Dólar sobe a R$ 4,77 com juros nos EUA e lockdown na China no radar; Bolsa recua

Barril de petróleo recua 9% com temor de desaceleração da China após governo anunciar restrições para metade de Xangai, a maior cidade do país

  • Por Jovem Pan
  • 28/03/2022 18h42
EPITÁCIO PESSOA/ESTADÃO CONTEÚDO Mulher conta notas de dólar no guichê da casa de câmbio Dólar avança e quebra sequência de oito dias de desvalorização ante o real

Os principais indicadores do mercado financeiro brasileiro fecharam esta segunda-feira, 28, no campo negativo e interromperam a sequência de oito dias consecutivos de ganhos. O humor dos investidores foi pressionado pela expectativa de aumento dos juros nos Estados Unidos, o que leva à saída de dólares de outros mercados, e pelo temor de desaceleração na China com o fechamento de metade Xangai por novos casos de Covid-19. O dólar fechou com alta de 0,53%, cotado a R$ 4,773. O câmbio chegou a bater a máxima de R$ 4,819, enquanto a mínima não passou de R$ 4,736. A divisa norte-americana encerrou a semana passada com queda de 1,75%, a R$ 4,747. Apesar do clima positivo nos mercados internacionais, o Ibovespa, referência da Bolsa de Valores brasileira, fechou com queda de 0,3%, aos 118.737 pontos. O pregão de sexta-feira, 25, encerrou com leve alta de 0,2%, aos 119.081 pontos.

Mercados ao redor do mundo analisam as sinalizações de avanço dos juros pelo Federal Reserve (Fed) diante do avanço da inflação aos consumidores ao maior patamar em quatro décadas. A autoridade elevou os juros de uma média de 0% e 0,25% para algo entre 0,25% e 0,5% há duas semanas, e recentes falas de membros do colegiado indicaram maior aporte nos próximos encontros. A alta dos juros nos EUA atrai os investidores para o Tesouro norte-americana, um dos ativos mais seguros do mundo. Ainda no cenário internacional, o governo de Pequim anunciou novas medidas de restrição em Xangai, a maior cidade do país e um dos principais centros financeiros da Ásia, em meio a novos surtos do novo coronavírus. Os lockdowns serão divididos em duas fases, cada uma interferindo na vida da metade dos 26 milhões de habitantes. O temor de desaceleração na China levou ao termo de menor demanda global por petróleo. O movimento faz o preço do barril do tipo Brent, referência na maior parte do mundo, recuar 9%, a US$ 109.

No Brasil, o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, deve deixar o cargo ainda nesta segunda-feira após pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). A informação foi confirmada pela reportagem da Jovem Pan por servidores próximos da cúpula da estatal e de membros do Planalto. A decisão começou a circular próximo do fechamento do mercado e deve impactar no humor dos investidores nesta terça-feira, 29, por indicar a interferência do governo federal na gestão da companhia. Silva e Luna estava no cargo desde o dia 19 de abril do ano passado. A saída ocorre na esteira de semanas de fortes críticas públicas de Bolsonaro à política de reajuste de preços dos combustíveis. No dia 10 de março, a Petrobras anunciou a elevação dos preços nas refinarias da gasolina (18,8%), diesel (24,9%) e gás de cozinha (16,1%). O aumento ocorreu em meio à disparada do barril de petróleo do tipo Brent, usado como referência para a formulação dos preços, em reflexo das incertezas no mercado geradas pela guerra no Leste Europeu.

Segundo informações, a saída deve ser feita por uma manobra na escolha do conselho de administração da empresa. O nome de Silva e Luna não deve constar na lista de indicação para o próximo colegiado, com votação marcada para o dia 13 de abril. Sem participação no grupo, o general não pode permanecer no posto de comando. O governo federal detém a maior parte das ações com direito a voto nas decisões da empresa. Rumores do mercado financeiro sinalizam que a presidência da Petrobras deve ser ocupada por Adriano Pires, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), consultoria voltada ao setor de energia.

O mercado revisou para cima a expectativa para a inflação até 2024 em meio ao aumento das pressões geradas pela guerra no Leste Europeu e a percepção de analistas de que os efeitos do conflito irão se prolongar por anos na economia global. As informações foram publicadas nesta segunda-feira no Boletim Focus, a pesquisa semanal do Banco Central (BC) com mais de uma centena de instituições. A previsão para a variação de preços medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano passou de 6,59% para 6,86%. A nova estimativa — a 11ª elevação —, afasta ainda mais a percepção de a autoridade monetária cumprir a meta da inflação em 2022, de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual, ou seja, entre 2% e 5%. Para o ano que vem, a previsão passou de 3,75% para 3,8%. Já em 2024, o mercado elevou a estimativa do IPCA de 3,15% para 3,2%. O BC já indicou que não deve manter a inflação abaixo do teto da meta neste ano e que vai focar em trazer o índice para o limite em 2023, quando persegue o centro de 3,25%, com limites de 1,75% e 4,75%.

Apesar do aumento generalizado para a variação de preços, a opinião do mercado manteve a previsão dos juros a 13% ao ano no fim de 2022, e de 9% em 2023. Para 2024, os analistas enxergam a taxa em 7,5% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic de 10,75% para 11,75% há duas semanas e deixou contratada nova alta de 1 ponto percentual no encontro agendado para maio. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, já indicou que enxerga o fim do ciclo de alta de juros no próximo encontro do colegiado, porém, o cenário incerto em meio ao conflito na Ucrânia pode mudar os planos e fazer com que a alta dos juros se estenda até o encontro agendado para junho.

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