Vestibular 2021: Confira as principais dicas e informações das provas mais importantes do país
Em um ano marcado pela pandemia e pelo ensino remoto, especialistas explicam como as polêmicas de 2020 podem aparecer nos exames
Revolta da vacina, pandemia, questões agrárias, eleições norte-americanas, lutas raciais, Pantanal e Floresta Amazônica. Estes e outros assuntos devem permear as provas dos principais vestibulares do Brasil em 2021. Com adiamento das avaliações em decorrência da Covid-19, as avaliações, consideradas porta de acesso ao ensino superior do país, começam a partir de 17 de janeiro, com a primeira fase do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em um ano marcado pela pandemia e pelo ensino remoto, estudantes correm atrás dos prejuízos para garantir um bom desempenho nas provas e, consequentemente, as melhores colocações nas listas de aprovados. Para os alunos, a grande dúvida é: a pandemia será tema principal das provas? Quais polêmicas e assuntos que movimentaram o mundo em 2020 podem aparecer nas provas? Pensando nisso, a Jovem Pan ouviu especialistas sobre o assunto e reuniu as principais indicações sobre possíveis temas, questões e estilo das provas mais importantes do país. Confira abaixo dicas e informações sobre os principais vestibulares.
Enem
Considerado o vestibular mais importante e abrangente do país, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a primeira entre as principais provas a ser realizada em 2021. Neste ano, o vestibular será dividido em duas modalidades com datas distintas, sendo a tradicional prova impressa e a nova opção do Enem digital. Segundo calendário, a modalidade impressa acontece nos dias 17 e 24 de janeiro. Já a nova versão digital será aplicada, de forma inaugural, nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro. O resultado das provas será divulgado em 29 de março e será utilizado como nota para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), responsável pela seleção de alunos das principais universidades federais brasileiras. Sendo o exame com maior participação de estudantes, o Enem também é considerado o vestibular mais extenso e, até mesmo, um dos mais cansativos do país. A prova, que conta com 180 questões e uma redação, tem como principal característica a interdisciplinaridade, explica o professor de história, João Ernesto Rafael de Souza. “Em termos gerais, o Enem sempre foi uma prova interdisciplinar, onde tem conteúdo. É um vestibular contextualizado, abrangente, cansativo. Um vestibular com muito texto para interpretação e raciocínio.”
Para a edição de 2021, João Ernesto, que trabalha com mentoria para vestibular há 20 anos, indica que os estudantes devem focar em temas de atualidades e lembra que o planejamento de estratégias específicas para cada uma das provas é fundamental aos estudantes que buscam bom desempenho e boas classificações nas principais universidades do país. “Cada vestibular é como se fosse um jogo de futebol, você tem que se preparar, tem que preparar o seu físico, o seu emocional e tem que saber as estratégias que você vai adotar. O Enem tem uma estratégia, como é um prova extensa, você tem que ter um plano muito bem definido para que você entregue a prova sabendo que acertou todas as questões fáceis, as médias e algumas difíceis, para que tenha coerência pedagógica a sua prova”, explica. Sobre a redação, João Ernesto Rafael recomenda que os alunos se atentem às publicações feitas pelo Inep no site da instituição, assim como nas redes sociais. Segundo o professor, costumeiramente, o órgão dá algumas sinalizações do possível tema da redação em semanas que antecedem o exame. Sobre a possibilidade do exame abordar a pandemia da Covid-19 nas questões, o professor sinaliza que, pela antecedência necessária para a produção dos conteúdos, “há pouca possibilidade” que a crise sanitária seja abordada na prova. No entanto, de acordo com ele, especialistas não descartam totalmente a abordagem.
Ainda sobre os reflexos de 2020 para o conteúdo do vestibular, para a prova de geografia, considerada a mais extensa do vestibular, o professor de humanidades, Sergio Coelho, indica foco nas questões agrárias no Brasil. Ele acredita que a prova do Inep não irá abordar temas polêmicos que marcaram 2020, como as queimadas no Pantanal, debate sobre destruição de biomas e desmatamento na Amazônia, por se tratar de “uma prova que atende aos interesses do governo”. “O Enem deixou de ser apenas uma prova interpretativa simplesmente para ser uma prova que vai cobrar também conteúdo. Se tratando de uma prova oficial, ela acaba manifestando um pouco a postura do governo, então tivemos algumas mudanças no ano passado. Mas o Enem mantém a mesma linha que é trabalhar em cima de situações problemas. Atualidades vai permear todas os eixos temáticos do Enem para pontos de situações problema”, diz. No entanto, ele não descarta que o Enem traga perguntas sobre possibilidades para o desenvolvimento econômico da região amazônica, cerrado e Pantanal . “As possibilidades para o agronegócio, para a economia brasileira, as formas de exploração do Pantanal e da Floresta Amazônica, que já foi uma questão que apareceu no ano passado.”
Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Outro vestibular que trabalha com uma prova interdisciplinar é a Universidade Estadual Paulista (Unesp). A prova é produzida pela Vunesp. Entre suas características principais estão textos mais curtos, questões interpretativas e uma abordagem mais crítica e social. Como desdobramento da pandemia e das diversas mudanças impostas, o exame, diferente das edições anteriores, contará com duas fases objetivas, deixando de lado as questões dissertativas que, costumeiramente desafiavam os alunos. A primeira etapa da prova acontece em 30 e 31 de janeiro, sendo o primeiro dia para candidatos de cursos da área de Biológicas e segundo dia reservado a vestibulandos das carreiras de Exatas e Humanidades. Já a segunda etapa acontecerá em 28 de fevereiro para todos os cursos. O resultado final será divulgado em 19 de março.
Aos alunos, a principal dica de João Ernesto Rafael, que dá aulas de história, filosofia e sociologia, é se preparar para possíveis temas atuais e políticos que podem nortear as questões e a redação. “Nos vestibulares das estaduais, em geral, deve cair, novamente a revolta da vacina, pode cair a pandemia com uma relação histórica, trazendo questões sobre a peste negra e a relação da chegada do homem branco com o desenvolvimento de doenças em povo nativos. É tipicamente uma questão de vestibular envolver a gripe espanhola, trazendo uma imagem de jornal da época mostrando as pessoas se distanciando, ou trazer uma imagem de remédios populares que não tinham comprovação científica. Nas ciências, a aposta são perguntas sobre o campo científico, pode entrar positivismo, e trazer a importância da ciência para a história”, comenta, lembrando que, com a característica interdisciplinar, as temáticas citadas podem ser abordadas tanto em questões de humanas, quanto como contexto para provas de exatas.
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, também está entre as principais provas universitárias do país. Com 54 anos de história, a faculdade oferece 66 opções de cursos de graduação, sendo os mais concorridos, em 2021, medicina, arquitetura e urbanismo e ciências biológicas. Diferente da Unesp, neste ano, a Unicamp seguirá com aplicação de prova discursiva na segunda fase do vestibular, sendo a primeira etapa prevista para acontecer em 6 e 7 de janeiro e a segunda em 7 e 8 de fevereiro. “Das estaduais, a Unicamp é a única que trabalha com quatro alternativas, em que poucas palavras alteram completamente o sentido da resposta. Normalmente são duas opções de resposta absurdas e duas muito próximas, o que é um dificultador na Unicamp. É bastante complicado porque é uma prova que exige um preparo diferenciado das demais”, pontua Coelho. O professor de atualidades sinaliza, no entanto, um ponto positivo do vestibular em 2021. Neste ano, a Convest, responsável pela elaboração das provas, diminuiu para sete o número de obras listadas obrigatórias, o que é uma novidade para o exame. Além disso, pela primeira vez, a prova terá “Sobrevivendo no inferno”, do Racionais MC, como obra obrigatória.
Universidade de São Paulo (USP)
Completando a tríade das universidades paulistas, a Universidade de São Paulo (USP) também terá alterações em seu calendário de prova em razão da pandemia. Considerada a melhor universidade da América Latina, a instituição oferece 340 cursos, tendo seu principal campus na capital paulista. Considerado um dos exames mais difíceis e concorridos do país, o vestibular da USP é elaborado anualmente pela Fuvest e adota um modelo mais tradicional e exigente para a disputa. “A prova da Fuvest é muito conteúdista, ela traz uma pergunta mais direta e exige uma resposta direta. Embora sejam questões que cobrem conhecimento um pouco acima das demais estaduais, não é uma prova impossível de fazer. Ela, por exemplo, não causa confusão como a da Unicamp. Mas é importante lembrar que os vestibulares acabam representando o tipo de aluno que a instituição quer. A Unicamp pede um aluno plural, ou seja, ele vai conseguir entender um pouco de exatas, fazer ligação com humanas, é um aluno dentro da lógica de fluidez. A prova da Unesp, por sua vez, é o contrário, ela quer formar o aluno. Já para entrar na USP, o aluno foi preparado para a Fuvest e ele tem que ter seu foco muito forte. É uma prova que ou você sabe ou não sabe”, explica Sergio Coelho, que aconselha os vestibulandos da Fuvest a estudarem sobre a urbanização e os problemas urbanos, assuntos recorrentes do exame.
Em razão da pandemia, a Fuvest divulgou um manual com normas específicas para a edição 2021 da prova. Entre as principais mudanças está a proibição do consumo de alimentos durante o exame, considerada uma prática corriqueira dos vestibulandos. Respeitando as orientações sanitárias, os alunos que tiverem interesse em se alimentar durante as 4 horas da avaliação deverão se dirigir a um local específico para consumo – sempre acompanhados de um fiscal. As mudanças também incluem a obrigatoriedade do uso de máscara durante toda a prova e distanciamento social. Além disso, o manual indica que estudantes que testarem positivo para a Covid-19 a partir de 1º de janeiro não devem realizar a prova, marcada para 10 de janeiro. No caso, não haverá reposição para estes alunos. A segunda fase do vestibular, que traz questões dissertativas, deve acontecer nos dias 21 e 22 de fevereiro.
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