Dilma diz ser “estranhíssima” votação separada do impeachment
A ex-presidenta Dilma Rousseff considerou “estranhíssima” a votação separada do impeachment ocorrida na última quarta-feira (31) no Senado, que a condenou a perda de mandato por crime de responsabilidade, mas manteve seus direitos políticos. Em entrevista a jornais estrangeiros, ela afirmou que, com o seu impeachment, foi condenada à “morte política” e disse ter a consciência de que a “democracia foi julgada” junto com ela.
Na entrevista, Dilma declarou que o fatiamento da votação, que permitiu a ela continuar podendo ocupar funções públicas, não “atenua” nem agrava a sua cassação.
“Eu acho que é estranhíssima essa dupla votação. Vota de uma vez de um jeito, vota da outra vez de outro jeito, é no mínimo estranho”, afirmou.
Ao falar sobre o placar da votação, sendo 61 senadores a favor e 20 contra, não foi um “passeio”. “Nem sempre a estrada dos votos é uma estrada de ferro, retinha. Acho que ela é muito tortuosa”, disse.
A ex-presidenta disse não ter um projeto eleitoral elaborado no momento, mas anunciou que fará oposição ao governo de Michel Temer.
“Podiam ter feito diferente, podiam ter feito de qualquer forma. O fato gravíssimo é que me condenaram a morte política ao me tirarem da Presidência, que é a maior pena que algum brasileiro ou brasileira pode obter”, disse.
No Palácio da Alvorada, residência oficial que desocupará nos próximos dias, Dilma afirmou que irá inicialmente a Porto Alegre, onde reside sua família, mas também planeja passar um tempo no Rio de Janeiro.
Dilma voltou a dizer que não cometeu crime de responsabilidade, que não tem contas no exterior e criticou o deputado afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
“Acho gravíssimo o fato de que um programa que não é o eleito pelas urnas seja executado nos próximos anos. Acredito que a consciência de que a democracia foi julgada junto comigo eu tenho”, disse.
STF
Após a divisão do julgamento, PSDB, DEM, PPS e PV entraram com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal questionando a decisão dos senadores de manter os direitos políticos de Dilma.
Na China, o presidente Michel Temer disse que a questão da habilitação de Dilma para funções públicas é jurídica, e não mais política. “O Senado tomou a decisão. Certa ou errada, não importa, o Senado tomou a decisão. Me parece que ela está sendo questionada agora juridicamente. Então ela sai agora do plano exclusivamente político para o quadro de uma avaliação de natureza jurídica”, disse ele a jornalistas. Na primeira viagem oficial após assumir efetivamente da presidência, Temer participará do encontro do G-20, bloco que reúne as 20 maiores economias do mundo, em Hangzhou.
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