“Gestor não inspira nada, tem que ser líder”, diz FHC

  • Por Estadão Conteúdo
  • 24/03/2017 14h00
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso participa de debate sobre Reformas da política global sobre drogas: impactos na América Latin, organizado pela Open Society Foundations (Tânia Rêgo/Agência Brasil) Tânia Rêgo/Agência Brasil Fernando Henrique Cardoso - Ag Brasil

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), é o tucano “mais bem posicionado” para disputar a eleição presidencial em 2018. FHC também criticou o mote de gestor, adotado pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que tem sido apontado como potencial candidato ao Palácio do Planalto. 

Como o sr. vê os políticos que se colocam como não políticos?

Tem muitos aí e vão continuar fazendo isso (se colocar como não político). O momento é para o não político, mas é político. O que é político com P maiúsculo? Alguém que inspira, que pode conduzir. Se você for um gestor, você não vai inspirar nada. Tem que ser líder, e líder é alguém que inspira o caminho, certo ou errado, aí cada um vai dizer. No caso, quem ganha eleição, inspirou de alguma maneira. Vai inspirar o Brasil? Não é simples

João Doria pode ser um nome do PSDB para a disputa presidencial de 2018?

Ele (Doria) diz que não é, e eu acredito nele.

Os outros três pré-candidatos (Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves) são citados na Operação Lava Jato… Não dá para prever o nome do partido antes de ver o que vai acontecer, é precipitado. Eu me guardo.

Em entrevista ao “Estado”, no ano passado, o sr. disse que o José Serra era o nome mais bem posicionado para 2018. O Geraldo Alckmin é o mais bem posicionado hoje?

Se você olhar nos dias de hoje, sim. E o Doria apoia o Geraldo. Ele (Doria) disse a mim recentemente e eu acho que é verdade. Ele apoia o Geraldo. O balão está subindo então todo mundo começa a apostar. Agora, será o Geraldo? Não sei. Primeiro eu não tenho força no partido, eu não sou um homem do PSDB, eu não sou da máquina. Tudo isso vai depender do que vai acontecer nos próximos meses.

Por que Alckmin está melhor posicionado?

O Alckmin tem um fator de poder na mão: ele é governador de São Paulo. Ele tem uma força grande, ele tem mais estrutura na mão. Agora, isso é decisivo? Não. Depende do clima, do que vai acontecer. No fim, o PSDB, como sempre fez, pode ter três ou quatro candidatos e vai afunilar. Não sei se vai afunilar, não vai, se vem outro e faz aliança, se haverá a questão do outsider

O Alckmin está pressionando o PSDB para precipitar as prévias O sr. apoia essa demanda?

Ele não vai precipitar. O PSDB não tem razão para precipitar. O Lula já está se precipitando porque tem necessidade de ser candidato para manter coesão do PT e para dizer que está sendo perseguido. Já o PSDB, eu acho que tem que ter um candidato com tempo suficiente para se organizar. Tem que deixar passar essa tempestade na qual estamos. Quem é acusado de quê? Ninguém sabe. Por enquanto é notícia ‘ouvi dizer que’.

O sr. teme que o Geraldo Alckmin saia do PSDB?

Não, o Geraldo é um político de lealdade. Ele não vai sair. Ele vai tentar aliança com outros partidos, como é natural que o faça. Ele vai lutar dentro do PSDB.

Há um acordo de “salvação nacional” entre os investigados na Lava Jato?

Ninguém vai se salvar às custas de passar uma borracha. Não dá. Mas temos que pensar no futuro do Brasil. E pensar com quem? Com quem não está comprometido com os malfeitos. Chegou um momento no Brasil em que precisamos olhar para frente.

O sr. fez um vídeo no qual critica movimentação de projeto de lista fechada e declara que cabe à Justiça julgar se há crime eleitoral. É uma crítica ao projeto de anistia do caixa 2?

Certamente é. Qualquer tentativa de anistiar não vai dar certo porque a sociedade não vai concordar. Além do mais, desde uma nota que eu dei lá da Europa, que era a respeito de uma crítica ao Aécio (delator da Odebrecht teria afirmado que senador por Minas recebeu R$ 9 milhões por meio de caixa 2 a pedido do próprio senador), que não era verdadeira porque o Aécio disse que não fez, eu disse: “além disso tem que dar prevalência à Justiça”. Segundo, a Justiça vai ter que separar os vários tipos de crime. Eu não usei crime para (classificar) caixa 2: “é algo errado que tem que ser punido”, disse. “Errado”, que tem que ser punido, é um delito. Mas é separado. Eu te mato, é uma coisa, e dou uma surra nele, é outra coisa. Os dois estão errados: dar surra ou matar. Mas é diferente. Então foi isso que eu disse. Aquela nota foi lida, porque estava num momento tenso no Brasil, como se eu quisesse borrar os malfeitos. Não era essa a intenção Era: “há malfeitos e malfeitos, vamos distinguir”. Quem foi que disse a mesma coisa que eu? Uma pessoa que não conheço, o Deltan Dallagnol (coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato). Ele disse: “nós não estamos visando o caixa 2, nós estamos visando corrupção”. Pode ser no caixa 1, no caixa 2 ou fora deles. Isso quer dizer que o caixa 1 ou caixa 2 não sejam passíveis de punição? É passível. Mas não sou eu quem julga se é caixa 1 ou caixa 2, se é corrupção, se não é, é a Justiça.

Qual sua opinião sobre a lista fechada?

Nunca tive alinhamento com a lista fechada. Isso era uma ideia do PT. Se for lista fechada, eu prefiro o sistema belga. A lista é fechada, mas o eleitor escolhe a ordem. Porque se não você está na mão dos caciques. Mas a minha maior dúvida é outra: não tem partido no Brasil. Eu vi recentemente uma pesquisa. Tem mais ou menos três partidos que o povo conhece: o PT, o PMDB e PSDB, e um pouquinho do PSOL. O resto é nada. Você vai fazer o povo escolher entre esses três?

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.