Impeachment é como “bomba atômica” e serve como persuasão, compara cientista político

  • Por Jovem Pan
  • 15/03/2015 16h47
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O internauta Guga Machado nos enviou fotos do protesto em São José do Rio Preto/SP. Crédito Guga Machado Protestos 15 de março de 2015

Em entrevista à Jovem Pan, o cientista político Rubens Figueiredo, pós-graduado pela área na USP, comentou os protestos contra o governo que levaram mais de um milhão de pessoas às ruas neste domingo (15). Figueiredo vê a sociedade “com muita força e capacidade de mobilização e muito mais atenta ao que está acontecendo”.

Sobre as consequências políticas do ato, o analista não entende que o impedimento da presidente Dilma acontecerá, mas avalia o uso político da força de sua expressão. “O impeachment é uma arma de persuasão”, considera. “É igual a bomba atômica: todo mundo fala que vai jogar, mas jogar é muito complicado”, comparou.

Figueiredo entende que o governo “tem que fazer um pacto político que amplie o núcleo de decisão do estado”, uma “maior abertura”.

Collor x Dilma

Uma comparação que Figueiredo fez foi a de Dilma com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que renunciou após ter enfrentar sete meses de um processo de impeachment contra ele.

“Eu vejo uma diferença muito grande no caso do Collor e no caso da Dilma. O Collor não tinha partido, já Dilma tem um partido bem estruturado. O Collor governava com os amigos dele. A Dilma governa com partidos com interesses muito bem definidos. Como disse o presidente Fernando Henrique Cardoso, o impeachment é uma arma de persuasão. Em algum momento há de haver uma autocrítica a partir da presidenta. Não há outras solução a não ser uma solução política. É uma crise política porque é uma crise de confiança. Acho difícil uma saída política de um partido só, de uma presidente só, colocando goela abaixo da sociedade aquilo o que ela acha melhor”, considerou.

Comparações

O professor também comparou os atos deste domingo com as manifestações pelas Diretas Já em 1984 e com os movimentos populares das ruas em junho de 2013. “Se em 2013 foi mais ligado ao aspecto da sociedade, hoje acho que as manifestações tem um tom mais de sentimento”, classificou.

“Na época das diretas já, era uma coisa muito específica, era só pelas diretas. Hoje as pessoas estão muito mais informadas, principalmente em decorrência das redes sociais, que era uma coisa que não tinha naquela época”, disse.

Protestos de sexta

Figueiredo também avaliou os protestos a favor do governo da última sexta, 13, quando mais de 12 mil pessoas foram à Av. Paulista – e milhares em outros estados, defendendo a Petrobras e contra o que eles chamavam de movimento “golpista”.

“A manifestação que aconteceu na sexta ajudou a confundir um pouco as coisas. Ninguém é contra a Petrobras, e sim ao que acontece com ela. Quem está na Paulista não é contra a democracia. Essa tentativa de confundir, certamente, ajuda a colocar quem está na rua como inimigo da democracia”, ponderou.

Figueiredo, por fim, vê possibilidades de mudanças.

“Eu tenho certeza que o Brasil tem chances de estar com menos corrupção. Com uma manifestação como essa que estamos vendo, desta magnitude, o Brasil não pode ser igual como antes. As elites políticas, os partidos econômicos vão passar a encarar a sociedade como tendo uma capacidade de mobilização muito intensa. Não podemos ver o depoimento de Pedro Barusco com naturalidade”, afirmou.

Ouça a entrevista completa no áudio acima.

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