Caso Miguel: ‘Não tenho motivo para comemorar Natal e Ano Novo’, diz mãe às vésperas de audiência
Miguel Otávio, de 5 anos, morreu há seis meses ao cair do 9º andar do prédio onde a mãe Mirtes Souza trabalhava; primeira audiência do caso acontece nesta quinta com a presença da patroa Sarí Corte Real
A empresária e primeira-dama de Tamandaré, no Estado de Pernambuco, Sarí Corte Real, acusada pelo crime de abandono de incapaz que causou a morte do menino Miguel Otávio da Silva, de 5 anos, no Recife no mês de junho, passará pela primeira audiência de instrução do caso nesta quinta-feira, 3. A sessão, que será conduzida pelo juiz José Renato Bezerra na 1ª Vara de Crimes contra a Criança e o Adolescente da capital, contará com interrogatório de Sarí e oitiva de testemunhas de defesa e acusação. O nome das pessoas que prestarão depoimento não foi divulgado pelo Tribunal de Justiça (TJ-PE) em prol da privacidade das testemunhas e não haverá acompanhamento da imprensa. Às vésperas da audiência e no dia em que a morte do filho completa seis meses, Mirtes Renata Souza, ex-funcionária de Sarí, continua na busca por Justiça.
“Estou bem esperançosa de que vai dar tudo certo, bastante confiante. Nesse momento agora é só rezar e pedir a Deus que seja feita a vontade dele”, afirma em entrevista à Jovem Pan. Ela passeava com o animal de estimação da família quando Miguel, sob supervisão da patroa, subiu em um elevador e caiu do 9º andar do edifício de luxo no qual a família Corte Real mora. Imagens de câmeras de segurança do elevador mostram a primeira-dama tirando a criança do equipamento algumas vezes e, por fim, apertando em um botão no painel e o deixando seguir sozinho. Ele caiu de uma altura de 35 metros. Guiada unicamente pela busca por Justiça, Mirtes encerra o ano de 2020 sem o espírito festivo de anos anteriores nos quais estava ao lado do filho. “Não tenho motivo nenhum para comemorar Natal e Ano Novo. Não tenho motivo para estar me confraternizando porque diante de tudo o que eu venho passando não vejo sentido em nada disso mais”, explica.
A sensação de vazio causada pela perda de Miguel deve ser parcialmente aplacada com os estudos do curso de Direito, que devem começar logo no primeiro semestre de 2021. “Eu só estou aguardando a faculdade definir a data do início das aulas. Vou seguir minha vida e estudar para me formar e ajudar outras pessoas”, lembra. Mirtes, que viu Sarí pela primeira vez após o crime no mês de julho, quando a acusada prestou primeiro depoimento na delegacia, deve chegar à Vara pouco antes do início da audiência, marcada para as 9h.
Protestos marcados
Organizações do movimento negro em Pernambuco articulam um ato diante da vara criminal na qual Sarí será ouvida nesta quinta. Com concentração marcada para às 8h30, o protesto deverá reunir familiares do menino, amigos da família e artistas locais no bairro da Boa Vista, região central da capital. “Vai ser um ato pacífico”, lembra Mirtes, garantindo que o distanciamento será cumprido entre os manifestantes. Após a audiência, uma coletiva de imprensa com Mirtes e advogados será realizada na sede do Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop), também no centro da cidade.
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