É hora de comprar dólar? Veja a opinião de especialistas

Divisa recua a R$ 4,90 nesta terça-feira com o aumento do fluxo estrangeiro em reflexo ao aumento dos juros e a disparada do barril de petróleo

  • Por Jovem Pan
  • 22/03/2022 12h36 - Atualizado em 22/03/2022 12h59
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PAULO VITOR/ESTADÃO CONTEÚDO Pessoa conta nota de dólares Apesar de alta registrada nos primeiros dias de outubro, dólar fecha em queda pelo terceiro dia consecutivo

O dólar chegou ao patamar de R$ 4,90 nesta terça-feira, 22, dando sequência à trajetória de queda observada desde o início do ano. A desvalorização da moeda norte-americana ante o real é reflexo do aumento dos juros no Brasil, o que torna a renda fixa mais atraente e estimula a entrada de capital estrangeiro no país. O movimento foi intensificado nas últimas semanas com a disparada das commodities, principalmente o petróleo e os grãos, na esteira da invasão da Ucrânia pelas tropas da Rússia. A junção do cenário doméstico com o conflito internacional fez a moeda norte-americana acumular queda de 11,3% desde o início de 2022, passando de R$ 5,575 para a cotação de R$ 4,945 atingida nesta segunda-feira, 21, o menor patamar desde o fim de junho do ano passado. Para analistas do mercado financeiro, a conjuntura não deve se alterar no curto prazo, o que dá brecha para a manutenção do câmbio favorável ao real pelas próximas semanas.

Mas não é aconselhável esperar novas quedas para começar a comprar a moeda. O cenário atual é favorável para a aquisição de dólares por quem tem viagem ou compras programadas no exterior nos próximos meses. A principal dica de especialistas é fazer a compra da divisa norte-americana de forma escalonada como forma de proteção de possíveis variações bruscas. “É hora de comprar parte agora. Temos os juros altos nos Estados Unidos e a proximidade das incertezas das eleições, então é difícil imaginar um cenário tão tranquilo”, afirma o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito. Para o sócio da Valor Investimentos, Zeller Do Valle Bernardino, o aumento das incertezas pelas eleições deve começar a dar força para a volatilidade do câmbio a partir de junho, o que deve afastar gradualmente a cotação do atual valor. “Com esse cenário de maior polarização, o investidor fica mais receoso, e a consequência pode ser nova alta do dólar”, explica.

O movimento de queda do dólar acompanha a escalada da Selic pelo Banco Central (BC) na tentativa de trazer para baixo uma inflação mais persistente do que o estimado. Desde março do ano passado, o Brasil passa por um choque de juros que passou a Selic de 2% — o menor patamar da história — para os atuais 11,75%. A previsão do mercado é pela manutenção dessa alta dos juros, principalmente com a dose extra de pressão sobre a inflação trazida pelo conflito no Leste Europeu. “As expectativas têm piorado para este ano e 2023, o que aumenta a expectativa da Selic. Este movimento deve seguir até o fim do conflito, e mesmo depois, já que ainda vai ter persistência inflacionária no Brasil”, afirma Perfeito.

A guerra na Ucrânia deu força para a alta das commodities em meio ao temor global de desabastecimento. A disparada do barril de petróleo é o principal sintoma desse clima de incertezas, principalmente após as sanções dos Estados Unidos à produção da Rússia. O país de Vladimir Putin é o segundo maior exportador da commodity no mundo, atrás apenas da Arábia Saudita. “Grandes empresas brasileiras estão na exportação de commodity, como a Petrobras e a Vale, e esse setor é parte bem relevante da matriz econômica do país. Com a alta no mercado internacional, os produtos ficam mais competitivos, o que gera maior previsão de receita e a entrada do fluxo estrangeiro”, explica Bernardino.

O cenário deve se manter nos próximos meses com a falta de sinalizações de um cessar-fogo na Ucrânia e as sucessivas revisões para cima das expectativas para a inflação e juros pelo mercado financeiro. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC mostrou preocupação com a pressão inflacionária originada do confronto, e com os impactos secundários do choque de preços das commodities. “As leituras recentes vieram acima do esperado e a surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos mais associados à inflação subjacente”, afirmou em ata divulgada nesta manhã para detalhar a subia dos juros de 10,75% para 11,75% ao ano, na semana passada. O colegiado afirmou que o conflito traz “mais incerteza e volatilidade” e recomenda que a “política monetária reaja aos impactos secundários” do choque de oferta em várias commodities. A autoridade monetária confirmou que deve fazer novo acréscimo de 1 ponto percentual no próximo encontro, entre os dias 3 e 4 de maio, elevando a Selic para 12,75% ao ano, e deixou aberta a possibilidade de ampliar o ciclo de alta de juros.

A previsão do mercado é pela manutenção dessa alta dos juros, principalmente com a dose extra de pressão sobre a inflação trazida pelo conflito no Leste Europeu. Analistas revisaram para cima as expectativas para a inflação e a Selic em 2022 e 2023, segundo previsões do Boletim Focus publicadas nesta segunda-feira. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) aumentou de 6,45% para 6,59% neste ano, e de 3,7% para 3,75% em 2023. Já a Selic passou a ser vista em 13% ao ano no fim de 2022, e em 9% no ano que vem.

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