Alta dos juros agora é necessária para conter inflação em 2022, diz Maílson da Nóbrega

Ex-ministro da Fazenda afirma que movimento de acréscimo deve ser mantido até Selic alcançar 6,5% ao ano; sequência de elevações, no entanto, não conseguirá manter o IPCA dentro da meta deste ano

  • Por Gabriel Bosa
  • 16/06/2021 18h45
LEONARDO SOARES / AGÊNCIA ESTADO Ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nobrega defende alta da Selic a 6,5% para evitar contaminação nas previsões inflacionárias de 2022 Ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nobrega defende alta da Selic a 6,5% para evitar contaminação nas previsões inflacionárias de 2022

O novo acréscimo de 0,75 ponto percentual na Selic anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira, 16, é necessário para evitar que o avanço da inflação deste ano contamine o cenário econômico de 2022, afirmou o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega. O movimento para cima — o terceiro seguido com a mesma magnitude —, elevou a taxa básica de juros para 4,25% ao ano, e deve ser continuado nas próximas reuniões do colegiado até alcançar 6,5%, patamar que representa a normalização integral da Selic. “A mudança no panorama inflacionário obriga o Banco Central a fazer isso, se não ocorrerá a contaminação da taxa para 2022”, disse à Jovem Pan o economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada. Para o ex-ministro, o patamar de 6,5% — o mesmo mantido entre março de 2018 e junho de 2019 —, deixa a autoridade monetária em uma posição confortável para não mudar a taxa de juros até o fim de 2022. “A vantagem é não precisar elevar a Selic ao longo do próximo ano e manter neste nível até 2023.”

A previsão do ex-ministro segue o consenso do mercado financeiro, que estima a Selic em 6,25% ao ano em 2021, segundo dados do Boletim Focus divulgados nesta segunda-feira, 14. O novo patamar da taxa de juros é reflexo do aumento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o medidor oficial da inflação brasileira, acima do esperado. Em maio, o indicador foi a 0,83% e acumulou alta de 8,06% nos últimos 12 meses. O valor está bastante descolado do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 5,25% — com centro de 3,75% e piso de 2,25% —, e indica que as pressões inflacionárias, que até então eram consideradas passageiras, se mostram cada vez mais persistentes. “Já passou a esperança de que a alta da inflação fosse temporária”, afirma Nóbrega. O ex-ministro estima que o IPCA encerre o ano a 5,8%, valor semelhante ao projetado pelo mercado. Para 2022, o BC deve perseguir a meta de 3,5% — com variação de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. As previsões do Boletim Focus, no entanto, já mostram que analistas e entidades financeiras estimam que o IPCA encerre o próximo ano com avanço de 3,78%. “O Banco Central não pode correr o risco de ignorar esse novo ambiente [de inflação]”, afirma.

Além do prolongamento das forças inflacionárias, a ampliação das pressões para diferentes setores da economia também acende um sinal de alerta na autoridade monetária. A alta do IPCA de maio foi puxada pelo encarecimento da energia elétrica — que deve ficar ainda mais cara com a recente crise hídrica. O papel de vilão da inflação também já foi assumido pelos combustíveis e pelos alimentos. Segundo o ex-ministro da Fazenda, o novo boom das commodities deve continuar dando sustentação para o avanço inflacionário, porém, os valores ainda não estão sendo transferidos aos consumidores na sua totalidade. “O IPA [Índice de Preços ao Atacado] chegou a mais de 40%, e só parte disso foi repassado. A reativação das atividades econômicas e a recuperação de renda criam espaço para que esse repasse seja maior e aumente os preços finais.”

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.