Marcola e PCC: visitas ao chefe da facção revelam plano de fuga e conselhos ao filho

Gravações entre o líder do grupo criminoso e sua família foram monitoradas durante um ano e meio; Polícia Federal identificou códigos utilizados para tratar sobre escape do detento

  • Por Jovem Pan
  • 15/08/2022 15h21
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Joedson Alves/Estadão Conteúdo - 21/08/2001 Marcola Marcos Willian Herbas Camacho, o Marcola, confessou em conversa com sua esposa que planeja escapar das prisões

O líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Marco Willians Herbas Camacho, popularmente conhecido como Marcola, passou a ser alvo de investigações da Polícia Federal após o criminoso utilizar o parlatório das penitenciárias onde esteve detido para enviar mensagens cifradas. Segundo os agente de segurança pública e gravações obtidas pela Rede Globo e TV Record, Marcola – que já foi condenado a mais de 300 anos de prisão -, utilizou em uma conversa com sua esposa, Cynthia Giglioli Herbas Camacho, uma referência aos seus processos no “STF” e no “STJ”. A siglas, porém, são referências a dois planos de fuga do líder do PCC e de outras figuras importantes do grupo criminoso das Penitenciárias Federais de Brasília e Porto Velho. “Eu queria um favor do doutor Bruno [membro do PCC fora da prisão], que eu estou pedindo para ele três meses um advogado que cuida de instância superior [planos de fuga]. Eu gostaria muito que, quando ele viesse aqui, ele viesse com a resposta já se o cara vai vir ou não vai, porque daí eu contrato outro. (…) Para STF, STJ [planos de fuga]. Essas coisas, entendeu?”, pediu Marcola a sua companheira.

Com o deslize de Marco Willians, a Polícia Federal conseguiu identificar as mensagens. Isso porque outros membros do grupo já haviam conversado com suas advogadas sobre processos em instâncias superiores sem que houvessem pedidos de soltura no Supremo Tribunal Federal (STF) ou no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em fevereiro de 2021, o detento Esdras Junior – preso no Mato Grosso do Sul e transferido para a Penitenciaria de Brasília – se encontrou com sua advogadas Kassia Assis. Em diversas conversas no parlatório, sua representante fazia menções às siglas STF e STJ. Investigações da Polícia Federal durante uma quebra de sigilo telefônico de Kassia possibilitou ao órgão entender do que se tratavam os códigos. ‘Plano STF’ era uma referência a uma tomada violenta da Penitenciária Federal de Brasília, onde Marcola encontrava-se detido na época. O grupo criminoso planejava realizar mega-assaltos a bancos em cidades no interior do país e dificultar o acesso dos policiais fechando rodovias próximas e isolando unidades policiais. Já o ‘Plano STJ’ era um código para orquestrar o sequestro de autoridades e seus familiares do sistema penitenciário. Por último, ainda havia um plano ‘suicida’ que seria colocado em prática com a tomada de um servidor público como refém para que uma rebelião fosse iniciada no presídio.

Com a resolução das mensagens criptografadas, a Polícia Federal deflagrou na última quarta-feira, 10, a Operação Anjos da Guarda. Com ela, agentes de segurança pública cumpriram 11 mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal (Brasília); Mato Grosso do Sul (Campo Grande e Três Lagoas) e São Paulo (capital, Santos e Presidente Prudente). De acordo com o órgão, o plano do Primeiro Comando da Capital era de viabilizar um plano de fuga utilizando uma rede ilegal de comunicação através de advogados durante visita aos detentos. Os profissionais transmitiam e entregavam mensagens codificadas de líderes do grupo criminoso que estavam nas ruas para os membros detidos. Ao menos quatro defensores foram presos com envolvimento nos planos. A esposa de Marcola também foi alvo da ação.

Conselhos ao filho sobre o crime

Em outro momento, Marco Willians Herbas Camacho sugeriu ao seu filho que não começasse a fumar e nem a se envolver com drogas. Segundo o conselho de Marcola, “fumar é coisa de mané”. O vídeo foi gravado no dia 12 de janeiro no parlatório da Penitenciária Federal em Porto Velho (RO). Em seguida, o líder do PCC desestimula o adolescente de 13 anos a entrar para o mundo do crime. “Esse negócio de ficar dando tiro de soft [armamento não letal] nos outros é coisa de bandido. O maior trauma meu é que você siga meus passos. Você estuda num colégio bom, mora num lugar maravilhoso. Tem roupa bacana, família da hora. Então, qual é a revolta? É por que o pai está aqui?”, questiona Marcola. Por fim, Cynthia Herbas Camacho expõe o medo de seu marido ser executado dentro do sistema prisional. A possibilidade é rechaçada por Marcola. “Estou preocupada com a sua vida. Meu medo é eles matarem você”, confessa a esposa. “Esses caras são tudo meu filho”, diz o líder da organização criminosa.

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