Greenfield confirma afastamento de procurador e diz que enfrenta ‘grave deficiência estrutural’

Força-tarefa investiga fraudes em fundos de pensão e atuou em apurações como a do bunker dos R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel Vieira Lima

  • Por Jovem Pan
  • 04/09/2020 17h01 - Atualizado em 04/09/2020 17h03
Wilson Dias/Agência Brasil Wilson Dias / Agência Brasil Anselmo Henrique Cordeiro Lopes trocou de ofício com Cláudio Drewes, procurador-chefe do MPF no Distrito Federal

Ao divulgar prestação de contas nesta sexta-feira, 4, a força-tarefa Greenfield — que investiga fraudes em fundos de pensão e atuou em apurações como a do bunker dos R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel Vieira Lima — confirmou o afastamento do procurador natural Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, e disse que enfrenta um “cenário de grave deficiência estrutural e dificuldades junto à Procuradoria-Geral da República”. Anselmo trocou de ofício com Cláudio Drewes, procurador-chefe do Ministério Público Federal no Distrito Federal, sendo que a mudança começa a valer na próxima terça, 8.

Lopes era o único procurador exclusivo da Greenfield, que no início de seus trabalhos contava com cinco integrantes que se dedicavam somente às investigações do grupo. Juntamente com o relatório das atividades da chamada ‘terceira etapa’ da força-tarefa, a Procuradoria da República no Distrito Federal divulgou uma carta aberta escrita pelo procurador natural explicando sua decisão de se afastar dos trabalhos da Greenfield. Ele afirmou que sua saída foi motivada pela “insatisfação com a insuficiência de dotação de uma estrutura adequada de trabalho à Força-Tarefa”.

“Hoje, a Greenfield é um universo imenso de casos e investigações, que envolve cifras bilionárias (ou trilionárias, considerando que temos dados bancários que somam cerca de três trilhões de reais, ao todo, em casos de nosso Simba), sendo de grande relevância e impondo enorme responsabilidade, não sendo possível que um só procurador da República se dedique com exclusividade a esse complexo investigativo. Por maior que seja o espírito público e a vontade de lutar pela Justiça, permanecer como único membro de dedicação exclusiva à força-tarefa pareceu-me inaceitável”, justificou.

Demissões na Operação Lava Jato

A mudança da Greenfield se dá em meio a um período delicado para diferentes forças-tarefa do País. Na terça, 1º, o procurador Deltan Dallagnol anunciou sua saída do comando da Lava Jato em Curitiba para “cuidar da saúde da família”. No dia seguinte, os procuradores da força-tarefa paulista pediram demissão em massa por “incompatibilidades insolúveis” com a procuradora natural do ofício ao qual o grupo é ligado. No relatório das atividades realizadas pela equipe entre agosto de 2019 e julho de 2020, a Greenfield aponta ainda que o período foi “marcado por reduções na força de trabalho e por dificuldades na prorrogação da força tarefa pela PGR”, que solicitou a prorrogação dos trabalhos por sucessivas vezes, tendo o procurador-Geral da República, Augusto Aras, autorizado a continuidade das atividades no último dia de prazo previsto, mas deixando apenas um procurador dedicado às investigações.

“Assim, desde o dia 1º de julho deste ano, a força de trabalho da FT, que já era bastante aquém do necessário (como reiteradamente comunicado à Procuradoria-Geral) para alcançar seus objetivos de maneira eficaz e eficiente, em prazo razoável (afastando-se o risco de prescrição), sofreu grave prejuízo, considerando que todos os membros da FT Greenfield, com exceção apenas do procurador natural, passaram a acumular os trabalhos da FT com o trabalho ordinário de suas lotações de origem”, registrou a Greenfield. Segundo os procuradores, a estrutura proporcionada pela última decisão da PGR incrementa o risco de prescrição das metas ainda não cumpridas, já que o prazo para alcançá-las no cenário definido pelo órgão passou para setembro de 2042.

Números

No ofício em que prestam as contas sobre os trabalhos do último ano, os procuradores destacam os números alcançados pela força-tarefa e também alertam sobre a “imensidão de informações a serem apuradas e a evidente necessidade de que os trabalhos sejam continuados”. Além dos crimes financeiros relacionados a fraudes nos maiores fundos de pensão do país, a Greenfield também atua nas Operações Sépsis, Circus Maximus, Conclave, Tesouro Perdido, Patmos, Cui Bono — no esquema conhecido como quadrilhão do MDB– e Skala — relacionada ao Inquérito dos Portos. A Greenfield é responsável por 48 ações penais e 27 de improbidade. Faz a gestão de acordos de leniência, de colaboração e de reparação envolvendo o pagamento de mais de R$ 11,8 bilhões.

* Com informações do Estadão Conteúdo

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