Com aumento de casos da variante Ômicron, é seguro mandar crianças para a escola antes da vacina?
Especialistas defendem que os cuidados são os já conhecidos: uso de máscaras, higiene das mãos, escolha por ambientes ventilados e isolamento no caso de sintomas ou contato com positivos
As primeiras doses pediátricas da vacina da Pfizer contra Covid-19 chegaram ao Brasil na última quinta-feira, 13. Com a distribuição dos lotes para os Estados, crianças de 5 a 11 anos começaram a ser imunizadas nesta sexta-feira, 14. Menores com comorbidades e deficiências graves, indígenas e quilombolas receberão as doses primeiro; na sequência, a vacinação ocorrerá de forma decrescente, ou seja, dos mais velhos para os mais novos. A estimativa é de que a imunização da população infantil dure de três semanas a um mês, com crianças sendo vacinadas ainda na semana de volta às aulas. Com o aumento de casos da doença em decorrência da variante Ômicron, surge a dúvida: é seguro mandar meu filho para a escola mesmo sem ele ter sido vacinado?
Para Marcio Nehab, pediatra e infectologista pediátrico do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), a resposta é sim: “Lugar de criança é na escola. A gente tem que pensar assim: se a criança não está na escola, onde é que ela está? Se não está na escola, ela vai ficar presa em casa? Se ela estiver em casa, presa, é completamente absurdo. O lugar de criança é na escola sempre. A escola é o lugar mais protegido para as crianças, sempre foi e sempre vai ser”, afirma Nehab. O médico lembrou que os últimos dois anos de pandemia mostraram que a falta de aulas presenciais não afeta apenas o aprendizado, mas também causa efeitos indiretos na saúde tanto física quanto mental das crianças. Obesidade, ansiedade e depressão foram alguns dos efeitos observados durante esse período na população pediátrica. “A pandemia causou estragos permanentes e sequelas a longo prazo em ‘zilhões’ de crianças por todo o mundo. Tem trabalhos da Unicef mostrando, inclusive, redução de expectativa de vida. Os efeitos indiretos da pandemia na população pediátrica são gigantescos e permanentes”, considera o infectologista.
Assim como Nehab, a infectologista do Grupo Pardini Melissa Valentini relembra os danos causados pela falta de aulas presenciais nesses quase dois anos de pandemia no Brasil, mas ressalta que a decisão de enviar os filhos às instituições de ensino neste contexto cabe aos pais e responsáveis. “Eu acho que cada família tem que avaliar sua estrutura familiar e como que ela dá conta dessa questão. Segurança de 100% nós não temos, mesmo com vacinados. O que tem que ser visto é que as crianças já ficaram quase um ano e meio sem escola. Muitas passaram a ter vários problemas, inclusive psicológicos, associados a essa falta de convívio escolar.” Segundo a médica, fatores como se todos os membros da família estão vacinados e se há alguém com comorbidade no núcleo familiar devem ser observados. No caso de crianças com comorbidade, os casos devem ser analisados individualmente por um profissional.
A infectologista aponta que surtos de algumas doenças são comuns em instituições de ensino desde sempre. “Vai ter surto nas escolas? Possivelmente sim, como a gente sempre tem. Às vezes você tem surto de sarampo, por exemplo. Isso já faz parte do universo da educação infantil”, diz Melissa. Ambos os especialistas ouvidos pela Jovem Pan defendem que o caminho para evitar a disseminação da Covid-19 e de outras doenças como a gripe já é conhecido: vacinação, uso de máscaras, higiene das mãos, escolha por ambientes ventilados e distanciamento. “Embora a maioria das crianças tenha a forma genérica ou moderada da doenças, muitas foram a óbito pela Covid-19 no Brasil. Desde o início da pandemia, morreram mais de 2.700 crianças em consequência da Covid-19. Foram mais de 35 mil internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave no Brasil. Se no Sistema Único de Saúde existem poucos leitos de CTI para adultos, tem menos ainda para crianças. A melhor forma que temos de proteger as crianças é vacinando”, alega o médico do IFF/Fiocruz.
A infectologista do Grupo Pardini também reforça a importância de completar o esquema vacinal primário com duas doses. “O que a gente sabe da variante Ômicron é que uma dose não é suficiente para imunizar. As crianças só estarão protegidas com as duas doses”, afirma. Marcio Nehab ainda argumenta que enquanto o público infantil não estiver totalmente imunizado, a melhor maneira de protegê-lo é vacinando adultos. “A maneira mais adequada de se proteger crianças é vacinado adultos. Ou seja, se você tem uma população que está vacinada em volta daquela criança não vacinada, a chance dela se infectar é menor. Isso as protege indiretamente.” Para tranquilizar os pais para a volta às aulas, o pediatra lembra que todos os profissionais da educação receberam pelo menos duas doses da vacina contra a Covid-19.
Quais cuidados devemos tomar ao enviar as crianças às escolas? Como elas devem ser orientadas?
Para além da vacinação, os outros cuidados devem ser mantidos. A comunicação entre responsáveis e colégio serão essenciais para evitar o surto. “O principal é que se a criança está doente, isso tem que ser imediatamente comunicado à escola”, diz Melissa sobre a necessidade de se fazer um mapeamento dos casos. O pequenos também não devem ser enviados para as instituições de ensino caso tenham algum sintoma gripal ou contato com positivo. “É importante que os pais que não mandem seus filhos doentes para escola de forma alguma, porque a gente sabe que essa cepa Ômicron tem um alto poder de transmissão e pode se comportar como uma virose comum. O ideal é que você não mande seu filho para a escola se tem alguém doente em casa, pois pode ser, no mínimo, um caso suspeito”, orienta Nehab.
Os especialistas também reforçam a importância do uso correto de máscaras. “É muito difícil você obrigar uma criança menor de 5 anos a utilizar máscaras, mas a Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza que as máscaras sejam utilizadas em crianças acima de 2 anos. É recomendado que máscaras sejam trocadas toda vez que ficarem sujas ou molhadas. As máscaras devem ser utilizadas de forma bem acoplada”, explica o pediatra do IFF/Fiocruz. De acordo com ele, apesar de quanto melhor a máscara, menor a transmissão, é preciso se atentar se o modelo está bem ajustado ao rosto dos pequenos. “Não adianta nada você usar uma máscara do tipo PFF2 em uma criança se ela não veda direito a cara do pequeno. Também não adianta usar uma máscara de adulto em um rosto pequeno. É claro que as máscaras que a gente utiliza em hospital são obviamente muito melhores do que as máscaras cirúrgicas, que são melhores que as de pano. Isso é regra, mas o importante é que a criança use a máscara que ela conseguir usar de forma bem vedada”, defende. “Criança é isso, a gente tem que orientar. Orientar a higienizar a mão com álcool, a não trocar a comida com o colega e que o lanche deve ser feito preferencialmente em locais abertos”, finaliza Melissa.
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