Antes da demissão, Roberto Alvim estava sorridente

  • Por Jovem Pan
  • 18/01/2020 12h01
Reprodução/Facebook roberto-alvim-cultura Alvim disse não saber quem havia incluído a adaptação da frase nazista no seu discurso, mas avisou que não faria uma "caça às bruxas"

“Chegou bem no dia em que o pau tá quebrando, né? Chegou no dia ‘D'”, disse o dramaturgo Roberto Alvim ao receber o jornal O Estado de S. Paulo, na sexta-feira (17), para uma entrevista, quatro horas antes de sua demissão.

Sobre sua mesa, além de uma cruz da Região das Missões (RS) e de um frasco de água benta, o então secretário exibia um boneco armado do Doutrinador — personagem que assassina políticos acusados de corrupção em uma história em quadrinhos que virou filme.

“Ele matou o Lula num quadrinho”, informou Alvim numa referência ao ex-presidente.

Até então sorridente e mantendo um tom confiante, Alvim acreditava que não seria demitido porque Bolsonaro havia garantido sua permanência na equipe.

“Conversei com o presidente hoje de manhã. Ele se convenceu plenamente do que falei. Ele sabe, me conhece. Sabe que minhas intenções são absolutamente nobres nesse campo”, disse Alvim.

Após repercussão da entrevista ao Estadão, Alvim cancelou as agendas que restavam no dia. Foi ao Palácio do Planalto e colocou o cargo à disposição — horas depois, uma nota da Presidência confirmaria a demissão.

“A filiação de Joseph Goebbels com a arte clássica e com o nacionalismo em arte é semelhante à minha e não se pode depreender daí uma concordância minha com toda a parte espúria do ideal nazista”, afirmou. “Gravou essa p*?”, emendou ele, ao cobrar que a frase fosse incluída na reportagem.

Alvim disse não saber quem havia incluído a adaptação da frase nazista no seu discurso, mas avisou que não faria uma “caça às bruxas” para encontrar um culpado. Afirmou, ainda, que um trecho pode ter sido inspirado na declaração nazista sem que ele soubesse.

Ao jornal, Alvim destacou que o Prêmio Nacional das Artes, iniciativa que distribuiria cerca de R$ 20 milhões, seria o começo da “refundação” da cultura brasileira, baseada em conceitos conservadores de artes, mas sob a promessa de não promover bandeiras da direita política.

Àquela altura ainda fazendo planos, o então secretário afirmou torcer para que a população, num futuro breve, consumisse obras clássicas em massa O cenário idealizado não impediria a reprodução do funk ou hip hop, apesar de ele “abominar” os ritmos.

“Agora, nada impede que se crie uma música com a batida do funk e que seja uma música interessante em alguns sentido estético, embora eu ache muito complicado.”

*Com informações do Estadão Conteúdo

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