Estamos perto de ver o topo da inflação, diz presidente do Banco Central
IPCA foi a 10,73% na prévia de novembro; Roberto Campos Neto diz que BC vai revisar PIB de 2022 para baixo, mas que visão é mais otimista que a do mercado
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira, 26, que a inflação brasileira está perto do topo e projeta a queda da variação de preços a partir do próximo ano. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi a 10,67% nos últimos 12 meses encerrados em outubro, e a 10,73% na prévia de novembro. “Em algum momento nós imaginávamos que [o auge da inflação] fosse em setembro, mas os choques de energia vieram de forma consecutiva e surpreendendo a todos”, disse, ao citar também o impacto dos combustíveis na variação dos preços. “Acabou tendo esse elemento de energia surpreendendo e se espalhando mais nas cadeias, principalmente quando a gente olha a parte industrial.” O chefe da autoridade monetária participou de um evento virtual com empresários da construção civil promovido pelo Secovi-SP.
Campos Neto creditou o aumento da inflação doméstica ao avanço dos preços em escala global diante da manutenção elevada da demanda por bens e o aumento do consumo de energia elétrica. “Nós entendemos que em algum momento iríamos ter uma combinação de inflação local com inflação importada, uma coisa que não aconteceu na história recente do Brasil em nenhum governo, e seria mais difícil de mensurar e de reagir”, afirmou. Apesar dessa alta mais intensa e disseminada, o presidente do BC afirmou que a entidade “tem um instrumento” para trazer o índice para o centro da meta “no horizonte relativamente não muito longo”. O BC persegue a meta inflacionária de 3,75% em 2021, com margem entre 2,25% e 5,25%. O mercado financeiro estima que o IPCA encerre o ano a 10,12%. Para 2022, a autoridade monetária tem centro de 3,5%, com máxima de 5% e mínimo de 2%. A expectativa do setor privado é que índice fique em 4,96%. “A expectativa de inflação começa a ver 2022 com uma desancoragem inicial parecida com 2017. O Banco Central entende que é muito importante atuar nessa desancoragem”, disse Campos Neto.
O presidente do Banco Central disse que história recente do Brasil com a percepção de descontrole dos preços faz com que a atuação da autoridade monetária difira da de outros países. Em outubro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC aumentou o esforço para levar o IPCA para baixo ao acrescentar 1,5 ponto percentual na Selic e elevar os juros para 7,75% ao ano. O BC ainda afirmou que deve repetir o movimento na reunião de dezembro, a última de 2021, e encerrar a Selic a 9,25% ao ano. “A inflação é o imposto mais perverso que tem, porque as pessoas que têm recursos, conseguem se proteger, e os que não tem, não conseguem”, pontou. Campos Neto ainda afirmou que entidade deve revisar para baixo a expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022. Em setembro, a entidade estimava alta de 2,1%. O corte, no entanto, não deve ser tão intenso quanto a expectativa do mercado financeiro, que revisou a estimativa do PIB do ano que vem para alta de 0,7%. “Nós vamos divulgar nosso número no relatório de inflação em algumas semanas, provavelmente vai ser mais baixo do que esse [de 2,1%]. Mas não tão baixo quanto a mediana [do mercado]. Nós ainda entendemos que esse número da mediana parece muito baixo”, afirmou.
O chefe da autoridade monetária elogiou o controle fiscal promovido pelo Ministério da Economia e disse que o questionamento do mercado financeiro sobre a capacidade do governo federal controlar os gastos públicos é resultado da percepção de desorganização na condução de políticas públicas. Ao comentar a reação negativa do mercado à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, o presidente do BC afirmou que “foi pago um preço muito caro por um desvio relativamente pequeno”. “O importante agora é virar essa página do fiscal e olhar para frente. Ainda temos um processo de aprovação que não está terminado”, disse, também ressaltando a importância da aprovação da agenda de reformas para recuperar a confiança de crescimento do país.
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