Teori homologa delação de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa
O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou a delação premiada de Fábio Cleto, ex-vice-presidente de Loterias da Caixa Econômica Federal. Nos depoimentos, prestados à Procuradoria-Geral da República, Cleto implica o presidente suspenso da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em esquema de corrupção, além de citar o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que pediu demissão do cargo na quinta-feira, 16.
Os depoimentos de Cleto serão usados para embasar apurações em curso e novos inquéritos na Operação Lava Jato. As investigações sobre autoridades com prerrogativa de foro correm perante o STF. Os demais casos, em sua maioria, são de responsabilidade da 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba.
Conforme fontes com acesso ao caso, Cleto delatou um esquema de pagamento de propina a políticos, em troca da liberação de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS). Os beneficiários seriam aliados do presidente afastado da Câmara, entre eles Henrique Eduardo. O operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro também é citado.
Na colaboração, mantida em sigilo, o apadrinhado de Cunha apontou o envolvimento de grandes empresas no esquema. Entre elas, há empreiteiras e companhias de outros setores, como o alimentício. Os pagamentos eram feitos em contas mantidas pelo grupo no exterior.
Cleto dá mais detalhes sobre suposto acerto para pagar a Cunha suborno de R$ 52 milhões, em troca da liberação de recursos do FGTS para as obras do Porto Maravilha, que integram o pacote das Olimpíadas do Rio. O caso, já objeto de um inquérito no Supremo, foi revelado na delação dos donos da Carioca Engenharia, construtora que formou consórcio para tocar o empreendimento com a OAS e a Odebrecht.
Na delação, o ex-vice-presidente da Caixa diz que um dos operadores dos recursos ilícitos pagos a Cunha era Lúcio Funaro. Conforme fonte com acesso ao caso, Cleto tinha negócios com Funaro e chegou ter sala numa das empresas dele quando montou um fundo de investimentos.
Cunha e Funaro já são investigados perante o Supremo por, supostamente, usarem requerimentos de informação na Câmara para pressionar executivos do Grupo Schahin a resolverem um litígio financeiro de interesse do operador do mercado financeiro.
Funaro ficou conhecido durante o escândalo do mensalão do PT, quando delatou o pagamento de mesada para políticos da base aliada ao governo Lula. O dinheiro era movimentado por uma empresa dele, a Guaranhuns Empreendimentos.
O advogado de Cleto, Adriano Salles Vanni, afirmou nesta sexta-feira, 17, que estava em viagem e não poderia falar a respeito.
Cunha informou que desconhece o conteúdo da delação e, por isso, não poderia comentar detalhes. Ele afirmou que o “delator” foi indicado para o cargo na Caixa pela bancada do PMDB do Rio, com seu apoio, “sem que isso signifique concordar com qualquer prática irregular”. “Desminto, como, aliás, já desmenti, qualquer recebimento de vantagem indevida. Se ele cometeu irregularidades, que responsa por elas. Desafio qualquer um a provar a veracidade dessas delações”, acrescentou.
Henrique Eduardo Alves, procurado por meio de sua assessoria, ainda não se pronunciou, mas informou que divulgará nota.
Funaro informou que não se manifestaria, pois não teve acesso aos autos.
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