Colaborador de Nisman afirma que promotor disse que não usaria a arma

  • Por Agencia EFE
  • 28/01/2015 19h47
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Buenos Aires, 28 jan (EFE).- O promotor argentino Alberto Nisman, encontrado morto há dez dias, tinha garantido que não usaria a pistola calibre 22 que causou sua morte, disse nesta quarta-feira seu colaborador Diego Lagomarsino, responsável por emprestar a arma e, por enquanto, o único acusado neste caso que comoveu à Argentina.

“Não se preocupe porque não vou usar”, disse Nisman a Lagomarsino quando o recebeu em seu apartamento em 17 de janeiro, um dia antes de sua morte, que aconteceu por um disparo na têmpora e foi classificada pela justiça como “duvidosa”.

Em seu primeiro comparecimento público desde a morte do promotor que denunciou à presidente argentina, Cristina Kirchner, e alguns de seus colaboradores por suposto encobrimento de terroristas que cometerem o atentado contra a associação judaica Amia, em Buenos Aires, em 1994, Lagomarsino apareceu acompanhado de seu advogado Maximiliano Rusconi. Ele trabalhava como técnico em informática para a Promotoria de Nisman.

“Vamos pedir que chamem para declarar a presidente, embora possa recorrer à declaração por escrito”, disse o advogado.

Segundo a versão de Lagomarsino, quando ele chegou a casa de Nisman, convidado pelo promotor, o encontrou trabalhando com a documentação que ele acredita ser relativa à denúncia apresentada três dias antes contra a presidente. Pálido e visivelmente afetado, ele explicou que Nisman disse que queria a arma porque temia pela vida de suas filhas e que não confiava nem mesmo na “escolta policial”.

“Você sabe o que é ter filhas que não querem estar com você por medo de que algo aconteça?”, questionou Lagomarsino, detalhando que não tinha aparecido antes porque a fiscal do caso, Vivana Fein, tinha pedido.

O técnico em informática advertiu Nisman de que a arma era velha e falhava, mas ele justificou que era “para usar no porta-luvas” de seu carro para caso aparecesse alguém para atacar. Segundo o colaborador, o promotor teria dito que pensava em comprar uma arma nova durante a semana seguinte.

Lagomarsino voltou a sua casa e recebeu uma nova ligação do promotor querendo saber sobre o funcionamento da arma, que ele entregou horas mais tarde.

“Expliquei tudo, como carregá-la, como descarregá-la. E me disse: não se preocupe porque não vou usar”, explicou Lagomarsino, que assinalou que Nisman não quis ficar com a licença da pistola.

Ele deixou a casa de Nisman e não voltou a entrar em contato com o promotor até o domingo pela manhã, quando lhe enviou uma mensagem para o celular que nunca foi respondida.

O colaborador esclareceu que em sua primeira visita, Nisman estava sem escolta, mas quando retornou havia proteção e, inclusive, um dos seguranças o acompanhou no elevador até o apartamento para receber um envelope do procurador cujo conteúdo não viu.

O advogado de Lagomarsino expressou sua “surpresa” pelas declarações da presidente sobre o colaborador de Nisman e pelo fato de classifica-lo como contrário ao governo. Rusconi também negou supostos vínculos de seu cliente com forças de segurança ou serviços de inteligência, como sugeriram altos cargos do Executivo argentino.

Paralelamente, a fiscal do caso Nisman, Viviana Fein, ressaltou hoje que Lagomarsino éacusado “de forma muito genérica” e somente por entregar sua arma ao promotor.

Até agora, Lagomarsino é o único acusado na causa pela morte de Nisman, cujas circunstâncias ainda não foram esclarecidas. Apesar de ainda não ter sido convocado a prestar depoimento, se condenado poderia pegar pena de um a seis anos por “facilitação da arma”. EFE

ngp/cdr

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