Sem emprego no Natal da Covid-19, papais noéis fazem bicos com vídeos e Uber

Categoria tenta se virar durante Natal que retirou dos shoppings a principal figura natalina; associação estima redução de até 60% do faturamento em relação ao mesmo período de 2019

  • Por Caroline Hardt
  • 13/12/2020 10h00
ANDRE MELO ANDRADE/IMMAGINI/ESTADÃO CONTEÚDO - 11/12/2020 Com as dificuldades, os Papais Noéis estão se adaptando e buscando alternativas de driblar a crise no segmento natalino

Ensino a distância, comércio fechado por quase sete meses, famílias separadas por longos períodos de isolamento. A pandemia alterou em muitas formas a realidade do mundo, e no universo natalino não seria diferente. Com o perigo das infecções pelo coronavírus e as novas restrições sociais, papais noéis de todo o Brasil enfrentam dificuldades para manter suas atividades – e renda – em 2020. Pertencentes ao grupo de risco da Covid-19, as famosas figuras natalinas estão impossibilitadas de trabalhar presencialmente nos shoppings centers, o que deverá levá-los a uma redução média de 60% do faturamento estimado para o período, avalia o Papai Noel e presidente da Associação de Papais Noéis (Aspanoeis), Marcos Henrique Gomes. Ele conta que centros comerciais, empresas e escolas também cancelaram os tradicionais eventos de final do ano, o que contribui para uma baixa significativa na renda em 2020. “A gente já sabe que, no ano que vem, aqueles que pagam escola para filho ou neto, pagam impostos, tudo com o dinheiro do Natal, terão problema. Vai diminuir sensivelmente a renda do Papai Noel para o ano que vem.”

Com as dificuldades, os papais noéis buscaram alternativas para driblar a crise no segmento natalino e vencer o desemprego em 2020. Marcos Henrique investiu nas gravações, de 30 a 60 segundos. Outros adotaram chamadas de vídeo, propagandas e até mesmo “Uber do Papai Noel” como novas atribuições. “Em Belo Horizonte [por decisão do prefeito Alexandre Kalil], não existe presença física do Papai Noel em centros comerciais neste ano, então eu inventei a ideia do Uber. O responsável agenda pelo WhatsApp, o carro é todo higienizado e usamos máscara o tempo todo. A proposta atende a demanda da criança nesse momento. Ela pode tirar foto, entregar uma carta, fazer pedido de presente”, conta Richard Oelze, Papai Noel há cinco anos. As “corridas do Noel” acontecem na região da Lagoa da Pampulha, na capital mineira. Com duração média de dez minutos, o trajeto é realizado no carro do Papai Noel, sendo que a criança e o bom velhinho sentam nos bancos traseiros e vão conversando pelo caminho. Já o responsável se senta no banco do passageiro, ao lado do motorista, e pode registrar imagens durante todo o trajeto.

Embora a iniciativa seja divertida para os pequenos, ela conta com poucos adeptos. Oelze relata que a procura ainda é baixa e, por isso, ele optou por lançar outra modalidade de trabalho, a “entrega do Papai Noel”. Em conjunto com uma sócia que fabrica chocolates artesanais (e é sua prima), o bom velhinho sai, vestido a caráter, para entregar as encomendas. “A demanda está sendo muito boa. Os dias 22, 23 e 24 já estão, praticamente, fechados de entregas. Fazemos tudo seguindo todos os protocolos de higienização”, comemora, apesar de a estimativa de renda ser significativamente mais baixa em 2020. A viagem com o “Uber Papai Noel” tem custo fixo de R$ 50. A entrega soma, ao valor fixado, o custo estimado por quilômetro rodado. Cada quilômetro custa, em média, de R$ 2 a R$ 5.

Assim como Marcos Henrique e Richard, o Papai Noel Bráulio Rodrigues, que trabalha há oito anos na função, também sofre com as dificuldades financeiras e com a distância imposta pela Covid-19. Emocionado, ele relata que procura alternativas para continuar os trabalhos durante a pandemia, mas sem muito sucesso. “Esse ano não está tendo [trabalho] mesmo, acabou. Eu fiz 11 vídeos para duas fotógrafas, li as mensagens e mandei para as crianças, mas por enquanto apenas isso”, relata. Para o Papai Noel, com o uso de máscara de proteção, face shield, luvas e mantendo o distanciamento, a presença física nos shoppings poderia ter sido mantida. “Eu estou em perfeita condições de saúde, então não teria problema nenhum. Poderia colocar aquela máscara transparente para dar mais segurança para as crianças, e aí não teria problema. Mas sei que é uma situação difícil”, comenta. Bráulio acredita que, independentemente das alternativas tecnológicas adotadas pelos grandes shoppings, a ausência do Papai Noel será percebida pelos pequenos e levará à “quebra do espírito natalino“. Sem conter as lágrimas, ele lembrou das crianças que devem ficar sem o contato com a magia do Natal.

“Para elas, não vai ser legal. Para nós, também não. No shopping é bem diferente, a criança leva uma caixinha, te entrega uma chupeta, uma mamadeira, te entrega a fralda, te leva um pirulito, é muito diferente, o carinho das crianças é muito grande. A gente lembra delas, principalmente das carentes, porque elas não têm de onde tirar presentes, os pais estão desempregados. Então eu quero mandar um Feliz Natal para todas essas crianças”, diz o Papai Noel Bráulio. Já para 2021, o desejo dos três papais noéis é o mesmo: o retorno para os eventos presenciais e a proximidade com os pequenos. “Não existe Natal sem Papai Noel”, opinou Marcos Henrique. “A imagem está atrelada. Esperamos que, no ano que vem, possamos estar juntos. Para todos, a minha mensagem é de união. Reúna a família, mantenha a união, peçam saúde, paz e harmonia. Não só para a família, mas também no país, que é algo que tanto precisamos. E um Feliz Natal, ho ho ho.”

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