Sem lockdown, Brasil pode ter ‘corpos empilhados nas ruas’, diz Natália Pasternak
Segundo a microbiologista, a restrição é essencial para evitar o colapso no sistema funerário e novos problemas sanitários
O Brasil vive, nesse momento, um “tsunami” de casos da Covid-19, com aumento de casos, internações e óbitos pela doença. A avaliação é da microbiologista do Instituto Questão de Ciência, Natália Pasternak. Segundo ela, embora a atual situação do país seja tecnicamente considerada como uma “segunda onda” de contaminações, o quadro é muito mais preocupante e pode levar, inclusive, ao colapso no sistema funerário brasileiro e a novos problemas de saúde. “Se você achar que pode esquecer do vírus e fingir que ele não existe, vamos ver corpos empilhados nas ruas, vamos colapsar o sistema funerário. Se colapsar o sistema funerário, vamos ter outros problemas sanitários para resolver. Sem dispor de corpos de maneira adequada, vamos ter contaminação de lençol freático e outras doenças. Estamos vivendo um colapso, não é aceitável, não é humanamente aceitável perder 3 mil vidas por dia e achar que pode ignorar isso. Se você acha que pode ignorar o vírus, o vírus não vai ignorar você”, afirmou, em entrevista ao Jornal da Manhã – 2ª Edição, da Jovem Pan.
Segundo Natália, é imprudente continuar negando a importância do lockdown para conter os avanços do coronavírus e evitar a piora de um colapso na saúde já materializado. Para ela, enquanto a quantidade de vacinas disponíveis continuar insuficiente, o Brasil deve recorrer às restrições de circulação e funcionamento dos estabelecimentos. “Lockdown é um consenso científico, é uma medida que funciona e que não é momento de ficar discutindo falsa dicotomia entre economia e vidas. Até onde sei, gente morta não movimenta a economia. A não ser o serviço funerário”, afirmou. A microbiologista considera que a alta de mortes pela Covid-19, que chegou a quase 3 mil registros nas últimas 24 horas, pode não ser o cenário mais grave da pandemia. Segundo ela, sem uma mudança de postura na Saúde e o fim do “negacionismo da ciência”, a situação tende a piorar. “Apesar de ser médico, ele [Marcelo Queiroga] não aprova as medidas de lockdown realmente restritivas que são necessárias e urgentes. Ele não fez nenhum esforço para acabar com o tratamento precoce defendido pelo governo. Não vejo com bons olhos a substituição, não vai fazer grande diferença. Nas próximas semanas, se a gente realmente não tiver o esforço de prefeitos e governos para implementar as medidas necessárias, vamos continuar observando um crescente número de mortes e um colapso do sistema sanitário.”
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