Policiais envolvidos em ação em baile funk de Paraisópolis são afastados

Agentes foram transferidos para funções administrativas; confusão resultou na morte de nove pessoas

  • Por Jovem Pan
  • 02/12/2019 21h53
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Clayton de Souza/Estadão Conteúdo Conforme a versão oficial, seis PMs participaram inicialmente da perseguição a uma dupla de suspeitos, que terminou no tumulto dentro do baile funk

A Polícia Militar afastou nesta segunda-feira (2) seis PMs envolvidos na ação que terminou com a morte de nove jovens em um baile funk de Paraisópolis, zona sul de São Paulo, neste final de semana. Os agentes foram transferidos para funções administrativas.

Em entrevista coletiva, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), lamentou as mortes no domingo, mas buscou destacar que o plano de policiamento do Estado “não mudará” por causa dessa ação.

Os seis agentes tirados das ruas são Rodrigo Cardoso da Silva, de 31 anos; Antonio Marcos Cruz da Silva, de 45; Vinícius José Nahool Lima, de 35; Thiago Roger de Lima Martins de Oliveira, de 37; Renan Cesar Angelo, de 31 e João Paulo Vecchi Alves Batista, de 36. Eles foram os primeiros a entrar na favela durante a ação.

Conforme a versão oficial, seis PMs participaram inicialmente da perseguição a uma dupla de suspeitos, que terminou no tumulto dentro do baile funk. Depois,  eles pediram apoio da Força Tática. Ao todo, 38 policiais participaram da ação.

O comandante-geral da PM, coronel Marcelo Salles, disse preferir evitar a expressão “afastamento”. “Os policiais (envolvidos no caso) não estão afastados. Eles estão preservados”, afirmou. “Temos de concluir o inquérito. Não haverá açodamento de condenados anteriormente antes do devido processo legal. Eles estão preservados e continuarão nas unidades, em serviços administrativos, no mesmo horário deles, fazendo outras coisas”, declarou, ao citar que, em eventos em que há mortes, os policiais passam por acompanhamento médico e psicológico.

Doria não culpa polícia

Já o governador Doria negou culpar a polícia. “A letalidade não foi provocada pela Polícia Militar, e sim por bandidos que invadiram a área onde estava acontecendo o baile funk. É preciso cuidado para não inverter o processo”, pontuou. “Não houve ação da polícia em relação a invadir a área onde o baile funk estava ocorrendo. Tanto é fato que o baile funk continuou”, completou o governador. “(O baile) não deveria sequer ter ocorrido, porque é ilegal. Fere a legislação municipal.”

Doria disse ainda que os protocolos estabelecidos para a atuação da PM no Estado não sofrerão alterações, “o que não nos desobriga de reavaliar e rever pontos específicos de ação, onde falhas possam ter acontecido e, neste caso, corrigir as falhas para que elas não voltem a se suceder”.

“As ações na comunidade de Paraisópolis, como em outras comunidades do Estado de São Paulo, seja pela desobediência à Lei do Silêncio, seja pela busca e apreensão de drogas, de fruto de roubo de automóveis e motocicletas, ou de outros bens, vão continuar na capital, na região metropolitana e no Estado de São Paulo. A existência de um fato não estabelece que circunstancialmente, com as alterações que devem ser feitas, não inibirão as ações de que devem ser feitas”, ressaltou.

Doria chamou o caso de “incidente triste” e disse transmitir aos familiares dos nove jovens mortos sua “solidariedade”.

PM havia planejando operação na favela horas antes das mortes

O comandante-geral da PM, coronel Marcelo Salles, afirmou que a Polícia Militar havia montado uma operação especial para coibir o baile funk que ocorreu em Paraisópolis na noite de sábado. Segundo ele, havia oito festas diferentes dentro da favela naquela noite, com cinco mil pessoas. Entretanto, a operação teria sido abortada, dado o volume de cidadãos aglomerados nas vielas do bairro.

“Nós iríamos ocupar? Iríamos. Só que, às 20 horas, foi feita uma análise de risco e não dava. Já estava tudo tomado naquela localização. Ingressar ali seria um erro. (Seria um erro) Dispersar ali. Tanto que esse evento ocorreu às 4 horas da manhã”, disse o coronel.

Salles contou que a opção então foi de reforçar o policiamento no entorno do baile, sob o argumento de que criminosos se aproveitam da festa, e da multidão, para se refugiar na massa de pessoas após a prática de crimes. “A experiência diz, e eu já fui comandante da zona oeste e sei disso, que há crimes adjacentes. Carros são roubados e levados para dentro do pancadão”, assegurou.

“O gatilho iniciador do problema foi os criminosos atirando na polícia”, concluiu o coronel, mesmo admitindo que as investigações sobre o caso ainda não são conclusivas.

* Com informações do Estadão Conteúdo

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