Marconi Perillo, do PSDB, rebate citações da Odebrecht e as classificam como “balela”
O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), convocou uma coletiva de imprensa nesta terça-feira (16), para se defender das delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato.
Em uma sala no Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano, Perillo exibiu em um telão os trechos dos vídeos de delações que citam seu nome e, durante uma hora, procurou rebater cada citação e responder a perguntas de jornalistas. Ele negou que tenha recebido ou negociado qualquer valor ilícito para suas campanhas eleitorais de 2010 e 2014 e disse ter certeza que a verdade será restabelecida no Superior Tribunal de Justiça, órgão que pode autorizar a abertura de inquérito contra o governador.
Em relação à principal acusação que consta nas delações, de que teria pedido uma contribuição de R$ 50 milhões da empreiteira para a campanha de reeleição, em 2014, o tucano afirmou que essa citação chega a ser “ridícula”.
“Isso é falso e desconectado com a realidade. Nem se eu fosse candidato a presidente teria tamanha ousadia”, disse o governador. Em outro momento da coletiva, Perillo classificou a acusação como “balela” e uma “conversa sem pé nem cabeça”.
Ele confirmou que conversou com o empreiteiro Marcelo Odebrecht para pedir uma contribuição, assim como fez com outras grandes empresas, mas que não conversou sobre valores.
O governador ressaltou que a Odebrecht doou R$ 300 mil para sua campanha ao governo de Goiás em 2010 e mais R$ 2,2 milhões para a reeleição, em 2014. Ele afirmou que a coligação arrecadou, em 2014, R$ 34 milhões para todas as campanhas majoritárias no Estado de diversas empresas. “Não tem menor cabimento pedir a uma empresa um valor que poderia corresponder ao gasto de toda a campanha, não teria nem amparo legal ter um único doador”. O tucano afirmou que não houve, durante seu governo, qualquer favorecimento à Odebrecht em obras e licitações e que não é possível configurar alguma troca ilícita entre sua gestão e a empreiteira.
O governador goiano alegou que todas as contribuições eleitorais foram registradas e aprovadas na Justiça Eleitoral e que nunca pediu ou recebeu dinheiro de caixa 2 para campanhas. De acordo com as delações, a empreiteira acabou pagando caixa dois de R$ 8 milhões à campanha de Perillo. Em 2010, o tucano já havia recebido R$ 2 milhões de caixa dois à primeira campanha, ainda segundo os depoimentos de colaboradores.
“Não cometemos nenhum ato de corrupção e desvios, acusações que, é bom repetir, sequer constam no pedido de investigação. Mais do que isso, não recebemos nenhuma doação ilegal ou de caixa dois nas campanhas. Às vezes eu era acusado de ter feito campanhas caras, o que sempre ocorreu é que sempre fiz campanhas transparentes”, disse o governador.
Ele ainda apontou que adversários declararam campanhas baratas, mas receberam dinheiro de caixa dois. “Muitos fizeram caixa 2 e às vezes não são citados”, apontou o governador, que disse não ter como provar que outros políticos receberam caixa 2.
“Mas, no nosso caso, nós sempre colocamos no teto os valores de campanha para que realmente nós fizéssemos as campanhas sem a necessidade de caixa dois”, declarou.
Constrangimento
O tucano disse ainda que ficou constrangido com as delações e acusou setores da imprensa de nivelar todos os políticos “por baixo”. “É evidente que as citações me constrangem, como constrangem a qualquer cidadão de bem e a qualquer democrata. Entretanto, tenho a cabeça erguida e a consequência tranquila de que nada fizemos de errado”, declarou.
Perillo também dirigiu ataques aos delatores, afirmando que não se pode acreditar em afirmações feitas “sob pressão”.
“Aliás, quem pode dizer que vários desses delatores, que várias dessas empresas, não embolsaram parte do dinheiro que deveria ser destinado a caixa dois, propina. Quem pode comprovar que isso não teria acontecido?”, questionou.
O goiano disse que fará sua defesa no STJ, se houver uma denúncia, e que a “verdade vai prevalecer”.
Críticas
Criticando a “superexposição” gerada pelo Judiciário, Ministério Público e pela imprensa, o governador afirmou que parte desses setores querem nivelar toda a classe política “por baixo” e até aniquilar os políticos.
“Eu não sei quem é que substituiria pessoas tão experientes que estão na política em um momento tão grave como passa o Brasil”, disse Perillo. “Eu duvido que algum procurador de Justiça desses daria conta de vir ao Executivo e fazer governos avançados, progressistas, transformadores, realizadores”, atacou.
Lula
Durante a coletiva, o tucano também se defendeu da Operação Monte Claro, deflagrada em 2012 e que foi objeto de denúncia do Ministério Público Federal em março deste ano. O MPF ofereceu denúncia contra o governador por suspeita de receber vantagens indevidas para viabilizar contratos do poder público com a Construtora Delta durante seu 3º mandato, entre 2011 e 2012.
Ele classificou as acusações como uma farsa montada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para prejudicar adversários e citou uma decisão judicial que condenou um jornalista por ter divulgado informações sobre a operação.
Autorização da AL
Por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Marconi Perillo e outros governadores citados nas delações da Odebrecht poderão ser investigados no STJ sem necessidade de autorização prévia da Assembleia Legislativa. O governador afirmou que não tem nenhuma preocupação quanto a isso, mas que defendia a prerrogativa dos deputados autorizarem qualquer processo na Justiça.
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