PF quer delação da Schahin sobre pagamentos a ‘garçom de Lula’ e Delfim Netto

  • Por Estadão Conteúdo
  • 12/09/2016 12h57
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Ricardo Stuckert/ Instituto Lula Lula - Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

A Polícia Federal negocia com donos da Schahin uma nova colaboração premiada, nas investigações da Operação Lava Jato, em Curitiba. O objetivo é esclarecer pagamentos identificados do grupo empresarial para investigados como Carlos Roberto Cortegoso, segundo maior fornecedor da campanha de reeleição de Dilma Rousseff, e para o sobrinho do ex-ministro do “milagre econômico”, Delfim Netto.

Um dos donos do Grupo Schahin confessou ter feito, em 2004, empréstimo de R$ 12 milhões para o PT, em nome do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um dos destinos do dinheiro, segundo descobriu a Lava Jato, foi o empresário de Santo André (SP) Ronan Maria Pinto – condenado por corrupção no governo do prefeito assassinado Celso Daniel (PT) -, que usou parte do valor para a compra do jornal “Diário do Grande ABC”.

O caso virou processo criminal, aberto pelo juiz federal Sérgio Moro e tem como réu, ainda, o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares – ambos também pegos no mensalão. Nesta segunda, o publicitário Marcos Valério será interrogado, em Curitiba, pelo juiz da Lava Jato. Ele participou da lavagem desses recursos.

Paralelo à ação penal, em fase final, a Lava Jato tem um inquérito que tem a Schahin como alvo e pode ampliar os focos de investigação sobre envolvimento em corrupção na Petrobras e fora dela. Desde julho, no entanto, o delegado Filipe Hille Pace, da equipe da PF em Curitiba, comunicou a defesa do grupo para uma reunião para tratar de eventual colaboração complementar.

Nela, o delator ou outro executivo do grupo teriam que explicar os pagamentos feitos a um grupo de 13 empresas consideradas suspeitas de ocultar propinas, em inquérito com laudos periciais ainda pendentes.

A PF informa em despacho que foi requisitado perícia financeira e contábil sobre os pagamentos feitos pelo Grupo Schahin e por consórcios que suas empresas integram. Apesar do laudo não ter ficado pronto, o delegado relaciona “algumas transferências realizadas pelo grupo Schahin a empresas já investigadas na Operação Lava Jato, bem como a outras que, ao que parece, podem ter sido utilizadas de maneira ilícita”.

Entre elas a CRLS Consultoria e Eventos, de Cortegoso, a LS Consultoria Empresarial Agro Pecuária e Comercial, de Luiz Appolonia Neto, sobrinho de Delfim que já confessou usar a firma para receber valores para o tio, e outras como a Rock Star Marketing e a Rock Star Produções Comércio e Serviços, do lobista e operador de propinas Adir Assad, e a Oliveira Romano Sociedade de Advogados, do ex-vereador do PT e delator Alexandre Romano, o Chambinho.

Delação

Salim Schahin fechou acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato, no âmbito da ação penal em que foi acusado junto com o pecuarista José Carlos Bumlai pelo empréstimo fraudulento dos R$ 12 milhões ao PT, pago ao banco de forma ilícita com contrato dirigido da Petrobras para operação do navio-sonda – usado para exploração de petróleo em alto mar – Vitoria 10000, em 2009, negócio de US$ 1,6 bilhão.

O empresário afirmou no processo que Bumlai levou a reunião com o banco o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que teria dito que o empréstimo estava “abençoado” por Lula. Delúbio também é réu e será ouvido nesta segunda-feira por Moro.

Provas

Em despacho de 8 de julho, o delegado defende o instrumento da colaboração premiada e o direito da polícia fazê-lo. “Esclareço que a colaboração premiada é técnica de investigação, verdadeiro meio de obtenção de provas, não sendo um mero fim em si mesmo e tão pouco o único elemento a ser utilizado para fundamentar propositura de ações penais e eventuais condenações criminais”, registra o delegado Pace. Nesse sentido (…), esclareço que serão realizadas tratativas visando a possibilidade de celebração de acordo de colaboração premiada com executivos do grupo Schahin”, escreveu.

PT

Os pagamentos para Cortegoso são um risco para o PT. Conhecido como o “garçom de Lula”, o empresário de São Bernardo do Campo virou o fornecedor principal dos palanques e materiais de campanha para o partido. Na disputa de reeleição em 2014, recebeu R$ 24 milhões dos petistas – valor abaixo apenas dos R$ 73 milhões pagos ao marqueteiro João Santana.

Cortegoso presta serviços para o PT, principalmente, por sua empresa Focal Comunicação Visual. A CRLS foi aberta em 2009 e passou a movimentar valores acima dos declarados. O empresário é réu em processo aberto em São Paulo, resultado da Operação Custo Brasil, que apurou corrupção e desvios em contratos de empréstimos consignados dos servidores federais, via Ministério do Planejamento. O ex-ministro Paulo Bernardo chegou a ser preso

O ex-ministro – e sua mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) – são acusados de receberem propinas da empresa Consist Software, pelo contrato milionário intermediado pelo ministério. A CRLS, de Cortegoso, foi uma das empresas que teria recebido os valores dessa corrupção, na cota que era dirigida ao PT, segundo acusa o Ministério Público Federal, em São Paulo. A apuração do suposto envolvimento da senadora com o caso corre em Brasília, no Supremo Tribunal Federal (STF).

Fornecedores

Além de doações oficiais usadas para ocultar propina das empreiteiras beneficiadas com contratos na Petrobras, a Lava Jato descobriu que pagamentos de fornecedores dos partidos e suas campanhas eram feitos como forma de movimentação do dinheiro da corrupção da Lava Jato e da Custo Brasil.

Cortegoso e o marqueteiro do PT, João Santana, foram dois dos supostos beneficiados pelo esquema, sustentam os procuradores da Lava Jato e da Custo Brasil – aberta como desmembramento das investigações do escândalo da Petrobrás.

Defesas

O criminalista Guilherme San Juan Araújo, que defende os irmãos Salim e Milton Schahin, informou que não poderia comentar o caso

O criminalista Márcio Decreci, que defende o empresário Carlos Roberto Cortegoso, também informou que não poderia comentar a investigação da Operação Lava Jato, em Curitiba. Segundo ele, seu cliente nunca recebeu recursos de origem ilícita.

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