Jovem Pan
Publicidade

Fome atinge 19 milhões no Brasil: ‘Vivo das doações que deixam na minha porta’, diz dona de casa

Preço das cestas básicas teve aumento na maioria das capitais observadas pelo DIEESE

Através de postagens em grupos do Facebook, a dona de casa Tatiana Silva tem garantido o sustento de seus cinco filhos. “É humilhante demais precisar implorar algo para comer, isso não é uma lamentação. Estou pedindo porque realmente, até agora, não comemos nada hoje. Estamos em uma situação crítica e para quem não acredita, posso mostrar através de uma chamada de vídeo ou fotos. Sei, de coração, que ninguém é obrigado a ajudar, cada um tem suas necessidades. Mas olho para meus filhos e penso: ‘Meu Deus, me ajude a matar a fome deles’. Com a ajuda de R$ 2, eu já posso comprar três pães e dois ovos para garantir a janta. Estou sem chão”, registrou em uma publicação na rede social ainda nesta segunda-feira, 5, junto aos dados de sua conta bancária e um vídeo, em que mostra os armários com apenas dois sacos de farinha.

Publicidade
Publicidade

A jovem de 27 anos é só uma entre os 19 milhões de brasileiros que se depararam ou ainda enfrentam a fome durante a pandemia, segundo pesquisa conduzida pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN). O estudo lançado nesta segunda-feira, aponta que 55,2% dos domicílios brasileiros, cerca de 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar no final de 2020. Destes, 9% – ou 19 milhões de cidadãos, passaram fome. Os dados foram coletados entre os dias 5 e 25 de dezembro do último ano. À reportagem, Tatiana afirmou que a situação de sua família foi agravada pela chegada da Covid-19 no país.

“Por enquanto, estamos sobrevivendo com as doações das pessoas que deixam um pacote de arroz e feijão na minha porta. Antes da pandemia eu fazia faxina, mas desde então os serviços foram interrompidos. Eu morava com o meu marido na casa da minha avó, ajudava com o dinheiro do meu trabalho e ela recebia Bolsa Família. Em 2020, minha avó perdeu o auxílio do governo porque se aposentou. Há mais de um ano, me cadastrei para receber o benefício, mas até agora não liberaram. Além disso, precisei sair da casa da minha avó e estou morando sozinha com as crianças em uma kitnet porque me separei do marido que bebia e maltratava meus filhos. Morro de vergonha de pedir ajuda na internet, mas é o jeito”, disse a mãe de um recém-nascido e das crianças que têm 7 anos, 5 anos, 3 anos, 2 anos e 1 ano. De acordo com a pesquisa, os domicílios chefiados por mulheres foram os mais impactados pela fome no último ano. A maioria dos brasileiros que vivenciaram a insegurança alimentar severa são negros e pardos. As desigualdades também são percebidas entre as diferentes regiões do país, já que o Norte e o Nordeste apresentam, disparadamente, os maiores índices de fome durante a pandemia – chegando a 18,1% e 13,8%, superando os 9% referente a todo o território nacional.
Publicidade
Publicidade