Pela 1ª vez, Suíça liga conta investigada na Lava Jato a campanhas eleitorais

  • Por Estadão Conteúdo
  • 10/06/2016 14h35
Agência Brasil Urna eletrônica

Pela primeira vez, o Ministério Público da Suíça ligou uma conta secreta no país investigada no “caso Petrobras/Odebrecht” ao pagamento de gastos em “campanhas políticas na América do Sul e Central”. A suspeita das autoridades é de que a origem do dinheiro é criminosa. O MP suíço não informou quais políticos ou partidos estariam ligados a essas campanhas, mas procuradores em Berna afirmam que o dinheiro depositado na conta está bloqueado e que esses dados foram solicitados por autoridades brasileiras.

A informação foi passada ao jornal O Estado de S. Paulo em resposta a perguntas da reportagem relacionadas à notícia de que o lobista Zwi Skornicki, apontado como operador de propinas pela Operação Lava Jato, fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal brasileiro. 

Preso desde 23 de fevereiro de 2016, Zwi Skornicki repassou US$ 4,5 milhões para a conta secreta na Suíça do marqueteiro do PT, João Santana – preso com a mulher, Mônica Moura, em Curitiba, alvos da Operação Acarajé, desdobramento da Lava Jato. 

“Como parte das investigações sobre o caso Petrobras/Odebrecht, o Escritório do Procurador Geral da Suíça também ordenou o bloqueio de uma conta que era mantida por uma empresa localmente domiciliada”, apontou a procuradoria em um e-mail à reportagem. “De acordo com as informações disponíveis, ela (a conta) foi usada para financiar campanhas políticas na América Central e na América do Sul.” 

Skornicki contou em delação que o valor de US$ 4,5 milhões foi solicitado pelo então tesoureiro do PT João Vaccari Neto “para ajudar a financiar a campanha de reeleição de Dilma Rousseff”. Segundo o MP suíço, “em relação à sra Dilma Rousseff, não existe nenhum processo criminal e nem investigações conduzidas em relação a ela”. 

Além do Brasil, a Suíça já estabeleceu cooperação com o Panamá no caso envolvendo recursos e pagamentos feitos pela Odebrecht. “Nesse contexto, o escritório do Procurador Geral está focando na possibilidade de que esses fundos vinham de atividades criminosas, e não na possibilidade de que eles possam ter sido usados de maneira ilegal”, explicou a Procuradoria.

“Qualquer doação ilegal para campanhas eleitorais e outros objetivos políticos devem ser assunto de investigação nos países concernidos e não são, portanto, do interesse direto das investigações conduzidas pelo Escritório do Procurador Geral “, disse o MP.

Segundo Berna, porém, o Brasil já fez um pedido de cooperação para ter acesso a esses dados e, por enquanto, a solicitação está sendo alvo de uma avaliação. “As autoridades brasileiras pediram à Suíça a cooperação para obter os dados relacionados a essa conta bancária”, confirmou o MP em Berna. “Esse pedido por assistência mútua está sendo atualmente processado”, explicou. 

Defesas

Com a informação de que o lobista Zwi Skornicki fechou delação premiada informando repasses à conta de João Santana, a defesa de Dilma Rousseff rebateu na quinta-feira, 9, “a insinuação de que teria conhecimento de um suposto pedido de R$ 4,5 milhões feito pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto”. 

“É público e notório que o tesoureiro da campanha da reeleição foi o ex-ministro Edinho Silva. Ele é quem tratava da arrecadação para a campanha em 2014. Todas as doações de empresas foram legais e estão na prestação de contas aprovada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, diz a nota.

Já a defesa de Vaccari afirmou na ocasião que a informação do delator não pode ser considerada. “Sem nenhuma comprovação ou credibilidade. Até porque o sr. Vaccari era tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, jamais tendo funcionado como tesoureiro de campanha”.

A Odebrecht informou que não iria comentar o assunto.

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