Brasil poderá voltar ao grau de investimento, diz Fitch
O Brasil está firmemente posicionado na categoria “duplo B” com perspectiva estável, de acordo com o head Latam da agência de classificação de risco Fitch Ratings, Peter Shaw. A possibilidade de o País descer mais um grau na escala, conforme ele, é a principal pergunta dos investidores em relação ao País. Mas, embora ainda apresente fraqueza em suas finanças públicas, segundo Shaw, o País não está exposto à volatilidade externa e apresentou melhoras do ponto de vista da demanda doméstica.
Em 26 de fevereiro, a Fitch rebaixou o IDR (Issuer Default Rating – Rating de Probabilidade de Inadimplência do Emissor) de Longo Prazo em Moeda Estrangeira do Brasil para “BB-“, de “BB”, e revisou a perspectiva para estável, de negativa antes.
“O caminho do Brasil ao retorno do grau de investimento será longo, mas poderia ser acelerado com consolidação fiscal, estabilização do endividamento e um ambiente de atração de investimento, crescimento e ainda um ambiente mais estável do lado político”, afirmou Shaw durante o Summit Imobiliário Brasil 2018, promovido pelo Grupo Estado.
O tempo que cada País leva para retomar o grau de investimento, contudo, varia, de acordo com Shaw. Em média, mais de 50% dos países rebaixados pela Fitch, segundo ele, nas últimas duas décadas conseguiram recuperar o selo de “bom pagador”. “Demorou em média seis anos, mas há uma variedade de prazo. Enquanto a Malásia e Coreia do Sul demoraram menos de um ano, países que sofreram com crises cambiais demoraram mais como a Colômbia, que levou 11 anos, e a Indonésia, 14 anos”, explicou.
Ele lembrou ainda sobre o rebaixamento ocorrido em fevereiro, que o Brasil foi o único dos países emergentes que perdeu o selo de bom pagador. A região, de acordo com Shaw, deve apresentar recuperação cíclica modesta neste e no próximo ano, impulsionada pela recuperação do preço das commodities.
Para o Brasil a Fitch espera crescimento de 2,5% do PIB este ano e melhora de 2,7% em 2019.
Quadro incerto
Peter Shaw afirmou que o quadro eleitoral incerto é um dos principais fatores de risco para a economia brasileira e o seu rating. “É muito difícil prever hoje o quadro eleitoral, mesmo cerca de seis meses da votação. Esse é um dos pontos de maior incerteza para o País”, disse. “O quadro eleitoral é fragmentado com ou sem Lula”, afirmou, citando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso neste fim de semana.
Apesar da falta de previsibilidade, Shaw ponderou que a Fitch não efetiva mudanças de rating baseada em projeções sobre o quadro eleitoral, mas apenas após a definição de quem será o próximo presidente da república. “A partir daí, o foco dos nossos analistas será o programa econômico proposto e como isso repercutirá sobre o quadro fiscal, se vai acelerar ou desacelerar os ajustes”, explicou.
Shaw acrescentou que entre os pontos prioritários em uma potencial revisão do rating brasileiro estará a capacidade de governo federal cortar custos e equilibrar as receitas. “Além disso, as finanças dos Estados e dos municípios continuam sendo importantes, pois eles podem demandar mais recursos da união”, explicou. “E, principalmente, o ambiente político e suas consequências para o quadro econômico”, acrescentou.
O representante da Fitch reiterou que uma ação negativa de rating mais adiante poderia ser detonada por retrocessos em medidas de ajuste fiscal e crescimento da dívida pública, bem como uma perda significativa das reservas internacionais. Já uma ação positiva poderia ocorrer em um quadro exatamente oposto, isto é, diante do avanço em medidas de ajuste fiscal e crescimento econômico sustentável.
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