Entenda a falência do Silicon Valley Bank e do Signature Bank nos EUA e como isso pode impactar a economia do Brasil

De acordo com especialistas, crise foi gerada principalmente pelo aumento dos juros nos Estados Unidos e pode impactar movimentos na política econômica brasileira, em especial as adotadas pelo Banco Central 

  • Por Tatyane Mendes
  • 13/03/2023 18h43 - Atualizado em 13/03/2023 19h07
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NOAH BERGER / AFP Silicon Valley Bank SVB Autoridades dos EUA invadiram e apreenderam os ativos do SVB, um importante credor para startups norte-americanas desde a década de 1980

Na última sexta-feira, 10, foi decretada a falência de dois bancos norte-americanos: o Silicon Valley Bank (SVB), focado em startups de tecnologia, e o Signature Bank, especializado no fornecimento de serviços bancários para escritórios de advocacia. Logo em seguida, autoridades federais anunciaram medidas para conter consequências da crise financeira gerada pela quebra das instituições. O mercado financeiro ficou apreensivo com a repercussão, temendo consequências similares à da crise bancária vivida pelos Estados Unidos em 2008, que teve grandes impactos na economia mundial. O principal temor do mercado após a quebra de um banco é que a população peça resgate de recursos alocados em outros bancos, gerando um problema de liquidez ao setor, de acordo com André Meirelles, diretor de alocação e distribuição na InvestSmart XP. “Os bancos funcionam emprestando dinheiro de terceiros. Por isso, se toda população precisar retirar sua poupança ao mesmo tempo, o caixa disponível não será suficiente para cumprir os resgates. Isso acontecendo de maneira macro significaria uma quebra sistêmica, o que traz implicações negativas para toda economia. Para evitar que isso aconteça, o Fed [o Federal Reserve, órgão equivalente ao Banco Central nos Estados Unidos] lançou uma linha de financiamento que assegura os depositantes do banco. Um dos principais motivos para falta de liquidez do Silicon Valley foi o aumento dos juros nos Estados Unidos. Parte considerável dos ativos do banco estavam alocados em títulos do Tesouro Americano ou em participação nas startups que eles financiavam, ambos com revisões negativas em seu valor patrimonial com o recente aumento nos juros”, esclarece o especialista. Ele complementa que, caso os dados de inflação venham acima do esperado pelo mercado, o Fed pode ser pressionado a elevar ainda mais a taxa de juros. Essa determinação iria contra a liquidez do setor bancário.

De forma complementar, Paulo Silva, economista e analista ALM da Efí Bank, pontua que existe uma preocupação de que a quebra dos dois bancos se torne um problema sistêmico. “Diferente de 2008, o Fed, juntamente com o FDIC [Corporação Federal Asseguradora de Depósitos], foi mais rápido na tentativa de evitar que houvesse uma corrida por liquidez por parte dos clientes e que isso se espalhasse pelo sistema financeiro americano. O Índice de Preços ao Consumidor dos Estados Unidos, que será divulgado amanhã, pode contribuir para aumentar o cenário de instabilidade e incerteza sobre os próximos movimentos do Fed. Existem dois riscos principais neste momento. O Fed precisa controlar a inflação e manter o sistema financeiro saudável. Como ele vai fazer isso que é o desafio, visto que são duas coisas antagônicas”, explica. Economista e doutor em relações internacionais, Igor Lucena ressalta que o SVB era o principal banco das startups, principalmente daquelas do mundo das criptomoedas. Por isso, a instituição atendia um setor que não era contemplado pela maioria dos bancos tradicionais. “O SVB não tinha uma grande quantidade de clientes e sequer fazia empréstimos sem segurança. Ele recebia grandes depósitos, emprestava para outras empresas e fazia aplicações, que estavam atreladas a renda fixa, por isso não corria riscos. No entanto, temos a falência e queda de diversas startups, fintechs e empresas de criptomoedas, mais especificamente a FTX, que afetou os clientes do Silicon Bank Valley pela crise do mercado de moedas digitais. Isso impactou os investimentos do banco e criou a necessidade por liquidez. Na prática, os reguladores americanos vão analisar com mais esmero empresas relacionadas ao mercado de criptomoedas e startups, devido aos seus riscos de instabilidades, que não causam grandes riscos para economia, mas afetam alguns fundos”, pondera.

Em relação ao Brasil, as medidas a serem adotadas pelo Fed em resposta à crise podem impactar o comportamento do Banco Central em relação à taxa de juros. “Caso a crise nos bancos regionais americanos force o Fed a ter uma postura mais frouxa em relação à taxa de juros, como está sendo precificado no mercado, o mercado passou a precificar na curva de juros um espaço para o Copom também cortar juros já no segundo semestre desse ano. Um início de ciclo de afrouxamento dos juros no Brasil pode ajudar os ativos brasileiros, como a Bolsa, e os títulos pré-fixados. Mas é importante lembrar que o Brasil é um mercado emergente e tem uma sensibilidade/volatilidade maior que outros mercados em um evento de aversão a risco global. Dessa forma, não estamos isolados do resto do mundo, e os acontecimentos lá fora seguirão tendo impacto nos preços de ativos por aqui”, afirmam especialistas da XP em relatório publicado nesta segunda-feira, 13. Igor Lucena complementa que o aumento das restrições para bancos que tenham relações com startups e criptomoedas que vai ocorrer nos Estados Unidos também pode ocorrer no Brasil, embora o brasileiro ainda seja muito mais receoso sobre lidar com criptomoedas. O economista também observa que outro efeito vai ser a intensificação de debates sobre o tema na política, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.

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