‘Nosso povo precisa de oxigênio, precisa respirar’, diz governador do Amazonas

Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, Wilson Lima relata cenário de guerra no estado e pede que população cumpra o distanciamento social; nesta quinta, governo baixou decreto impedindo circulação de pessoas das 19h às 06h

  • Por André Siqueira
  • 14/01/2021 17h14 - Atualizado em 14/01/2021 19h05
Diego Peres/Secretaria de Comunicação do governo do Amazonas Governador em coletiva Governador baixou decreto que proíbe a circulação de pessoas entre 19h e 6h

Diante do aumento do número de casos de coronavírus, o estado do Amazonas enfrenta o colapso da rede hospitalar. Em algumas unidades, como o Hospital Universitário Getúlio Vargas, funcionários afirmam que não há oxigênio para atender os pacientes, que têm sido submetidos a oxigenação manual. Em entrevista exclusiva à Jovem Pan, o governador do estado, Wilson Lima (PSC), afirmou que o cenário local é de guerra, deu detalhes sobre o plano de ação, desenvolvido em conjunto com o Ministério da Saúde, para o transporte de pessoas hospitalizadas para outros estados, e pediu à população que mantenha o distanciamento social.

“A situação em nosso estado é muito difícil. É bem difícil. Os casos de Covid-19 aumentaram significantemente nos últimos dias. Há indícios de uma variante diferente, com várias mutações e com poder maior de transmissibilidade. Isso fez com que várias pessoas fossem infectadas, superlotando as nossas unidades. Ontem, tive uma reunião com a empresa responsável pelo fornecimento do oxigênio para o estado. Me informaram que tínhamos um pouco mais de fôlego para atender a rede hospitalar, mas, no fim da noite, fui comunicado que não haveria mais condições de fornecer oxigênio em quantidades suficientes. Temos cinco unidades com seus estoques em estado críticos. É uma situação bem difícil porque temos mais que o dobro de internações quando da época do primeiro pico da pandemia”, disse Wilson Lima à Jovem Pan.

Nesta quinta-feira, 14, Lima baixou um decreto que prevê o fechamento de todas as atividades não essenciais entre 19h e 6h e a suspensão do transporte coletivo de passageiros. Em coletiva de imprensa ao lado de membros do comitê de enfrentamento à Covid-19 do estado, o secretário de Atenção Especializada à Saúde, coronel Luiz Otávio Franco Duarte, afirmou que o consumo diário de oxigênio no Amazonas é de 76.500 metros cúbicos, enquanto a produção da empresa responsável pelo fornecimento é de 28.200 metros cúbicos. Há, portanto, um déficit diário de quase 50.000 metros cúbicos. Diante do cenário, o Ministério da Saúde, em parceria com o governo estadual, criou uma força-tarefa para garantir a transferência de pacientes com quadro de saúde moderado para outros estados.

De acordo com Wilson Lima, entre esta quinta-feira, 14, e a sexta-feira, 15, cerca de 100 pacientes serão transportados para Goiânia. O governador explica que a transferência é um processo complexo, uma vez que as aeronaves responsáveis pelo trajeto precisam ser adaptadas, mas ressalta que o Ministério da Saúde se disponibilizou a auxiliar a transferência de 750 pacientes. “Se conseguirmos realizar a transferência de todas essas pessoas, teremos uma normalidade na rede. Nossas unidades estão superlotadas. Estamos trabalhando no limite. Tínhamos o planejamento de abertura de 200 leitos, mas eles não podem ser abertos sem oxigênio. Trabalhamos no limite torcendo para que consigamos receber cargas de oxigênio para evitar algo ainda pior”, afirmou à Jovem Pan.

O governador também fez um apelo à população do Amazonas. No final do mês de dezembro, moradores de Manaus realizaram um protesto contra o fechamento do comércio na capital do estado. “Faço um apelo às pessoas do nosso estado. Sigam as orientações dos profissionais de saúde. O que estamos fazendo de medida restritiva não é o que gostaríamos de fazer, mas é o que é necessário. A ciência não nos aponta outro caminho que não seja o distanciamento social para quebrar essa onda de contágio. Estamos numa guerra e essa guerra só será vencida se estivermos juntos. Todos olham para a Amazônia quando há uma queimada, um problema de meio ambiente. Agora, precisamos trabalhar para proteger o ser humano. Nossas equipes estão exaustas, mas não vou arredar o pé enquanto não encontramos soluções para o nosso povo. O nosso povo precisa de oxigênio, nosso povo precisa respirar”, acrescentou.

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