Inflação ganha força em outubro e acumula alta de 10,6% em 12 meses

IPCA registra alta de 1,25%, ante avanço de 1,16% em setembro; variação foi puxada pelo encarecimento dos combustíveis e dos alimentos

  • Por Jovem Pan
  • 10/11/2021 09h06 - Atualizado em 10/11/2021 10h44
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Arte/Jovem Pan inflação outubro

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ganhou força em outubro ao registrar alta de 1,25%, ante avanço de 1,16% em setembro, segundo dados divulgados nesta quarta-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior variação para o mês desde 2002, quando registrou alta de 1,31%. O resultado, puxado pela alta dos combustíveis e dos alimentos, leva o indicador oficial da inflação doméstica a 10,67% no acumulado de 12 meses, mantendo o IPCA acima de dois dígitos na trajetória iniciada no mês anterior, quando foi a 10,25%. Este é o resultado mais expressivo para o período desde janeiro de 2016, quando foi a 10,71%. No ano, o IPCA soma alta de 8,24%. Em outubro de 2020, a inflação avançou 0,86%. O saldo acumulado aprofunda o descolamento da meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central (BC) em 2021, com variação de 1,5 ponto percentual, ou seja, entre 2,25% e 5,25%. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), visto como a inflação dos mais pobres, avançou 1,16%, contra 1,20% em setembro, e também é o maior para o mês desde 2002. O indicador, que é usado como referência para reajustes do salário mínimo e benefícios do INSS, acumula, no ano, alta de 8,45%, e em 12 meses, de 11,08%. Em outubro de 2020, a taxa foi de 0,89%.

Todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em outubro, com destaque para os transportes (2,62%), principalmente, por conta dos combustíveis (3,21%). A gasolina subiu 3,10% e teve o maior impacto individual no índice do mês. Foi a sexta alta consecutiva nos preços, que acumula 38,29% de variação no ano, e 42,72% nos últimos 12 meses. “Transportes tiveram a maior variação e o maior impacto de longe no índice do mês, afirma o gerente do IPCA, Pedro Kislanov. A alta é reflexo dos sucessivos aumentos dos preços cobrados nas refinarias pela Petrobras e faz o litro da gasolina encostar em R$ 8 em cidades do Rio Grande do Sul. Além da gasolina, houve aumento também nos preços do óleo diesel (5,77%), do etanol (3,54%) e do gás veicular (0,84%).

Ainda no grupo dos transportes, as passagens aéreas registraram avanço de 33,86%, com alta em todas as regiões pesquisadas. “A depreciação cambial e a alta dos preços dos combustíveis, em particular do querosene de aviação, têm contribuído com o aumento das passagens aéreas. A melhora do cenário da pandemia, com o avanço da vacinação, levou a um aumento no fluxo de circulação de pessoas e no tráfego de passageiros nos aeroportos. Como a oferta ainda não se ajustou à demanda, isso também pode estar contribuindo com a alta dos preços”, explica Kislanov. Outro destaque foi a aceleração dos preços do transporte por aplicativo (19,85%), que já haviam subido 9,18% em setembro. Os automóveis novos (1,77%) e usados (1,13%) também seguem em alta e acumulam, em 12 meses, variações de 12,77% e 14,71%, respectivamente.

Os preços também avançaram no grupo dos alimentos e bebidas (1,17%), segunda maior contribuição no IPCA, puxado pelas altas no tomate (26,01%) e na batata-inglesa (16,01%), que fizeram acelerar a alimentação no domicílio (1,32%). “Esse aumento no tomate e na batata decorre da redução da oferta devido ao frio e às chuvas”, afirma Pedro Kislanov. Também subiram o café moído (4,57%), o frango em pedaços (4,34%), o queijo (3,06%) e o frango inteiro (2,80%). Por outro lado, recuaram os preços do açaí (-8,64%), do leite longa vida (-1,71%) e do arroz (-1,42%). A alimentação fora do domicílio passou de 0,59% em setembro para 0,78% em outubro, principalmente por conta do lanche (1,31%), que havia apresentado variação negativa no mês anterior (-0,35%). A refeição (0,74%), por sua vez, desacelerou frente ao resultado de setembro (0,94%).

No grupo habitação (1,04%), mais uma vez, a alta foi influenciada pela energia elétrica (1,16%), apesar da desaceleração em relação a setembro (6,47%). “Em outubro, foi mantida a bandeira Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos. Houve ainda reajustes tarifários em regiões com peso significativo no IPCA, como Goiânia, São Paulo e em Brasília”, acrescenta o gerente do índice. O gás de botijão (3,67%) também subiu pelo 17º mês consecutivo em outubro, acumulando alta de 44,77% desde junho de 2020. Nos outros grupos do IPCA, o vestuário avançou 1,80%, a segunda maior variação do índice no mês, com altas em todos os itens pesquisados. Os artigos de residência variaram 1,27%. O grupo da educação subiu 0,06%, enquanto as despesas pessoais avançaram 0,75%.

A aceleração da inflação é puxada principalmente pela variação de preços administrados, como a energia elétrica e os combustíveis, em meio ao quadro de forte desvalorização do real ante o dólar, alta no preço das commodities e crise hídrica. O mercado financeiro projeta que o IPCA encerre o ano em 9,33%, segundo previsão do Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 8. Na semana passada, a estimativa apontava para alta de 9,17%. A constante revisão para a variação de preços deste ano já contaminou as expectativas de 2022. Para o ano que vem, a mediana da pesquisa feita pelo Banco Central aponta inflação a 4,63%, ante 4,55% na edição da semana passada. A autoridade monetária persegue a meta de 3,50% em 2022, com piso de 2% e teto de 5%.

A deterioração das expectativas da inflação foram reforçadas pelo aumento do risco fiscal com o apoio do governo federal na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios. O texto, que foi aprovado em segundo turno pela Câmara dos Deputados na noite desta terça-feira, 9, e agora segue para o Senado, autoriza o adiamento do pagamento das dívidas do Executivo, muda as regras do teto de gastos e dá base financeira para o governo elevar as parcelas do Auxílio Brasil a R$ 400 por mês até dezembro de 2022. Em resposta, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC acelerou a alta dos juros ao acrescentar 1,5 ponto percentual e elevar a Selic para 7,75% ao ano na reunião de outubro. Em ata, a autoridade monetária sinalizou novo aumento de mesma magnitude no encontro de dezembro, o último de 2021, encerrando o ano com os juros em 9,25%. Para analistas, o BC deve manter o ritmo de alta até o fim do ciclo, projetado para até março de 2022, com a Selic próxima de 11%. A autoridade monetária reconheceu que o movimento deixa a taxa em patamar “significativamente contracionista” — quando os juros dificultam as atividades econômicas. Essa mudança levou à revisão da expectativa do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 para 1%, com análises mais pessimistas indicando recessão no próximo ano.

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