Governo anuncia dispersão de caminhoneiros de rodovias federais; só 5 Estados registram bloqueios
Segundo Ministério da Infraestrutura, paralisações são mantidas apenas na Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina
O governo federal anunciou nesta quinta-feira, 9, a liberação de parte das rodovias bloqueadas por grupos de caminhoneiros pelo segundo dia seguido. Segundo o Ministério da Infraestrutura, o mapeamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) identificou pontos de concentração em 14 Estados, mas com interdição em apenas cinco: Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. Nos Estados de Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Rondônia, Pará e Roraima o trânsito está liberado, mas ainda há abordagem a veículos de cargas. A mobilização é feita majoritariamente por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ocorre após a escalada do tom do chefe do Executivo contra membros do Judiciário durante manifestações no feriado de 7 de Setembro. O presidente divulgou um áudio nesta quarta-feira, 8, pedindo para que os grupos desbloqueiem a via. Segundo Bolsonaro, a mobilização prejudica “os mais pobres”. “Falar para os caminhoneiros aqui, que são nossos aliados. Esses bloqueios atrapalham a nossa economia e isso provoca desabastecimento e inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Então dá um toque nos caras, se for possível, para liberar para gente seguir a normalidade. Deixa com a gente em Brasília aqui agora. Não é fácil negociar aqui, mas nós vamos buscar uma solução”, disse.
O pedido foi reforçado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que divulgou um vídeo para atestar a veracidade do áudio. “Essa paralisação ia agravar efeitos da economia que ia impactar os mais pobres, os mais vulneráveis. A gente sabe que há uma preocupação de todos com a melhoria do país, com a resolução de problemas graves, mas nós não podemos tentar resolver um problema criando outro”, afirmou o auxiliar presidencial. O presidente afirmou nesta manhã que irá se reunir com lideranças dos caminhoneiros para tentar suspender as paralisações. “Eu tenho uma hora na manhã, já tenho o tempo tomado com o pessoal dos BRICS, uma hora, mas estou mais cedo também. Nesses dois intervalos vou conversar com os caminhoneiros para a gente tomar uma decisão”, disse em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada.
O ato foi contestado por empresários e entidades do setor. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, Urubatan Helou, diretor-presidente da Braspress, uma das principais transportadoras do país, pede para que a PRF, a Polícia Federal (PF) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) controlem a situação e desbloqueiem as rodovias. “Não podemos repetir 2018, quando houve aquela greve dos caminhoneiros. O Brasil não pode ficar desabastecido”, afirmou. Em nota de repúdio, a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) afirmou que o movimento é de natureza política e não possui relação com as bandeiras e reivindicações da categoria. “Preocupa a NTC o bloqueio nas rodovias o que poderá causar sérios transtornos à atividade de transporte realizada pelas empresas, com graves consequências para o abastecimento de estabelecimentos de produção e comércio, atingindo diretamente o consumidor final, de produtos de todas as naturezas inclusive os de primeira necessidade da população como alimentos, medicamentos, combustíveis, etc”, afirma o texto assinado pelo presidente da entidade, Francisco Pelucio. “A NTC deixa claro que não apoia esse movimento, repudiando-o, orientando as empresas de transporte a seguirem em sua atividade e orientando os seus motoristas para em caso de bloqueio ao trânsito dos seus veículos acionarem imediatamente a autoridade policial solicitando sua liberação.”
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo, Tayguara Helou, há sim que avançar em reivindicações, mas não é dessa forma que as pautas devem ser discutidas. “O custo do óleo diesel é alto, da carga tributária do setor, os insumos no setor custam muito caro, mas não é paralisando que vamos resolver isso. A economia não se movimenta e ela não se adequa a um setor por meio de uma paralisação, da violência. Em alguns pontos as pessoas estão incitando violência. As empresas transportadoras de cargas não vão parar, não aceitamos uma situação como essa.” O diretor da Associação Brasileira de Revendedores de Combustíveis Independentes e Livres, Rodrigo Zingales faz um alerta sobre o que as paralisações podem representar para a economia. “Isso vai gerar simplesmente todo um efeito cascata. Se eles pararam vou ter menos combustível na rua, menos alimentos, menos medicamentos, menos bens essenciais. A população vai ficar refém, de novo, dessa escassez de bens de primeiríssima necessidade e as indústrias vão parar de produzir, o comércio vai parar de vendar e vamos ter perdas no PIB”, pontua.
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