Anvisa diz que CoronaVac foi suspensa por demora do Butantan em acionar o Comitê Internacional

Em comissão no Congresso, diretor do Instituto rebateu, e afirmou que isso era desnecessário, pois se tratou de um ‘evento adverso grave’, ou seja, sem relação com a vacina

  • Por Jovem Pan
  • 13/11/2020 17h44 - Atualizado em 13/11/2020 19h19
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EFE/EPA/MINZDRAV Frascos da vacina russa contra a Covid-19, Sputnik V Estudos foram retomados após constatação que o óbito foi um suicídio

O diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, divergiram em audiência nesta sexta-feira, 13, da comissão do Congresso que acompanha as ações de combate à pandemia de Covid-19, sobre a suspensão dos testes da vacina chinesa CoronaVac, após a morte de um dos voluntários por suicídio. Barra Torres disse que a agência reguladora não teria decidido pela interrupção se o Butantan tivesse acionado logo o Comitê Independente Internacional. Covas retrucou, afirmando que, a princípio, isso foi considerado desnecessário porque se tratava de um “evento adverso grave”. Segundo ele, isso é diferente de “reação adversa grave” já que, na linguagem do setor, a palavra “evento” indicaria que o fato não tinha nada a ver com a vacina.

Segundo o dirigente da Anvisa, o Butantan é “parte interessada” no registro da vacina, e as informações sobre o óbito de um voluntário dos testes não poderiam partir dele. “E não adiantava um telefonema, conforme se quer colocar, para o instituto desenvolvedor porque o instituto não é o comitê independente, ele é parte interessada”, declarou Torres. “E dizer ‘parte interessada’ não é uma crítica maldosa. É apenas um termo em atividade regulatória.” Dimas Covas rebateu essa fala, dizendo que o centro de pesquisa que relatou a morte, um dos 16 que participam dos testes para o Butantan, não é “parte interessada”, mas um instituto que respeita diretrizes científicas. Ele declarou ainda que, se mesmo assim havia dúvidas da agência, elas deveriam ter sido comunicadas. Inclusive, de acordo com ele, a agência primeiro pediu mais informações ao Butantan, dando prazo de 24 horas para a resposta, porém, em seguida, solicitou que enviasse logo as informações se já as tivesse. E isso teria sido feito.

Covas disse que foi surpreendido pela suspensão dos testes após um dia de comunicações entre as duas instituições que teria terminado com a marcação de uma reunião para a jornada seguinte. “O que eu mencionei aqui foi o fato de que a interrupção foi anunciada ao Butantan pela imprensa. E isso evidentemente não é a melhor forma”, comentou. “Ou até que se fizesse a suspensão, mas que se anunciasse antes ao Butantan para que não fossemos pegos desprevenidos. Acabou se criando uma situação, um conflito desnecessário.” Torres, por sua vez, afirmou que a nota para a imprensa foi publicada 40 minutos depois que o comunicado foi enviado ao Butantan. Disse ainda que a decisão da suspensão foi tomada por um comitê interno de 18 especialistas, sendo que 80% teriam mais de 15 anos de casa. O senador Confúcio Moura (MDB-RO), presidente da comissão, solicitou que toda a comunicação entre Anvisa e Butantan seja enviada ao colegiado.

Coronavac

Covas lembrou que o Butantan é o maior fornecedor de vacinas e soros do País e tem o Ministério da Saúde como seu único cliente. Segundo ele, o acordo com a Sinovac, o laboratório chinês que produz a Coronavac, é anterior à pandemia. Os chineses, conforme o diretor, foram rápidos na vacina porque já tinham um imunizante contra outro coronavírus e só tiveram que adaptar. Ele declarou também que a Coronavac é a que tem o perfil mais seguro de todas as que estão em análise. O diretor do Butantan informou que ainda aguarda a decisão do Ministério da Saúde sobre a compra da Coronavac, mas reafirmou que ofereceu 100 milhões de doses à pasta até maio de 2021 após o início da produção nacional. A vacina terá que ser administrada em dose dupla. Por conta disso e considerando uma eficácia de 50% para a vacina chinesa, Covas explicou que serão necessárias 360 milhões de doses para vacinar 80% da população. Daí a importância de ter mais de um tipo de vacina aprovada.

Torres informou na reunião que os técnicos da Anvisa já viajaram para a China e para o Reino Unido, a fim de certificar os laboratórios Sinovac e AstraZeneca sobre a produção das vacinas que forem aprovadas. E lembrou que a agência também analisa imunizantes dos laboratórios Janssen e Pfizer. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) adiantou que deve votar contra a indicação do tenente-coronel da reserva Jorge Luiz Kormann para a diretoria da Anvisa feita pelo presidente Bolsonaro. Rodrigues disse que, nas redes sociais, o indicado tem se manifestado contra a vacina Coronavac sem base em fatos científicos.

* Com informações da Agência Câmara

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