pelo direito de exercer a Primeira Emenda (à Constituição dos Estados Unidos, que fala sobre a liberdade de expressão)”, defendeu Smith. “Os protestos são positivos porque você está tentando expor algumas questões através do protesto”, concordou Carlos.

As mortes de negros por policiais norte-americanos têm se repetido e gerado diversos protestos no país. A situação é preocupante e estudos recentes mostraram que a taxa de homicídios de negros é oito vezes maior do que a de brancos nos Estados Unidos. Diante desta realidade, Kaepernick decidiu agir e ampliou a discussão sobre o problema ao se recusar a ficar de pé durante a execução do hino nacional nas partidas de futebol americano.

A atitude do jogador em um país que tanto prega o patriotismo ganhou repercussão e criou um grande debate nos Estados Unidos. Enquanto muitos se opõem a Kaepernick, como o candidato à presidência Donald Trump, outros veem o protesto com naturalidade. Até o presidente Barack Obama defendeu o direito do atleta de se manifestar.

“Em qualquer protesto você se manifesta e tenta alcançar todos os extremos da Terra. E qual a melhor forma de fazer isso do que no esporte?”, questionou Carlos. “É um sacrifício você lidar com qualquer coisa que fuja do status quo. E nós sabemos muito bem disso”, completou Smith.

Inegavelmente, a atitude de Kaepernick ampliou a discussão e gerou uma onda de manifestações no esporte. Mais recentemente, até a tenista multicampeã Serena Williams se posicionou a favor dos protestos iniciados no futebol americano e comentou sobre o medo de ser negro nos Estados Unidos atualmente. “É preciso chamar a atenção da sociedade, para eles serem capazes de determinar por que existe esse negócio chamado racismo, violência e preconceito, e enterrar tudo isso de uma vez”, comentou Carlos.

Coincidência ou não, o Comitê Olímpico dos Estados Unidos escolheu este momento para convidar Carlos e Smith para um evento pela primeira vez desde o protesto de 1968. Na última quarta, eles estiveram presentes no Team USA Awards, que premiou alguns dos principais atletas do país. “Nunca falamos sobre o que defendíamos (em 1968). Nós defendíamos a humanidade”, lembrou Carlos.

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