Investimento em poupança bate recorde em meio à pandemia
Em julho, captação da caderneta foi R$ 27,1 bilhões maior do que retirada, aponta BC; disparada é reflexo da busca dos investidores por opções mais seguras diante das incertezas causadas pela crise
Diante das incertezas da crise gerada pelo novo coronavírus, muitos investidores fugiram da instabilidade da renda variável e aportaram os seus recursos em opções mais conservadoras — mesmo que isso signifique menos rentabilidade. A disparada da caderneta de poupança nos últimos meses é um dos reflexos desta mudança de comportamento. Em julho, os os investidores depositaram R$ 27,14 bilhões a mais do que retiraram da aplicação, informou o Banco Central (BC), nesta quinta-feira, 6. Esse é o maior saldo para o mês desde o início da série histórica, em 1995. Em julho de 2019, os investidores retiraram R$ 1,61 bilhão a mais do que o depositado.
A caderneta de poupança acumulou entrada líquida de R$ 111,58 bilhões nos sete primeiros do ano. O saldo iniciou 2020 no vermelho, com diferença de R$ 15,93 bilhões entre o retirado e depositado pelos brasileiros em janeiro e fevereiro. A partir de março, quando os impactos da Covid-19 começavam a ser precificados pelos especialistas, a chave virou, e a poupança passou a acumular mais entrada do que saída. Em junho, o saldo foi de R$ 20,53 bilhões a mais para captações, enquanto maio registrou R$ 37,2 bilhões. Os resultados também foram os maiores para os meses desde o início da série histórica. O interesse dos brasileiros na caderneta se mantém apesar da recuperação da bolsa de valores nos últimos meses e da melhora das condições de outros investimentos, como títulos do Tesouro.
A alta da poupança ocorreu mesmo em meio aos sequentes cortes da Selic praticado pelo BC para mitigar os efeitos da crise. Nesta quarta-feira, 5, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa básica de juros brasileira a 2% ao ano, o nível mais baixo da história. Desde 2012, 70% do valor da poupança é atrelado a Selic. Com o novo corte, a caderneta passou a render aproximadamente 1,6% ao ano, valor menor do que a inflação. Para este ano, o boletim Focus, pesquisa com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, prevê inflação oficial de 1,63% pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com a atual fórmula, a poupança renderia 1,4% este ano, caso a Selic de 2% ao ano estivesse em vigor desde o início do ano. No entanto, como a taxa foi sendo reduzida ao longo dos últimos meses, o rendimento acumulado será um pouco maior.
Tradicionalmente, a poupança é o investimento mais popular entre os brasileiros. A caderneta sempre encerrou o ano com mais entrada do que saída até 2014. A situação mudou em 2015, com o arrefecimento da crise econômica, queda da renda e aumento do desemprego. O saldo fechou aquele ano com R$ 53,57 bilhões a mais sacados, a maior retirada líquida da história. Em 2016, os saques superaram as entradas em R$ 40,7 bilhões. O cenário inverteu em 2017, quando os depósitos superaram em R$ 17,12 bilhões os saques, e em 2018, com captação líquida de R$ 38,26 bilhões. Em 2019, a poupança registrou captação líquida de R$ 13,23 bilhões.
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