Open Insurance deve baratear custo dos seguros e aumentar oferta, mas sofre críticas

Novo serviço que compartilha dados de segurados vai entrar em vigor a partir de dezembro; confederação de empresas diz que prazo é insuficiente para garantir a segurança das informações

  • Por Gabriel Bosa
  • 03/10/2021 08h00
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Kalhh/Pixabay seguro arte Habilitação do Open Insurance aumentará o acesso aos serviços de seguro

O mercado de seguros brasileiro se prepara para uma série de mudanças que promete aumentar a variedade dos serviços, oferecer produtos de maior qualidade e baratear os custos aos consumidores. Controlado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), o Open Insurance, ou “seguro aberto”, em tradução livre, vai permitir que empresas e cooperativas compartilhem entre si os dados de clientes — mediante a autorização expressa para essa exposição. A “democratização” dessas informações multiplica as opções de relacionamento entre as prestadoras de serviços e os consumidores. Entre as vantagens apontadas pelos entusiastas da ideia, está a possibilidade de ofertar produtos específicos, baseados em dados individuais, como gastos no cartão de crédito, o estado civil e a composição familiar. A tecnologia também vai mudar as formas de adquirir os seguros, trazendo maior competitividade ao mercado. Assim como o Open Banking, o programa controlado pelo Banco Central (BC) e que autoriza a troca de informações de clientes entre as instituições financeiras, o Open Insurance será habilitado de forma escalonada. A implementação do sistema foi dividida em três fases, com a primeira em dezembro deste ano. A conclusão está prevista para dezembro de 2022. O prazo de adequação é a principal crítica ao novo sistema. Para especialistas, um ano não é o suficiente para que a tecnologia seja absorvida pelo mercado, o que pode prejudicar a efetividade e a segurança do modelo. Confira abaixo os principais pontos para entender a nova tecnologia:

O que é o Open Insurance e como ele vai funcionar?

A Susep, vinculado ao governo federal, define o Open Insurance como “um ambiente que possibilita o compartilhamento padronizado de dados e serviços por meio de abertura e integração de sistemas. A operacionalização deste compartilhamento é atingida por meio do estabelecimento de padrões tecnológicos”. De forma prática, quer dizer que as entidades que prestam serviços de seguro e previdência, como empresas, seguradoras e bancos, “abrirão” os dados de clientes em uma plataforma para que todos tenham acesso às informações. Segundo a Susep, esse movimento leva ao aumento de inovação e qualidade ao setor. “O sistema trará mais concorrência, a partir de um ambiente padronizado de empresas que permitirá que as empresas busquem mais facilmente novos nichos, consumidores, e inovação, gerando benefícios para os clientes”, informa a Susep.

Quais dados serão compartilhados?

Assim como todas as outras plataformas e entidades que reúnem dados de terceiros, o Open Insurance também deve se adequar à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que obriga a adoção de processos mais seguros e transparentes para o tratamento, proteção, compartilhamento ou divulgação de informações pessoais. Em termos gerais, os dados só serão compartilhados entre as prestadoras de seguro com a autorização dos clientes, que pode vetar parcial ou totalmente a exposição das informações. “Para haver o compartilhamento, o consumidor indicará quais dados serão compartilhados entre a sociedade transmissora e a receptora. O ambiente verificará e autenticará a sociedade receptora, como sociedade participante, e também haverá a autenticação do próprio consumidor, além de uma etapa de confirmação do compartilhamento. Todas estas etapas proverão a segurança e a privacidade necessárias para o compartilhamento dos dados e serão feitas de forma ágil e conveniente para o titular do dado”, segundo a Susep.

Quais os benefícios para as empresas e para os clientes?

As prestadoras de serviço terão à disposição dados de concorrentes, e assim podem oferecer produtos melhores e preços mais atraentes para “roubar” os clientes. Ao mesmo tempo, elas também terão seus dados expostos, o que deve forçar à melhoria dos serviços para que os seus usuários não virem alvo de outras empresas. Para Carla Nabarrete, diretora de marketing da gestora de seguros Wiz Soluções, as mudanças vão impactar no crescimento do setor. “O mercado de seguros pode ser maior a partir do momento em que as empresas conseguirem ofertar algo que faça sentido aos consumidores e criem possibilidade de oferecer um produto supersegmentado”, afirma. Na outra ponta, ela diz que as mudanças trazem mais “empoderamento” aos clientes na hora da busca por um serviço de seguro. “O sistema vai democratizar o acesso de ofertas mais adequadas e a comparação de preços. Essas mudanças levam à redução de preços para quem está adquirindo o serviço“, afirma. Segundo João Bosco, CEO da plataforma de soluções digitais GR1D, as mudanças também podem mudar a forma de as empresas oferecerem seus produtos. “Em alguns momentos, a venda do seguro é provocava no momento errado. Por exemplo, os seguros de viagens não deveriam ser ofertados na hora da compra da passagem, mas na hora do embarque. Assim, a taxa de conversão seria muito maior. As novas tecnologias e modelos regulatórios que a Susep está permitindo vão criar esse tipo de impacto”, afirma. 

Quais as principais críticas ao Open Insurance?

A Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), que reúne mais de 180 empresas e prestadoras de serviço, se mostra favorável ao novo modelo, mas afirma que a habilitação está sendo feita de forma equivocada. Para Marcio Coriolano, presidente da entidade, o intervalo de um ano para a adequação das empresas é pequeno diante de todos os desafios. “Uma coisa tão complexa não pode ter pressa. São mudanças de tecnologia, de sistemas de dados e até de governança interna para a proteção dessas informações. Correr com essas etapas pode prejudicar a efetividade e a segurança do sistema”, diz. A entidade também critica a exclusão dos corretores de seguro das discussões para mudanças. “Muitas pessoas não têm acesso à internet ou toda essa tecnologia do Open Insurance. É preciso ter alguém que possa ajudá-las, e pleiteamos que o corretor de seguros seja um dos agentes que devem participar desse sistema”, afirma Coriolano.

Quando o Open Insurance estará disponível?

Assim como o Open Banking, o programa controlado pelo Banco Central (BC) e que autoriza a troca de informações de clientes entre as instituições financeiras, o Open Insurance será habilitado de forma escalonada. A Susep dividiu a implementação em três fases, distribuídas entre dezembro de 2021 e dezembro de 2022:

  • A primeira fase prevê somente o compartilhamento de alguns dados públicos das empresas, que vão desde seus canais de atendimentos até informações sobre seus produtos;
  • A segunda fase prevê o compartilhamento de dados pessoais de consumidores e possui previsão de início em setembro de 2022. Nessa etapa, serão compartilhadas informações de consumidores — mediante autorização — relacionadas a dados cadastrais, produtos de seguros que possuem e sua utilização deles;
  • E, por fim, na terceira fase, prevista para dezembro de 2022, poderão ser iniciados serviços de seguros pelos consumidores no Open Insurance, outro ponto de semelhança com o Open Banking.
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