Golpe da renda extra mancha imagem de influenciadores e causa briga entre Juliette e Deolane; entenda como funciona

Prática consiste em enganar usuários com promessas de ganhos fácies apenas curtindo fotos e avaliações de produtos

  • Por Guilherme Strabelli e Thiago Caetano
  • 16/04/2023 14h00 - Atualizado em 16/04/2023 14h07
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Solen Feyissa/Unsplash pessoa segurando celular com logo do instagram Usuários afirmam que são enganados com promessas de ganhos fácies pelas redes sociais

Ganhar uma renda extra apenas curtindo postagens em redes sociais ou avaliando produtos. Parece algo simples e extremamente lucrativo, mas virou uma tremenda dor de cabeça para muitos internautas. O golpe da “renda extra” se popularizou nas redes sociais e ganhou impulsão graças a influenciadores. Algumas plataformas prometem ganhos que ultrapassam os R$ 300 por dia e contam com a ajuda de personalidades da mídia para atestar credibilidade. No entanto, de acordo com seguidores que se sentiram lesados, o método traz vantagens apenas para os golpistas. Uma taxa inicial é cobrada para os interessados e o retorno prometido dificilmente é alcançado.

Durante entrevista ao programa Morning Show, da Jovem Pan, da última quarta-feira, 12, o criador de conteúdo Guga Figueiredo falou sobre a onda de golpes que estaria sendo divulgada por grandes influenciadores. “O primeiro ponto é que os golpistas criam aplicativos que seduzem os consumidores, dizendo que eles vão ganhar dinheiro fácil. Apenas com o celular na mão ele vai fazer dinheiro curtindo fotos no Instagram, ouvindo música, vendo YouTube e Netflix, avaliando roupa da Shein. Como funciona o golpe: esses aplicativos são pagos, mas ninguém vai comprar sem ter alguém para divulgar.

Aí que entra o papel dos influenciadores, é o poder do convencimento, de convencer o seguidor a cair naquele golpe”, explica Guga, que continua. “Os influenciadores fingem que estão sacando dinheiro da plataforma, que estão ganhando dinheiro ouvindo música e avaliando roupa da Shein. Eles abrem e mostram que há dinheiro na conta do aplicativo. Isso para quê? Para enganar e persuadir o seguidor a comprar o aplicativo, paga em torno de R$ 97, e os golpistas prendem a pessoa na plataforma por sete dias, tempo que o consumidor teria para pedir reembolso. […] Passando os sete dias, o consumidor não consegue pedir reembolso e fica no prejuízo”.

Questionado pelos participantes do programa, Guga citou alguns nomes que estariam ligados à divulgação de golpes: as influenciadoras Bia Miranda e Emily Garcia e a cantora sertaneja Gabi Martins, classificada por ele como uma “das maiores divulgadoras desses aplicativos do Brasil”. No portal Reclame Aqui, que registra queixas de consumidores sobre empresas, o nome das três citadas por Guga aparece em reclamações do gênero. Na maioria dos casos, consumidores dizem que compraram os produtos após verem publicidades nos perfis das influenciadoras e não conseguido acessar ou sacar nenhum valor.  Os principais aplicativos citados são o InstaMoney e o Money Looks. Guga também disse querer acreditar que os influenciadores não sabem que estão divulgando golpes, mas ressalta: “Tem um fato incontestável. Se a pessoa não sabe que está divulgando um golpe, porque ela está fingindo que está sacando dinheiro da plataforma?”. O site da Jovem Pan procurou as equipes das três artistas, mas, até o momento, não obteve retorno. O Money Looks afirma que não tem parceria com os influencers e que não oferece metas a serem batidas no aplicativo. “Sempre alertamos sobre golpes, não temos culpa se outros os aplicam.” O perfil que se apresenta como InstaMoney no Instagram não respondeu aos pedidos da reportagem.

Reclame Aqui

Reclamações no site do Reclame Aqui, plataforma usada por consumidores insatisfeitos (Reprodução/Reclame Aqui)

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Uma vítima, que preferiu não se identificada, conta que presenciou diversas pessoas divulgando um aplicativo onde o interessado ganhava renda curtindo fotos, chamado InstaMoney. Ela leu a proposta e, quando concordou com os termos, um site de uma plataforma chamada Braip abriu automaticamente, exibindo preços e questionando se o interessado queria incluir um material para turbinar os ganhos. Ela não concordou, queria apenas o aplicativo. Mas, em seguida, ao aceitar, um valor foi debitado do seu cartão. “Percebi que incluíram juros. Chegou um e-mail com o acesso ao aplicativo somente e não veio nota fiscal da compra”, revelou. Ela acessou o aplicativo e viu que o usuário pode curtir um número limitado de fotos por dia, com ganho de R$ 1 a cada curtida. Segundo relato da vítima, o aplicativo não computava algumas curtidas e só liberava saque de R$ 250. “Demoraria [para conseguir um valor alto], considerando que o limite de foto diária era pouco e o aplicativo ainda me sabotava”, disse. A empresa não respondia aos e-mails sobre a nota fiscal do produto, por isso ela resolveu procurar seu banco, que explicou sobre o processo de disputa. Ela insistiu e entrou novamente em contato com a empresa, exigindo o reembolso. “A política da empresa falava que se a loja que me vendeu, se não respondesse em cinco dias úteis, automaticamente cancelaria a compra”. Depois do susto, a própria empresa estornou o valor. “Fique bastante preocupada.”

Indignada com a publicidade que tomou conta das redes socias, a cantora e vencedora do Big Brother Brasil 21, Juliette Freire, alertou seus seguidores sobre esse tipo de golpe. “Seguinte: vocês se lembram que, um tempo atrás, alertei aqui para ter cuidado com essas propagandas que colocam a minha imagem dizendo que estou estimulando a compra de jogos ou de uma forma fácil de ganhar dinheiro, esse tipo de mídia? Falei para vocês terem cuidado que não é verdade. […] Tenham muito cuidado, muito cuidado de que forma vocês estão sendo influenciados. Não existe fórmula mágica, minha gente, não existe nada fácil. Estou protegendo os meus e vocês são os meus. Não acreditem, desconfiem tanto dessas propostas mirabolantes, de produtos com promessas mirabolantes e de pessoas que fazem isso”, disse Juliette. A influenciadora Deolane Bezerra se sentiu atingida e, sem citar Juliette, respondeu. “Essa semana surgiram aí alguns comentários de grandes artistas renomados no Brasil, metendo o pau nos influenciadores e eu gostaria de falar para vocês uma coisa: não generalizem, está bom? Quando eles falam: ‘Pestem atenção em quem vocês seguem, em quem influencia vocês…’ Realmente, prestem bem atenção”, declarou. Apesar da declaração, a viúva de MC Kevin não é citada em reclamações sobre aplicativos que prometem renda extra. 

Em entrevista ao portal da Jovem Pan, Renata Aidar Garcia Braga Netto, advogada especialista em direito civil e imobiliário e sócia do escritório Guarnera Advogados, falou sobre o tema, dizendo que os influenciadores, à ótica do direito do consumidor, podem ser equiparados ao fornecedor do produto e, por isso, serem responsabilizados. “Os influenciadores digitais usam sua imagem e credibilidade, na maioria das vezes de forma monetizada, para influenciar seus seguidores a adquirir um produto ou usar um serviço. Portanto, a responsabilização pelos danos causados ao consumidor, em razão de divulgações feitas em suas redes sociais e golpes, pode, sim, ocorrer, e de forma objetiva, principalmente quando se trata de uma atividade publicitária e remunerada que causou um dano efetivo ao consumidor”, disse Braga Netto. A advogada também destacou ser importante que os influenciadores estejam atentos aos produtos e serviços que representam e divulgam. “A legislação consumerista é rigorosa quando envolve propaganda enganosa, golpe e fraude contra consumidores”. Caso sejam condenados, os influencers podem acionar os autores do golpe na Justiça por uso da imagem para divulgação.

O que fazer em caso de golpe?

Renata Braga Netto alerta que, caso o consumidor caia em algum golpe, precisará tomar algumas medidas imediatamente, sendo a primeira realizar um Boletim de Ocorrência com comprovantes do crime. Caso dados de cartões tenham sido fornecidos ou estejam em risco, é necessário contatar a operadora e o banco para realizar o bloqueio. Senhas possivelmente comprometidas também devem ser expostas. “O consumidor, vítima desses golpes, pode-se valer do Judiciário para pleitear do fornecedor a reparação dos danos que lhe foram causados, com base tanto na legislação civil como no Código de Defesa do Consumidor”, explica a advogada.

A legislação, salienta a especialista, não acompanhou os avanços tecnológicos e por isso requer mudanças. Mas, até lá, os consumidores devem ficar atentos e desconfiar de situações suspeitas. “Seguramente a mudança e adequação da legislação são fundamentais para proteção dos consumidores e até mesmo inibição desses crimes. Até que isso aconteça, cabe aos consumidores o máximo de atenção e cuidado. Fiquem sempre atentos a ofertas mirabolantes, com promessas de lucros altos e ganho fácil. Não forneçam informações pessoais a sites que não sabem a procedência. Não informem dados de contato e, principalmente, informações bancárias e dados do seu cartão de crédito a terceiros”, alertou.

Confira a entrevista de Guga Figueiredo ao Morning Show:

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