Ovos de Páscoa estão mais caros neste ano com a alta do dólar e do cacau

Pesquisa aponta aumento de 11%, em média, para os tradicionais ovos de chocolate; para driblarem a escalada do custo de produção, indústrias apostam na estratégia da diversificação de produtos

  • Por Gabriel Bosa
  • 21/03/2021 10h00
Marcelo Camargo/Agência Brasil Apesar de aumento dos preços, associação de supermercados estima alta de 15%nas vendas, na comparação com a Páscoa de 2020 Apesar de aumento dos preços, associação de supermercados estima alta de 15% nas vendas, na comparação com a Páscoa de 2020

A Páscoa deste ano será menos doce – e não é apenas pelo fato de estarmos no meio de uma pandemia. Os ovos de Páscoa estão em média 11% mais caros neste ano, enquanto os preços de bombons e barras de chocolate aumentaram 10%, aponta pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). O preço mais amargo é reflexo de uma série de fatores, que passam desde o dólar valorizado até o aumento da cotação do cacau no mercado internacional e o encarecimento do plástico e do papel que embalam os doces. “O reajuste está acima dos anos anteriores, quando se observava alta entre 5% a 8%”, afirma Marcio Milan, vice-presidente da Abras. Os ovos de chocolate de até 200 gramas — os mais tradicionais — lideram a alta com reajuste de 11,1% na comparação com o ano passado. Já a categoria de 201 gramas a 500 gramas está 10,9% mais caro, enquanto ovos acima de meio quilo aumentaram 11% no valor. As caixas de bombons, que muitas vezes substituem os ovos por causa do preço mais em conta, estão 10,7% mais caras. Chocolates em barra sofreram reajuste de 9,9%.

A constante alta do dólar é apontada como um dos principais fatores que puxam os preços para cima. Somente neste ano, a moeda norte-americana já registrou valorização de 5,72%, impactando no aumento de custos para a compra de insumos que compõem a linha de produção dos doces. Em paralelo, o preço do cacau sofreu uma série de reajustes no mercado internacional, principalmente no último trimestre de 2020, o que faz o valor acumular alta de aproximadamente 12% nos últimos 12 meses. Apesar de o Brasil ser um dos principais produtores da matéria-prima do chocolate no mundo, a sua precificação em dólar também incide no mercado doméstico. Já o preço das embalagens encareceram 30% no último ano, segundo dados da Associação Brasileira de Embalagens (Abre). Essa alta também cai na conta do dólar valorizado, já que que resinas e outros insumos são baseados na moeda norte-americana, além da falta de estoques por causa das paralisações da indústria devido a medidas de restrições adotadas em 2020.

Se para os consumidores o preço do chocolate ficou mais salgado, a conta é também pesada para as indústrias, que viram o custo da produção aumentar até 25% neste ano na comparação com 2020. É o caso da Cacau Show, uma das maiores fabricantes de chocolates do Brasil e com abrangência em todo o território nacional. Diante do aumento, o CEO da rede, Alexandre Costa, aposta na expansão da produção como meio de mitigar a transferência do custo aos consumidores, que deve chegar a 5% neste ano. “Nós conseguimos segurar o repasse aumentando a produção e a eficiência. Temos feito um grande esforço para não reajustar neste momento de grande rentabilidade”, afirma. E as apostas estão altas. Na comparação com a Páscoa de 2021, Costa estima incremento de 15% nas fábricas de chocolate, além da abertura de 500 novas unidades até dezembro.

Além do avanço no atendimento aos clientes, a Cacau Show também investiu na diversificação dos produtos para amealhar consumidores de diferentes perfis. “Estamos com um mix de produtos maior, com preço em diversas categorias”, afirma o CEO. A estratégia também é adotada por outras fábricas de chocolate para driblar o alto custo dos produtos. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), o mercado deve contar com 95 novos produtos neste ano, incluindo diferentes tamanhos de ovos e opções para consumidores com restrições alimentares. “Podemos esperar uma ampla variedade de produtos para o atendimento dos diversos perfis e necessidades dos consumidores, incluindo opções em diferentes tamanhos, linhas zero lactose, zero açúcar, amargo, meio amargo, ao leite e, claro, aposta em embalagens para presentes”, informou a entidade.

Aumento no consumo

Apesar do encarecimento dos produtos, dados da Abras apontam para alta de 15% nas vendas em comparação com a Páscoa de 2020, que coincidiu com o início do agravamento da pandemia da Covid-19 no país. “Houve muitas mudanças, as lojas estão mais planejadas e as empresas mais preparadas. Tivemos o aumento do comércio eletrônico, que no ano passado poucas conseguiram se adequar, além de mudanças dentro das lojas para segurança dos consumidores”, afirma Milan. Para Costa, da Cacau Show, o último ano foi de aprendizado e adequação dos negócios, que devem trazer retorno neste momento. “No ano passado, fomos pegos de surpresa pela pandemia. Agora temos um e-commerce bem preparado, com mais vendas digitais e serviço de delivery”, diz.

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