Gás natural fica 39% mais caro a partir de hoje; veja como o aumento pesa no seu bolso

Reajuste deve ser repassado para os produtos que usam o insumo como base, mas também vai influenciar no encarecimento de outros itens que têm a fonte de energia inserida na cadeia produtiva

  • Por Gabriel Bosa
  • 01/05/2021 09h00
Agência Petrobras/Divulgação Valor do gás natural está atrelado a variação do petróleo no mercado internacional Alta de 8,5% do dólar no primeiro trimestre e disparada do barril de petróleo impactaram no encarecimento do gás natural

A Petrobras vai aumentar em 39% o valor do gás natural a partir deste sábado, 1º, cumprindo o aviso divulgado no início de abril. Apesar da alta do metro cúbico ser destinada aos distribuidores, o impacto do reajuste será sentido no cotidiano das pessoas, principalmente de forma indireta. O aumento é esperado aos produtos que usam o gás natural como insumo-base, mas também vai influenciar no encarecimento de outros itens que têm a fonte de energia inserida na cadeia produtiva. Esta lista é bastante abrangente e inclui desde o cultivo agrícola à montagem de carros, passando pela produção de garrafas de vidro, caixas de papelão e itens da construção civil. O tamanho deste aumento e, principalmente, quando ele vai chegar, dependem muito de cada setor, mas especialistas afirmam que em alguns itens o valor mais alto será percebido ainda neste semestre. O efeito imediato da mudança será sentida por uma pequena parte da população, já que apenas grandes centros e áreas elitizadas possuem estrutura para distribuir o gás encanado para residências. Para este público, o aumento já pode ser visto na próxima fatura do gás, de acordo com a política de reajustes da companhia responsável pela distribuição.

A produção industrial, parte do tripé que compõe o Produto Interno Bruto (PIB), é destino de 43% do gás natural no país, segundo dados da Associação das Empresas de Gás Canalizado (Abegás). O recurso natural é usado para a produção de uma série de categorias, com destaque para fertilizantes, siderurgia, papel e celulose, química e de cimento. Além do impacto direto nesses produtos, Renato Veloni, especialista em planejamento financeiro e professor de macroeconomia e finanças no Ibmec, afirma que o reflexo do aumento se expandirá para outras cadeias de forma indireta. “O tomate pode ficar mais caro, já que o produtor deve repassar o aumento que terá no fertilizante. Com o aumento para a siderurgia, o aço vai ficar mais caro, e isso impacta na produção de veículos”, explica. “É dessa forma que a maior parte dos consumidores vai sentir, e não vai ter para onde fugir. Pode levar algum tempo, entre dois e quatro meses, para que esse reajuste seja percebido. Mas, independente de quando, o valor do aumento será embutido.”

Os consumidores também vão sentir o reajuste no encarecimento da conta de luz, já que 38% do gás natural distribuído no Brasil desemboca nas usinas termelétricas. A participação do gás na geração de energia varia por uma série de fatores, como períodos de seca que forçam a redução do uso de hidroelétricas — a principal matriz energética do país —, e impactam no aumento do uso da produção de energia com base na queima de recursos, como o carvão e o gás natural. Dados do Ministério de Minas e Energia mostram que entre 2016 e 2019, o gás natural teve média de 10% no total da produção termoelétrica. “Não podemos esperar que essa alta de 39% seja repassada na íntegra na conta de energia. A expectativa é que essa alta seja mais diluída, na casa de 10%”, afirma Veloni.

Assim como a gasolina, que já acumula alta de 40,7% em 2021, e o diesel, que soma avanço de 34,1%, o valor do gás natural também está atrelado à variação do petróleo no mercado internacional, que é cotado em dólar. Em 2020, com o tombo histórico no valor do barril, o gás natural chegou a sofrer queda de 35%. Em nota, a Petrobras afirmou que o preço do gás para os meses de maio a julho é referenciado na variação de janeiro a março, quando o barril do petróleo teve alta de 38% em meio ao processo de reabertura das economias ao redor do mundo. Além disso, o dólar registrou avanço de 8,5% no primeiro trimestre, pressionado principalmente pela fuga de investidores em meio aos riscos políticos e fiscais do Brasil e o agravamento da crise do novo coronavírus. Maurício Canêdo, professor da Fundação Getúlio Vargas, afirma que o aumento expressivo de uma única vez é resultado da limitação trimestral do preço do gás, enquanto a gasolina e o diesel podem sofrer reajustes a qualquer momento. “O petróleo vai continuar subindo com a retomada das economias, e esse processo deve ser intensificado pelo aumento da vacinação. A pressão é que o valor do gás fique ainda mais valorizado”, diz.

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