Até que ponto Bolsonaro suportará os crescentes ataques de inimigos e opositores?
Internação de emergência para exames de Bolsonaro adiou encontro para ‘discussão de relação’ entre Executivo, Supremo e Legislativo
O presidente Jair Bolsonaro teve de ser internado, de madrugada, no Hospital de Base das Forças Armadas, em Brasília, para exames. Sentiu fortes dores abdominais. Semana passada, na véspera da motociata em Porto Alegre, também recebeu atendimento médico por excesso de soluços. Aparentemente, Bolsonaro ainda sofre as sequelas das várias cirurgias após a facada que quase o matou em 6 de setembro de 2018. O caso Adélio Bispo segue impune. O bandido está preso como “maluco”. Mas é Bolsonaro quem tem tudo para enlouquecer — e somatizar — tantos ataques covardes que recebe. Um extraterrestre — que fez ontem uma visita relâmpago a Brasília e observou nosso caótico ambiente político-institucional — formulou uma perguntinha básica: ‘Será que o presidente conseguirá resistir aos ataques sistemáticos que tendem a aumentar com a proximidade da eleição presidencial de outubro/novembro de 2022? O rolo compressor, manobrado pelo establishment, envolve um conluio entre integrantes do Poder Supremo. Envolve membros do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal Superior Eleitoral, do Ministério Público e do Congresso Nacional (com mais intensidade no Senado e uma crescente rebelião na infiel base do Centrão na Câmara dos Deputados).
O golpe para desgastar Jair Bolsonaro até o limite — e, se der, derrubá-lo — tem um roteiro evidente. O plano imediato é “fechar o cerco” sobre os militares para atingir seu comandante-em-chefe, Bolsonaro. O esquema golpista tenta agir dentro da pretensa “institucionalidade”. Passa pela CPI do Covidão, prorrogada por 90 dias. Envolve até uma aceleração do absurdo e casuístico processo que corre no TSE para anular a chapa Bolsonaro/Mourão, vencedora legítima na eleição de 2018. Reativa a falsária CPMI das Fake News. Também escala subprocuradores da República para exigir a abertura de uma investigação contra o presidente Jair Bolsonaro pelo crime de abuso de poder de autoridade nos recentes ataques ao sistema eleitoral. O supremo-magistrado Alexandre de Moraes, próximo presidente do TSE, autorizou o compartilhamento de provas dos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos com as ações do TSE que tentam a inacreditável cassação de Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão. O caso é relatado pelo corregedor-geral do tribunal, o ministro Luis Felipe Salomão. O plano é provar que, no último pleito, Bolsonaro foi financiado por empresários, via caixa dois, para disseminação de informações falsas em favor do então candidato do PSL e contra seus adversários.
A temperatura sobe no inferno de Brasília. Novos atritos devem pipocar entre o Congresso Nacional e as Forças Armadas. A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara convidou o ministro da Defesa, General Braga Netto, para explicar a nota das Forças Armadas tornada pública contra o senador Omar Aziz. A reunião deve acontecer no dia 10 de agosto. Antes, a CPI do Covidão quer convocar Braga Netto. Mas os requerimentos de convocação do militar só serão votados no mês que vem, após o recesso parlamentar. Os senadores não se conformam com a nota de que “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”. O relator Renan Calheiros acusa Braga Netto de fazer “ameaças diuturnas de golpe”. O senador Rogério Carvalho (PT-SE) vai além. Defende a necessidade de a comissão acessar todas as comunicações de Braga Netto com a pasta da Saúde, no período em que o militar foi chefe da Casa Civil. Os parlamentares querem saber qual foi a atuação do general diante das negociações suspeitas com vacinas, como a Covaxin.
Como a Comissão do Covidão patina e apela para a ignorância em um confronto perigoso com líderes militares, a oposição parlamentar arma para que a CPMI das Fake News retorne em outubro ou novembro e vá até abril ou maio de 2022. A Comissão Mista – paralisada desde que começou a pandemia, em março do ano passado – investiga uma rede de notícias falsas em torno de Bolsonaro. A missão dos construtores de narrativas é comprovar a tese de que páginas responsáveis por disseminar ataques virtuais contra parlamentares e integrantes do STF têm ligação com aliados e até com filhos de Bolsonaro. A traição está no ar? Bolsonaro acha que Rodrigo Pacheco “mudou de lado” e agora também atua para que ele não seja reeleito. Pacheco foi eleito para comandar o Senado com apoio do Palácio do Planalto. Um grupo liderado pelo deputado federal Gilberto Kassab articula, intensamente, para que o senador troque o DEM pelo PSD e seja candidato à sucessão de Bolsonaro. Já o presidente da Câmara, Arthur Lira, advertiu que trabalha “mais para por água na fervura do que querosene”. E acrescentou: “Já estou cansado de dizer e repetir, não posso fazer impeachment sozinho, erra quem diz que a responsabilidade é só minha, é um conjunto de condições que não estão postas”.
Bolsonaro aproveitou o discurso no anúncio da sanção da capitalização da Eletrobras para se defender das acusações irregularidades no processo de compra de vacinas contra a Covid-19: “O desespero é tanto que me acusam de corrupção por algo que não foi comprado, que não foi pago. O que querem é a volta da impunidade e da corrupção”. Teria tudo para ser mero jogo de cena (com muita falsidade) a reunião marcada para as 11h desta quarta-feira, 14, no STF, entre Luiz Fux, Bolsonaro, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira. “Discutir a relação” (os limites constitucionais de cada poder), em meio ao caos institucional, parece missão quase impossível… A internação de emergência de Bolsonaro adiou o encontro. Fica para a próxima…
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