Sequestro de animais domésticos aumenta e assusta famílias; saiba como se proteger

‘Um cara ligou dizendo ter encontrado meu cachorro na rua e queria dinheiro em troca’, relata vítima; colocar microchip do pet pode ajudar na identificação

  • Por Flavia Matos
  • 06/09/2020 09h00
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Reprodução/ Acervo Pessoal Stark é da raça Spitz Alemão (lado direito); Uísque é o gato da veterinária Monique

O sequestro de cachorros tem crescido nos últimos anos nas principais capitais. Um levantamento feito em 2019 pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo – SSP, apontou que os casos aumentaram 110,8% entre 2017 e 2018 na cidade (137 casos contra 65 no ano anterior). No período da pandemia, apesar da grande adesão na adoção de pets, esse tipo de crime continuou a atingir famílias paulistas. Em 1º de agosto, a mãe da professora Juliana passeava de carro com seus dois cachorros no bairro da Vila das Mercês quando foi parada por bandidos. “Minha mãe estava indo passear com eles e, na rua da casa dela, parou no farol com a janela aberta. Parou um carro do lado e um homem saiu, bateu com a arma no carro para chamar atenção, puxou o Stark e saiu”, contou a professora à Jovem Pan. Stark é da raça Spitz Alemão, mais conhecido como Lulu da Pomerânia, e está na lista dos mais cobiçados entre os criminosos.

Pessoas próximas ao local socorreram a mãe de Juliana e acionaram a Polícia Militar. “O Stark não tem pelo, ele tem Alopecia X e, como estava frio, ele usava roupinha. Ficamos com receio de terem roubado ele para revender ou procriar, mas quando percebessem que ele tinha essa questão, podiam machucá-lo ou matá-lo”, revela Juliana. O medo da família se transformou em esperança quando, duas horas depois, um homem fez contato. “Ele tem uma placa de identificação na coleira e um cara ligou dizendo ter encontrado o cachorro na rua. Ele disse que teve muitos gastos, que tinha comprado ração, cobertor e outras coisas. Queria me pedir dinheiro em troca”, afirma. Os dois, então, acertaram R$ 500 e marcaram um encontro em frente a um supermercado da região.

“Antes disso, eu postei nas redes sociais um pedido de ajuda e coloquei o meu telefone pessoal. Cinco minutos depois dessa ligação, um cara me ligou e disse que tinha encontrado o Stark. No momento da adrenalina, pensei que fosse a mesma pessoa, mas era outra. Ele viu minha postagem e se aproveitou da situação. Eu disse que já estava indo e ele percebeu que eu já tinha encontrado. Então, ele disse ‘você falou com meu colega, o que vocês combinaram?’. Eu contei, e ele falou para depositar essa quantia, não entregar em espécie”, disse Juliana. Mesmo desconfiada, ela foi com o marido até uma lotérica, enquanto dois tios foram para o supermercado esperar o primeiro contato. O golpe foi confirmado já na boca do caixa eletrônico, quando o tio de Juliana ligou e avisou que tinha pegado Stark no comércio combinado com o primeiro homem que entrou em contato com ela. “Minha mãe não anda mais de vidro aberto e fica sempre atenta. Causou um trauma entre a gente, ela ficou muito assustada”, lamenta.

Um caso parecido aconteceu com a veterinária e CEO da Pet Clinicão, Monique Silva. Ela teve seu gato Uísque sequestrado. “Ele usava uma coleira com telefone. Ligaram e pediram dinheiro para devolver. Meu marido foi buscar e pagou”. A quantia combinada foi de R$ 150, e a polícia não foi acionada. De acordo com a profissional, gatos costumam ser menos visados por ficarem mais restritos em casa. Com isso, as raças de cachorro mais cobiçadas em sequestros são Shih Tzu, Bulldog Francês, Pug, Yorkshire e Spitz Alemão, como o Stark, o cão de Juliana. Esse tipo de crime acontece para abastecer o mercado clandestino de venda de animais. Monique indica que, para saber se o seu animal de estimação é proveniente de uma compra legalizada, o comprador procure criadores idôneos e pesquise a origem dos filhotes ou adultos antes de adquiri-los.

Para se proteger dos sequestros, a veterinária ensina técnicas. “Animais castrados são menos roubados, pois não podem ser vendidos para a reprodução. Para diminuir os problemas de roubo e furto dos pets, o ideal é a aplicação do microchip na região do pescoço. Os microchips implantados na pele não são rastreáveis, são apenas uma forma eficiente de identificação do animal, se houver um problema. Chips rastreáveis são colocados em coleiras ou acessórios e podem ser removidos”, complementa.

“Meu pet foi roubado, e agora?”

Mesmo com os cuidados citados pela veterinária, se você tiver seu animal de estimação furtado, é fundamental entrar em contato com a polícia. Segundo o advogado criminalista, Evandro Capano, ocorrências dessa natureza podem ser encaminhadas para as delegacias comuns de polícia mais próximas do delito. Ainda não existe nenhuma lei no Brasil que tipifique o roubo de animais domésticos, mas não é por isso que o ato deixa de ser crime.

“Na verdade, não tem grande diferença entre você entrar na casa de uma pessoa e furtar o veículo dela ou furtar o cachorro. Do ponto de vista jurídico, isso é furto. Não tem muita diferença. Existe a diferença afetiva, mas na lei não existe essa tipificação de conduta. Porém, se pedirem resgate, é extorsão”, explica Capano. A pena para furto é de um a quatro anos de reclusão, mais multa. Em casos de extorsão, esse tempo sobe de quatro a dez anos e multa.

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