Variante da Covid-19 descoberta na África do Sul gera apreensão; veja o que se sabe

Especialistas da OMS acreditam que ‘apartheid vacinal’, que deixou continente africano para trás na imunização, pode ter ajudado na formação de cepa com 50 mutações

  • Por Jovem Pan
  • 26/11/2021 12h33 - Atualizado em 26/11/2021 17h29
EFE/EPA/KIM LUDBROOK pessoa andando na rua na áfrica do sul Pelo menos 77 infecções com a nova variante foram detectadas na província de Gauteng

Pouco mais de 24 horas após o anúncio do surgimento de uma nova variante da Covid-19 na África do Sul, nações de todos os continentes começaram a articular medidas restritivas e estratégias para evitar a disseminação da “omicron”, como foi batizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para outros países. A cepa foi considerada de uma “variante de preocupação” pelo órgão, mesmo grupo da alfa, beta, gama e delta. De acordo com informações cedidas em uma coletiva de imprensa, a cepa, identificada pelo pesquisador brasileiro Tulio de Oliveira, do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul, mostra “um grande salto na evolução” do vírus, com pelo menos 50 mutações, a maioria delas na proteína spike, que ajuda o vírus a entrar nas células humanas. A maior parte dos casos detectados na África do Sul está na província de Gauteng e ainda é cedo para saber como o vírus reagirá às vacinas que são aplicadas atualmente no mundo. Parte das mutações já foram encontradas em outras cepas e outras são completamente novas, mas o consenso entre os cientistas é de que não é possível responder todas as perguntas sobre a mutação no momento.

Especialistas da OMS denunciaram que o surgimento da nova mutação pode ser considerado um reflexo do “apartheid vacinal” vivido no mundo. De acordo com a plataforma Our World In Data, enquanto 53,9% de toda a população mundial recebeu pelo menos uma dose do imunizante contra a Covid-19 e alguns países estão aplicando terceiras doses em seus cidadãos, apenas 5,6% da população das nações pobres foi parcialmente vacinada até o momento. Na África do Sul, cerca de 23% das pessoas estão totalmente imunizadas, o que mostra uma desigualdade na distribuição, mas levanta a esperança de que o vírus não se espalhe com tanta facilidade em populações que aderiram mais às vacinas, como o Brasil.

Infecções encontradas fora da África

Na manhã desta sexta-feira, 26, poucas horas após o anúncio da nova variante, o Ministério da Saúde de Israel anunciou que detectou um caso da B.1.1.529 em um viajante vindo do Malaui. O órgão também informou que outros dois casos em pessoas que chegaram do exterior são investigados enquanto os viajantes estão em confinamento obrigatório. Todos os três casos (suspeitos e confirmado) ocorreram em pessoas vacinadas. O estado de saúde delas não foi divulgado. O segundo caso confirmado da mutação fora da África foi registrado em Hong Kong e na Bélgica, o caso confirmado foi de uma mulher “adulta, jovem, que não se vacinou contra a Covid-19” e tinha feito uma viagem ao Egito. Fora da África do Sul, que tem 77 casos confirmados, quatro registros foram feitos em Botsuana.

Países bloqueiam a entrada de viajantes

Os primeiros países europeus que impuseram restrições aos viajantes do sul da África foram o Reino Unido, Alemanha e Itália. No fim da tarde desta sexta-feira, porém, todo o bloco da União Europeia firmou um acordo para que os voos vindos da África do Sul, Lesoto, Botsuana, Zimbábue, Moçambique, Namíbia e eSwatini fossem suspensos. Além disso, os membros da UE concordaram que os residentes europeus destes países que têm direito a entrar na UE devem ser submetidos a testes e a um período de quarentena. Decisões semelhantes também foram tomadas pelo Canadá e pelo Japão, que anunciou que obrigará todos os viajantes do sul africano a passarem 10 dias de quarentena em um espaço designado pelo governo após chegada no país e a Rússia aplicou a restrição não apenas ao sul da África, mas também a Hong Kong e à ilha de Madagascar.

No fim da tarde, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também se reuniu com conselheiros do governo e decidiu impor restrições à entrada de estrangeiros em voos vindos da África do Sul, Botsuana, Zimbábue, Namíbia, Lesoto, Eswatini, Moçambique e Malaui. Cidadãos do país e estrangeiros com visto de residência permanente poderão entrar no país. “Esta é uma medida de precaução tomada até que tenhamos mais informações”, afirmou o democrata, que também sugeriu que pessoas não vacinadas aproveitassem para se imunizar. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou nota recomendando que o governo brasileiro aplicasse medidas de restrição a voos vindos da África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue. O documento sugere a suspensão imediata de todos os voos vindos dos países, a suspensão temporária da autorização do desembarque de estrangeiros que passaram por algum desses países nos últimos 14 dias e a realização de quarentena para os brasileiros que tenham passado pelos locais. É necessário, porém, uma decisão conjunta entre as pastas do governo federal para que essa recomendação entre em prática.

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