CoronaVac: Anvisa diz que não é parceira de institutos e que decisão foi técnica

Órgão suspendeu os testes com a vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, na noite desta segunda-feira, 9, após ‘evento adverso grave’

  • Por Jovem Pan
  • 10/11/2020 14h46 - Atualizado em 10/11/2020 15h53
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FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO - 10/11/2020 Coletiva de imprensa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta terça-feira, 10

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) explicou em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 10, a decisão de interromper os estudos clínicos da vacina CoronaVac, produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. Em nota na noite de segunda, o órgão disse que a decisão foi tomada após a ocorrência de um “evento adverso grave” no dia 29 de outubro. A decisão foi questionada por ter sido tomada no mesmo dia em que o governador do Estado de São PauloJoão Doria (PSDB) noticiou que as primeiras 120 mil doses do imunizante chegariam no Estado no dia 20 de novembro e que as obras na fábrica do Instituto Butantan tinham sido iniciadas. O governo também questionou o fato de não ter sido informado oficialmente pela Anvisa. A agência, no entanto, afirma que a decisão foi técnica, sem qualquer viés político, e que o Instituto foi informado da interrupção antes da nota ser publicada no site oficial da Anvisa. A Anvisa não é parceria de nenhum desenvolvedor”, afirmou Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa.

No dia de ontem, a Anvisa recebeu a notificação de um evento adverso grave ocorrido no protocolo de desenvolvimento vacinal da CoronaVac. Essas informações foram recebidas e analisadas pela Gerência Geral de Medicamento (GGMED)“, contou Antônio Barra. Segundo ele, a decisão foi técnica e não dependeu do seu aval ou do aval da diretora da Segunda Diretoria da Anvisa, Alessandra Bastos. “Decisões da Anvisa são decisões de colegiado, interrupção de testes não faz parte desse escopo”, justifica Barra, que enfatizou que a decisão emanou da área técnica da GGMED. O diretor-presidente explicou que a Gerência Geral de Medicamento é formada por servidores de carreira, concursados, que são responsáveis pelo parecer de interrupção e retomada dos testes e do registro da vacina.

Segundo a Anvisa, as informações que chegaram na segunda-feira estavam incompletas. “As informações foram consideradas insuficientes, incompletas para continuar emitindo o desenvolvimento vacinal”, disse Barra. Ele também enfatizou que a área técnica só tinha uma decisão a tomar no caso de um “evento adverso grave não esperado”. “O protocolo manda a interrupção do teste. A responsabilidade é nossa diante de qualquer repetição desse mesmo evento”, disse. Em seguida, o diretor explicou que os chamados “eventos adversos” variam de internação com risco de vida, perda de funções de determinado órgão até o óbito. “Se a pessoa morre de Covid-19 é um evento adverso grave, mas esperado”, completou. De acordo com a agência reguladora, quando não se consegue estabelecer uma conexão entre a morte e a doença, a única decisão possível para a agência é interromper os testes.

Sobre a repercussão após o anúncio da suspensão temporária, Barra relembrou que outras vacinas já tiveram seus teste interrompidos. A primeira foi a vacina da Universidade de Oxford com a AstraZeneca, interrompida por seis dias depois que um dos voluntários no Reino Unido apresentou efeitos colaterais. Ele também relembrou a interrupção do protocolo da Johnson & Johnson após um dos participantes apresentar uma “doença inexplicada”. “É esperado que dessa vez seja diferente? Por qual motivo?”, questionou Barra Torres. “A Anvisa não é parceria de nenhum desenvolvedor, de nenhum instituto”, disse o diretor.

Tomaremos decisões no dia que eles tiverem que ser tomadas”, afirmou o diretor-presidente do órgão. Ao responder perguntas da imprensa, os representantes da Anvisa presentes na coletiva de imprensa afirmaram não saber se o voluntário era homem ou mulher e também alegaram não saber se, ao menos, a pessoa veio a óbito. Segundo eles, a única informação que foi apresentada foi de “efeito adverso grave não esperado”. Eles também afirmaram não terem recebido a informação sobre o suicídio – que, inicialmente, foi divulgada pela TV Cultura nesta terça. “Informação para nós não é informação se ela não vem pelo canal correto”, disse Barra Torres. “Somos pautados pelos dados e informações confiáveis e rastreáveis. A mídia pautar isso não é suficiente para a gente”, respondeu Gustavo Mendes, do GGMED. Sobre a possibilidade de ter sido realizada uma reunião com o Butantan antes da interrupção, a Anvisa informou que não é atribuição da agência fazer a interlocução desse entendimento prévio antes de tomar a decisão. O órgão, no entanto, se reuniu com o Instituo Butantan na manhã desta terça, mas os testes ainda seguem suspensos. 

Linha temporal apresentada pela Anvisa:

  • 29/10 – Data em que o ‘evento adverso não esperado’ teria ocorrido.
  • 06/11 – Data em que Instituto Butantan enviou informação, que não chegou à Anvisa por causa de problemas técnicos.
  • 09/11 – 18:00 – Data em que o comitê da Anvisa recebe comunicação oficial do Butantan informando da ocorrência do ‘evento adverso’. Sem nenhum detalhe adicional, segundo a Anvisa.
  • 09/11 – 20:47 – Momento em que a comunicação eletrônica sobre a suspensão do teste foi enviada para o Butantan.
  • 09/11 – 21:25 –  Hora e data da publicação da nota oficial da Anvisa sobre a suspensão dos estudos clínicos da CoronaVac no portal do órgão.
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