Entenda como a redução da Selic afeta o seu bolso

Corte da taxa de juros reduz o custo para se tomar empréstimo, mas também torna investimentos em renda fixa menos atrativos; BC diminui a Selic em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira

  • Por Gabriel Bosa
  • 05/08/2020 19h57 - Atualizado em 06/08/2020 00h47
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nattanan23/Pixabay Juros Redução da taxa de juros torna menos atrativo deixar dinheiro na poupança

O Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, reduziu a Selic — a taxa básica de juros da economia brasileira — para 2% ao ano, o nível mais baixo da história e menos da metade do valor de um ano atrás. Mas como a decisão dos economistas do Banco Central (BC) impacta na vida dos brasileiros? Em resumo, a Selic é uma da ferramenta para o controle da inflação e, com isso, ela pode ser usada para frear ou aumentar o consumo, que por sua vez incide diretamente em investimentos e criação de empregos. A taxa também está ligada aos juros praticados por bancos na hora de emprestar dinheiro e fazer financiamentos, além de influenciar os investimentos de renda fixa, como a poupança, e mexer na cotação do dólar.

Para explicar melhor, é preciso entender o que é a Selic. A sigla vem de Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, que é a referência do BC para transações diárias de emissão, venda e compra de títulos públicos. Esses títulos públicos, por sua vez, são uma das formas de o governo arrecadar dinheiro para a manutenção do país — seja para construir mais estradas e hospitais ou investir na segurança —, além da arrecadação de impostos. A taxa Selic é decidida pelo Copom a cada 45 dias, e é influenciada por questões como a inflação, risco de recessão e perspectivas de crescimento econômico. A facilidade de acesso ao crédito bancário e ao financiamento é um dos principais reflexos da Selic no bolso dos brasileiros. Como serve de base para as taxas de juros em todo o país, quanto mais baixa a Selic, menores tendem a ser os juros impostos pelas instituições financeiras. “A Selic torna mais barato os recursos dos bancos para fazer os empréstimos. Isso significa que o empréstimo do dia a dia, seja para comprar um carro ou uma casa, terá juros menores”, explica Reginaldo Nogueira, diretor-geral do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).

A redução da Selic é uma estratégia do BC para fazer o brasileiro tomar mais dinheiro emprestado, e, com isso, fazer mais investimentos ou aumentar o seu consumo. Em tempos de recessão — como agora — é uma das alternativas para aquecer a atividade econômica. “É como se o Banco Central estivesse tentando empurrar um carro quebrado”, compara Michael Viriato, professor de finanças do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). O objetivo é fazer com que esse dinheiro gire a roda da economia: a alta no consumo impacta direto no aumento da produção de bens. Para se adequar a essa elevação da demanda, as empresas contratam mais e investem em inovação. O risco, porém, é que um superaquecimento da economia faça a inflação disparar. Isso porque com o aumento do consumo, os bens tendem a ficar escassos, logo  a lei de oferta e procura faz o valor deles subir, ou seja, inflaciona o preço.”Mas diante do nosso cenário econômico com pandemia e quebradeira de empresas, é um risco muito pequeno”, diz Nogueira.

Especialistas preveem que a taxa não deva ficar na baixa histórica por muito tempo. Segundo o boletim Focus, o relatório semanal divulgado pelo BC com a opinião de analistas e consultorias financeiras sobre os rumos da economia, é esperada alta para 3% da Selic no fim do próximo ano, e para 5% em 2022. A estimativa é que o corte anunciado nessa quarta-feira, 5, demore até seis meses para fazer efeito na economia real. “O governo precisa ter o timming de voltar a subir os juros quando a economia começar a reagir”, afirma o diretor-geral do Ibmec. Para Viriato, a medida está de acordo com a necessidade do país em retomar a economia no pós-crise. “A pandemia fez com que várias pessoas diminuíssem o consumo, e várias empresas foram obrigadas a fechar. Olhando para a frente, a redução da Selic deve trazer bons frutos.”

Impacto nos investimentos

A taxa de juros do Banco Central também é usada como referência aos investimentos em renda fixa. O tesouro Selic é o mais impactado, pois a sua rentabilidade é proporcional ao nível da taxa, mas também há reflexos em outros ativos, como o Certificado de Depósito Bancário (CDB). A Selic também incide diretamente na poupança, a forma de investimento favorita dos brasileiros. Desde 2012, a rentabilidade do dinheiro parado no banco está atrelada a taxa de juros, e 70% do rendimento é em cima do valor da Selic. Com o corte, a poupança passará a render uma média de 1,6% ao ano. A baixa da Selic ao nível histórico deve reforçar o movimento de investidores em direção a ativos mais rentáveis, como a bolsa de valores, que nos últimos meses já bateu recorde de novos usuários. Em junho, a B3 somou 2,6 milhões de investidores, alta de 58% em comparação ao fim do ano passado. O câmbio também é afetado pela Selic. Assim como as pessoas que mantém poupança enxergam os rendimentos cair com a baixa na taxa de juros, os grandes investidores internacionais também são afetados com o encolhimento da Selic. Isso faz com que eles tirem os seus dólares do Brasil em busca de mercados mais atrativos. “Essa escassez de dólares aumenta a taxa de câmbio, e com isso do real fica mais fraco”, explica Nogueira.

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