Exposição no Rio traz relíquias e cerâmica da Serra da Capivara
Peças de cerâmica contemporânea encontram artefatos produzidos há 3.400 anos na mostra Serra da Capivara – Homem e Terra, inaugurada na última terça-feira (3) no Centro Sebrae de Referência do Artesan…
Peças de cerâmica contemporânea encontram artefatos produzidos há 3.400 anos na mostra Serra da Capivara – Homem e Terra, inaugurada na última terça-feira (3) no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (Crab), no centro da capital fluminense. A exposição reúne o trabalho de 32 mestres ceramistas e obras pré-históricas raras, nunca antes expostas, do Museu do Homem Americano, no Piauí. O visitante tem a chance de traçar uma imagem comparativa entre a arte em cerâmica produzida hoje na região e as peças pré-históricas.
Há destaque também para as pesquisas de Niède Guidon, uma das primeiras arqueólogas a estudar e a defender o Parque Nacional Serra da Capivara, há mais de 40 anos.
A Serra da Capivara, no Piauí, tem a maior concentração de sítios arqueológicos das Américas, que comprovam a presença do homem no local há 48 mil anos. A descoberta ajudou a formular teorias sobre a passagem pelo Estreito de Bering, transformando o conjunto de chapadas e vales que abrigam gravuras rupestres e artefatos pré-históricos em patrimônio cultural da humanidade pela Unesco, agência das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Na mostra, pode ser observada uma ponte entre o passado e o presente. Assinada pelo designer Renato Imbroisi, a curadoria selecionou peças dos ceramistas da região com reprodução de pinturas rupestres em pratos, copos e travessas e as mais novas, com a representação de animais de forma tridimensional e de madeira. Pela influência do sítio histórico no artesanato local, o curador trouxe também um pedaço do Museu do Homem para o CRAB.
A mostra começa com a exposição de fragmentos e urnas com mais de 3 mil anos, faz uma homenagem ao trabalho de Niède, insere o Museu do Homem Americano reproduzindo passarelas de madeira que aproximam o visitante de paredões com as inscrições rupestres até chegar aos ceramistas atuais. Uma grande sala reúne peças e fotos de 32 artistas locais. O ofício foi desenvolvido na região na década de 1980, como alternativa de renda e uma das formas de combater a caça e a depredação dos sítios históricos da Serra da Capivara.
“Decidimos mostrar a fauna e flora desse lugar de maneira completamente diferente. Colocar a cerâmica de maneira tridimensional, os animais nos potes, tem um vaso em que os pássaros caminham para beber água”, explicou Imbroisi. “A cerâmica rupestre já se fez muito, continua viva, mas decidimos tentar algo novo”, complementou, sobre a arte que gera renda no semiárido para famílias do entorno do parque, a 500 quilômetros de Teresina.
A serra que inspira
Quase no fim da exposição, Niède aparece novamente em um vídeo ao lado de um dos artesãos mais habilidosos. Ela destaca a beleza do trabalho desenvolvido e a preocupação ambiental. A argila é coletada na época da seca, evitando o impacto ambiental, já que os sedimentos são depositados novamente na estação de chuvas. Ela conta ainda que o artesão foi um dos primeiros a levá-la aos sítios onde as descobertas arqueológicas foram feitas.
“Eu conheço o Nivaldo [Coelho de Oliveira] desde os anos 70. Ele foi um dos meus primeiros guias, quando a gente tinha que subir, ele subia com a gente”, contou. Para ela, a região é inspiradora. “A habilidade de todos esses artesãos se compara à qualidade da obra dos homens pré-históricos. Parece que a beleza da região traz a necessidade de se exprimir”.
Nivaldo se orgulha: “Para mim, foi muito importante [este ofício], porque nunca me faltou serviço”, disse, com voz quase rouca, contente pelo reconhecimento.
A exposição vai até o dia 20 de janeiro de 2018, de terça a sábado, das 10h às 17h. A entrada é gratuita.
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