Descriminalização do aborto deve deixar de ser “tabu” no Chile, diz Bachelet
Santiago (Chile), 22 mai (EFE).- A presidente do Chile, Michelle Bachelet, afirmou nesta quinta-feira que a discussão sobre a descriminalização do aborto deve deixar de ser um tema “tabu”, depois das críticas da direita e da Igreja que recebeu ao anunciar ontem que enviará um projeto de lei sobre o tema.
“Eu respeito todas as opiniões. Sou pediatra e amo crianças. No entanto, isto é um tema tabu e me parece que não devem existir temas tabu, já que isso é antidemocrático”, disse ela em uma entrevista ao canal de televisão “Mega”.
Ontem, perante o Congresso, a presidente anunciou sua intenção de elaborar um projeto de lei para descriminalizar o aborto quando a mãe estiver em risco de morte, nos casos de estupro ou se o feto for inviável.
O tema, que Bachelet já adiantou em seu programa eleitoral, gerou reprovação da oposição conservadora e da Igreja Católica, assim como o ceticismo de alguns setores governistas como a Democracia Cristã (DC).
O ex-presidente Sebastián Piñera (2010-2014) também criticou o projeto. Pelo Twitter ele comparou a preocupação do executivo de Bachelet com a descriminalização com o projeto para cuidar dos animais de estimação que o governante anunciou nesta quarta-feira.
“Parece que há mais cuidado e preocupação com o bem-estar dos animais de estimação do que com a vida e a dignidade das crianças que estão para nascer”, disse o ex-presidente na rede social.
Bachelet lembrou hoje que o aborto terapêutico era permitido no Chile durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), e considerou que o assunto “é um problema de saúde pública” que deve ser discutido na sociedade e no parlamento.
“Eu nunca vou impor nada a ninguém; o Estado deve dar opções para estes temas”, assinalou a presidente, que lamentou que em todos os meses mulheres morram por culpa de abortos ilegais realizados sem as condições médicas adequadas.
O aborto é proibido no Chile por uma norma imposta pelo ditador Augusto Pinochet em 1989, pouco antes de entregar o poder. Ele modificou o artigo 119 do Código Sanitário, que desde 1931 permitia o aborto terapêutico no país.
Após a modificação, o texto assinala que “não poderá ser executada qualquer ação cujo fim seja provocar o aborto”. EFE
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