Cunha demonstra força contra cassação

  • Por Estadão Conteúdo
  • 19/05/2016 10h37
Brasília - O vice-presidente Michel Temer recebe do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, a Medalha do Mérito Legislativo 2015 (Antonio Cruz/Agência Brasil) Antonio Cruz/Agência Brasil - 18/11/15 Michel Temer e Eduardo Cunha

A decisão do presidente em exercício Michel Temer de manter aliados do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nos postos de comando da Câmara fortaleceu o parlamentar. A avaliação no Congresso é de que a confirmação, ocorrida na última quarta-feira (18), do deputado André Moura (PSC-SE) como líder do governo, a permanência de Waldir Maranhão (PP-MA) na presidência da Casa e as recentes mudanças de integrantes do Conselho de Ética ampliaram as chances de Cunha escapar da cassação do mandato. 

Depois da presidencia, Moura terá o principal cargo da Câmara, por fazer a interlocução direta entre o Executivo e a Casa. A decisão de Temer foi um claro aceno ao centrão, bloco idealizado por Cunha formado por 225 deputados de 12 partidos. A alternativa era Rodrigo Maia (DEM-RJ), que era apoiado pelas legendas que faziam oposição ao governo Dilma Rousseff. Além do apoio majoritário dos deputados, a escolha de Temer foi influenciada pelo aval de Cunha. 

Após a nomeação, Moura minimizou a relação com o peemedebista e disse que ele não terá “influência nenhuma” em sua atuação. “Quero dizer que estou aqui, nesta Casa, há seis anos e, durante esse período, construí um bom relacionamento com várias pessoas. O trabalho que fizemos durante o impeachment foi fundamental para obter os votos necessários para a aprovação do processo na Câmara, isso permitiu que eu tivesse o apoio de 13 partidos.”

Nesses primeiros dias de governo Temer, porém, o centrão já começou a operar para tirar do Conselho de Ética parlamentares que vinham, após decisão do Supremo Tribunal Federal, hesitando em votar a favor de Cunha. Em dois dias, três parlamentares renunciaram à vaga. Cacá Leão (PP-BA) , que, no primeiro momento, era favorável ao peemedebista, abandonou o colegiado alegando desgaste em seu estado ao se manter ao lado do ex-parlamentar. Ele foi substituído por André Fufuca (PP-MA), voto garantido ao peemedebista.

Outro a deixar o colegiado ontem foi Erivelton Santana (PEN-BA), alegando que a vaga é do PSC. Caberá ao partido de Moura escolher o substituto.

Do grupo que deixou o colegiado, só Ricardo Barros (PP-PR) não renunciou por pressão, virando ministro da Saúde. O substituto é Nelson Meurer (PP-PR), que tende a votar favoravelmente ao político. 

Tutela

A opção do presidente em exercício de avalizar a decisão da Casa de manter Maranhão, sob tutela do centrão, também tende a ajudar Cunha. O motivo é que caberá ao presidente interino colocar em pauta a votação do processo e definir qual recurso da decisão do Conselho de Ética poderá ser submetido em plenário.

“A verdade é que Cunha continua operando na Casa e, agora, dentro do governo. Michel Temer está refém de Eduardo Cunha”, disse o vice-líder do PSOL, Chico Alencar (RJ). Legendas à esquerda são autores da representação contra Cunha no conselho. “Minha sensação é que, com o governo Temer, o poder de Eduardo Cunha aumentou consideravelmente, com aliados em postos-chave e mantendo o poder sobre boa parte do Congresso”, avaliou o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ). 

As movimentações no salão e no conselho da Câmara fizeram com que o grupo que defende a cassação de Cunha começasse a fazer contas e a considerar um cenário de derrota do parecer de Marcos Rogério (DEM-RO). Apesar disso, o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA) continua sendo crucial para o destino de Cunha. 

Se o colegiado votar pela cassação, o peemedebista tem dois recursos contestando o processo para serem julgados na Comissão de Constituição e Justiça e poderá apresentar novos pedidos. Na CCJ, Cunha terá a colaboração do colega Osmar Serraglio (PMDB-PR) para dar celeridade às suas demandas.

Cunha depõe, nesta quinta, cercado de aliados e com a promessa de fazer um discurso de confronto direto. Para comportar a demanda, foi reservada uma sala maior e a sessão no plenário foi cancelada.

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