Motos só respondem por 5,5% de todas as multas aplicadas na capital

  • Por Estadão Conteúdo
  • 02/07/2018 09h41 - Atualizado em 02/07/2018 09h57
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Cesar Ogata / Secom Trânsito A falta de fiscalização é tida como fator-chave para entender as 797 mortes no trânsito de motoqueiros só em 2017

É raro ver um motociclista dar seta antes de mudar de faixa nas vias de São Paulo. E comum, por outro lado, se deparar com uma moto fazendo um retorno em local proibido. “Quando a gente está rápido, precisa ser ágil. Não dá tempo de pensar, dar a seta”, reconhece, em meio a risos constrangidos, o motoboy Paulo André Reimer, de 41 anos, há 22 deslizando entre carros para entregar documentos.

Apenas 2,2 mil multas por deixar de dar a seta ao mudar de faixa foram aplicadas aos motoqueiros da capital em 2017, ou 2,5% do total de infrações do tipo anotadas pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Responsáveis por metade dos acidentes de trânsito com vítimas e tidos como “imprudentes”, os motociclistas receberam em 2017 apenas 5,5% de todas as multas de trânsito aplicadas pela Prefeitura. Foram 744,5 mil das 13,3 milhões de infrações anotadas.

Os dados de multas de trânsito são publicados pela CET na internet e foram compilados para o jornal O Estado de S. Paulo pelo consultor de trânsito Horácio Augusto Figueira. A partir desses números, além de afirmar que há pouca fiscalização, ele aponta que o controle também não foca na redução de acidentes. “Se você considera apenas as multas manuais, aplicadas pelos agentes, vê ainda que um terço são de infrações ligadas à fluidez ou estacionamento. Só 66% são para infrações ligadas à falta de segurança”, diz o consultor. Entre os carros, o porcentual é ainda menor: 39% das multas são aplicadas para punir infrações relacionadas à falta de segurança

Só quando a fiscalização é pelos radares é que essa relação é diferente. No caso das motos, 91% das multas são relacionadas à insegurança. Das 555,9 mil multas aplicadas contra motoqueiros por radares, 407 mil foram por excesso de velocidade.

A falta de fiscalização é tida como fator-chave para entender as 797 mortes no trânsito de motoqueiros só em 2017. A proporção – 39% do total de mortes no trânsito -, é estável há décadas. “Temos poucos agentes de trânsito. Acreditamos que a cidade deveria ter ao menos duas vezes mais do que os 1.250 que temos hoje”, afirma o presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Sistema de Fiscalização e Planejamento Viário (Sindiviários), Reno Ale.

Mesmo com a evolução tecnológica dos radares, que podem apontar 12 tipos de infração, “é difícil fiscalizar as motos”, opina o engenheiro de trânsito Luiz Célio Bottura, ex-ombudsman da CET. “Os motoqueiros tampam as placas, que já são pequenas; e alguns aparelhos não leem em duas linhas”, diz. Para ele, “se bolassem novas formas de captar as infrações cometidas pelas motos, as multas aumentariam”.

E não é preciso contar com a percepção do dia a dia para cravar que motoqueiros desrespeitam mais as regras e poderiam ser mais multados. Um relatório chamado Controle de Qualidade da Segurança do Trânsito (CQST), feito por técnicos da CET em 2016 em 15 cruzamentos da cidade, já apontou que ao menos 59% dos motoqueiros que passaram por esses pontos de controle cometiam ao menos uma infração, em uma rodada de pesquisa feita nos dias úteis de setembro e novembro daquele ano. Em uma rodada anterior, entre junho e agosto, o porcentual foi de 63%. Para comparação, entre os carros esse índice chegou a 44% na amostra que mais pegou infrações.

Quem não concorda muito com isso são os motoqueiros. “Já somos fiscalizados demais. Há muito mais blitze para motos”, diz o presidente do Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas e Mototaxistas do Estado de São Paulo (SindimotoSP), Gilberto Almeida dos Santos. “Não é só mais fiscalização que reduz acidentes. Há uma série de fatores: melhor condição das vias, mais campanhas de educação, melhor formação dos condutores”, aponta. “Tem um monte de motoqueiros que respeitam regras.”

Um deles é o motoboy Elias Barbosa Monteiro, de 33 anos. Condutor de moto há oito anos, e trabalhando como motoboy há 15 dias, ele diz que nunca foi multado. “Procuro manter a atenção”, afirma.

Rigor

A CET rebate o baixo porcentual de multas para motos dizendo, em nota, que “mantém total rigor na fiscalização para coibir abusos de velocidade e a imprudência de motociclistas”. “O que precisa ser analisado é o comportamento do condutor, que é determinante para o cumprimento das regras de trânsito.” A companhia afirma que o total de multas aplicados aos motociclistas está em ascensão. “Em 2018 (jan-fev) foram 6,70% do total de penalidades, ante 5,57% em 2017 e 5,25% em 2016.” A CET ainda cita a compra de radar-pistola para fiscalização específica, a proibição do tráfego na pista central da Marginal do Tietê de madrugada e as blitze com a PM. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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